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domingo, 31 de julho de 2011

Falar Merda - de Harry G. Frankfurt

Resenha do livro Falar Merda de Harry G. Frankfurt

Resumo: Sobre falar merda apresenta uma aproximação na busca de significado da prática cotidiana em nossa cultura de falar merda. Visto por Frankfurt não existir uma teoria específica para o ato. Em sua obra propõe a essência do falar merda , finalizando com a resposta possível para as pessoas falarem tanta merda. Uma tentativa de não falar merda. Uma das marcas mais visíveis de nossa cultura é que se fale tanta merda. Sobre Falar Merda é o que Harry G. Frankfurt busca em seu livro. Na intenção de um possível significado sobre a merda falada rotineiramente, sem cair também no pecado e falar ao mesmo tempo merda. Falar merda é uma prática cotidiana, a pergunta que manifesta o autor, é que objetivo impulsiona o ser para que este artifício prolifere na sociedade. No desenvolvimento coerente do livro o autor explora algumas aproximações no conceito de falar merda. A falação, a mentira, o blefe. Mais próximo do blefe, por envolver tapeação, e não tão próximo da mentira. O falar merda apesar da falta de preocupação com a verdade, não é necessariamente um afirmação falsa. A falação aproxima-se do conceito de falar merda, pela característica da falta de exatidão com a verdade, e seu vazio sem substância. O exemplo deste último pode-se observar um grupo que promove falação sobre desempenho de seu time de futebol preferido. Manifestam idéias e atitudes, não necessariamente revelando suas crenças ou sentimentos profundos. É notável a originalidade de Frankfurt ao expor a merda, e não impostura, expelida em momentos da comunicação. Não permite inclinar-se a vulgaridade que possa remeter a expressão. Trata-se de um fenômeno lingüístico. Leva análise da falta de preocupação das pessoas na estrutura do discurso , não pela sua composição gramatical, mas exclusão de detalhes em fatos pertinentes. Ter em mente que se fala merda requer atenção e disciplina, um esforço interior, sugere o autor. No avançar das palavras, o leitor coloca sua expressão em auto-análise, na busca de indícios de um falador de merda. Cada indivíduo faz sua parte no que diz respeito ao assunto. Portanto o autor adquire profundidade e abrangência a todos que fazem uso da linguagem, escrita ou oral, na arena das relações humanas. Claro, aqueles que primeiramente identificam o problema. Na arena da propaganda, meio de informação e principalmente na política, pode ver muito do falar merda. Engloba muitas vezes não só a mentira, como diz a grande massa, pois alguns não têm a mínima idéia de buscar ou conhecer a verdade. Logo não mentem, falam merda, para conquistar coisas. O caminho por este artifício proporciona mais liberdade a quem fala. Não necessita todo rigor, toda estrutura quando se argumenta na busca da realidade. Além do excremento quando expelido ganhar misteriosamente um afeto se comparado a mentira. Essa última quando disparada representa um ofensa pessoal, uma afronta, o que desagrada as pessoas, que revelam preferir a tapeação. O ato de falar merda, alerta Frankfurt, é pior que a mentira. Visto anteriormente que as pessoas são mais relevantes para esta prática. No entanto o autor argumenta perfeitamente esclarecendo. Enfim, a resposta da questão de Harry G. Frankfurt, finalizando corretamente sua hipótese, porque se fala tanta merda. Na atual estrutura da sociedade, individualista, competitiva e democrática as pessoas são diariamente bombardeadas com situações inusitadas. O todo deve posicionar-se sobre questões que o envolvem. Normalmente reside na arena de discurso a total falta de conhecimento do fato em questão. O tema cruza muitas vezes pelo nosso cotidiano. Mas pela total descrença de possibilidades objetivas nunca fora dado atenção. Antigamente chamávamos esta prática de encher lingüiça, reformulado por Frankfurt, percebe-se que a lingüiça contém em si miúdos, carne e gordura, logo nutrientes. Desmerecendo o uso desta, substituída por excremento, merda, que não traz absolutamente nenhum nutriente, nenhuma riqueza. Chega então à profundidade do autor, ao provocar este conjunto de pensamentos e revisões. Talvez seu objetivo fosse à observação e correção do vício de falar tanta merda.




