Beto, afilhado do Mais Que Prefeito, discursava: Púberes, moços e senis a vós sois digno de tantas contendas e insultos, instalou-se aqui o próprio espírito maquiavélico, acrisolador dos ideais democráticos? A praça, não obstante o prenúncio de chuva, fervilhava de gente. Via-se, daqui e dali, empurra-empurras, pontapés, matraquear de bocas famintas, fogos a precipitarem-se numa explosão de cor e beleza. Os problemas são contornáveis na fé, na esperança e, principalmente, na certeza do vislumbro de um mundo mais benévolo, cordial e feliz, prosseguia Beto. Foi quando, entre vaias e apupos, alguém se manifestou. Ora, era Abelardo, meio poeta, meio filósofo, inteiramente avesso à falácia, claro, não deixaria por menos. A botes e quedas subiu do palco, arregaçou das mangas, arfou do peito e lascou: Belos são os discursos quando livres do ajardinamento mental; que floresçam e vicejem as flores não no solo infértil da hibernação! Continua que continua, sem que as pessoas que assistiam ao showmício pouco ou quase nada entendessem, disse, enfim, Abelardo: Despertem! Acordemos esse urso ou o deixemos dormir? Despertem! Com cara de sono, discursaram, ainda, a senatriz Helô, o deputado Neto, a primeira dama e, por último, depois de a chuva passar, com a praça vazia, sem um pingo de gente, o padrinho do candidato Beto - O Orador Mais Que Prefeito - como diz e escreve o anônimo Florisvaldo Florido, gente boa daquelas paragens e que sabe muito. Tudo a respeito da familiar Monte Campos
Ricardo Batista * |
* Ricardo Batista nasceu em Teresina. É servidor público. Foi vencedor, na categoria Poesia, do Concurso Literário Novos Autores da Fundação Cultural Monsenhor Chaves , Edição 2009, com o livro Passeio Público.
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