Foto da Semana
Foto: Cinéas Santos




Acontecendo em Teresina




Fotopoema



Poemartemanhas



É PRECISO

                               IVO BARROSO


É preciso ser duro
Como a pedra
Como a pedra que parte
Como a parte da pedra
Que penetra a parede
E a parte
Como a rede que não vaza
Como o vaso que não quebra
Como a pedra que fende
O paredão da casa
E é preciso ser fraco
É preciso ter ciso
E simulacro  é preciso
Todos os dias vencer
Os deuses/pigmeus/Golias
É preciso ter cara
E ter coragem
É cada vez mais raro
Quem assim reage
É preciso ser duro
Como o muro
Como o muro
E é preciso ser doce
Como se anteparo
De vidro
O muro fosse
É cada vez mais raro
Ser duro e doce
Cada vez mais torpe
Ser apenas duro
Cada vez mais nulo
Ser apenas doce
Cada vez mais raro
Cada vez mais duro
Ser o muro e a nuvem
Como se um só fosse.


Filosofando


O homem natural é corrompido pela civilização – “Tudo está bem ao sair das mãos do autor; tudo degenera nas mãos dos homens” Rousseau

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Solidão - Fátima Irene Pinto

Solidão não é a falta de gente para conversar,
namorar, passear ou fazer sexo...
isto é carência.

Solidão não é o sentimento que experimentamos
pela ausência de entes queridos que não podem
mais voltar...
isto é saudade.

Solidão não é o retiro voluntário que a gente
se impõe as vezes, para realinhar os pensamentos...
isto é equilíbrio.

Tampouco é a pausa involuntária que o destino
nos impõe compulsoriamente, para que revejamos a
nossa vida...
isto é um princípio da natureza.

Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado...
isto é circunstância.

Solidão é muito mais que isto...

Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos
e procuramos em vão, pela nossa Alma!



Fotopoema 

                          
 "Está provado que só é possivel filosofar em alemão"
                                                       Tradução: Thaisa Oliveira


Filosofando



Poemartemanhas

Os cisnes   (Júlio Salusse)
     
A vida, manso lago azul algumas
Vezes, algumas vezes mar fremente,
Tem sido para nós constantemente
Um lago azul sem ondas, sem espumas,
Sobre ele, quando, desfazendo as brumas
Matinais, rompe um sol vermelho e quente,
Nós dois vagamos indolentemente,
Como dois cisnes de alvacentas plumas.
Um dia um cisne morrerá, por certo:
Quando chegar esse momento incerto,
No lago, onde talvez a água se tisne,
Que o cisne vivo, cheio de saudade,
Nunca mais cante, nem sozinho nade,
Nem nade nunca ao lado de outro cisne!




Foto da Semana






Acontecendo em Teresina

Trabalhador Teresinense






terça-feira, 19 de julho de 2011

Macaquice lingüística - Pasquale Cipro Neto

....Cá estou eu, ocupando este espaço que o Professor Juarez me confia. E não deixo por menos! Quero começar gritando contra nosso incrível complexo de inferioridade, verdadeira macaquice, estúpida mania de imitar, ignorantemente, tudo aquilo que os queridos “irmãos do norte” fazem.
....Não basta a verdadeira humilhação a que se submetem os brasileiros nas intermináveis filas do consulado americano, com o intuito de obter o precioso visto para comprar tênis em Miami? Não basta o besteirol lingüístico de gente como Luciano do Valle, que insiste em dizer “arina”, “steidium” e outras tolices, em explícitas demonstrações de colonialismo cultural e de desconhecimento da origem e do significado das palavras? E o incrível Elia Júnior, com o seu “delay”? “Tivemos um pequeno delay na transmissão”, diz o inventor do “É pá e bola!”.
....Um locutor de uma FM anuncia o “Tempra Stail”, burra pronúncia inglesada da palavra italiana “stile”, que significa “estilo”. A Fiat, fábrica italiana, não tem vergonha de sua língua pátria e batiza seus produtos com nomes italianos: “Tempra”, que significa “têmpera”, “Palio”, que significa “estandarte” e é o nome de uma festa típica de Siena e Lucca, “Mille”, que significa “mil” etc. Nós, macacos, não fazemos a mínima questão de pronunciar direito nada que venha de língua estrangeira que não seja o inglês. E mais: encarregamo-nos de inglesar tudo.
....Como se não bastassem todas essas manifestações de americanismo doentio, bobo, sou obrigado agora a agüentar mais uma “novidade”. Foi um querido médico e jornalista de Curitiba, Freitas Neto, um culto e respeitável senhor de 74 anos, que me deu a dica. Perguntou-me se eu já havia notado uma “pérola” que as emissoras brasileiras de televisão adotaram há algum tempo. Trata-se da palavra “vivo”, escrita num canto da tela, para indicar, obviamente, que a transmissão é “ao vivo”. Fui verificar e constatei que o bem-humorado Freitas tinha razão.
....Por que “vivo”? De onde terá vindo a inspiração para tamanha demonstração de criatividade? Claro, da matriz. Como nas emissoras (CNN e companhia bela) aparece “live” (que, ao pé da letra, significa “vivo”), num canto da tela, pronto! Palavra mágica! Se na matriz é uma palavra só, na colônia, na filial, também basta uma palavra. Então o que era “ao vivo” virou simplesmente “vivo”. É melhor colocar “morto”. E terminar com uma inscrição: “Aqui jaz a língua portuguesa, assassinada por basbaques, incultos, presunçosos, vendilhões do templo etc.”
....Existia em São Paulo uma empresa pública conhecida por “CMTC”, sigla que significava “Companhia Municipal de Transportes Coletivos”. A expressão é perfeitamente adequada à estrutura da língua portuguesa: um substantivo, “companhia”, caracterizado pelo adjetivo “municipal” e pela locução adjetiva “de transportes”; por sua vez, o substantivo “transportes”, base da locução adjetiva, é caracterizado pelo adjetivo “coletivos”. Repito que a expressão toda é portuguesíssima. Pois bem, o ex-prefeito de São Paulo resolveu fechar a CMTC, para fundar a “São Paulo Transporte”. Esse nome não é português, é inglês. Em inglês, é possível combinar dessa maneira dois substantivos (London Airport, New York City, Chicago Bulls). A língua portuguesa não combina dois substantivos assim. Em português, seria “Transporte de São Paulo”. E é exatamente aí que mora o perigo. Os lingüistas dizem que uma língua começa a ruir quando sua estrutura começa a ser destruída. Mais uma vez, parabéns aos incultos, basbaques, presunçosos, vendilhões do templo etc.
....Quando a demonstração de ignorância vem do poder público, então, que maravilha! Veja-se o caso da palavra “memorial”. Experimente verificar seu significado em um bom dicionário da língua portuguesa. Em quem você acredita mais? Em José Saramago, monumento vivo da língua portuguesa, ou numa “otoridade” qualquer? José Saramago escreveu a obra-prima Memorial do convento, em que, como o nome diz, relata memórias, fatos memoráveis relativos à construção do Convento de Mafra, encantadora cidade portuguesa. Se você prefere acreditar num de nossos cultos governantes, cuidado! Algum deles, certamente babando diante de algum monumento visto durante uma visita à pátria-mãe (United States of America), voltou à colônia com a palavra certa para batizar monumentos erguidos por aqui. “Memorial”, em inglês, é palavra usada exatamente para isso. “Memorial”, em inglês, significa “monumento comemorativo”. Algum basbaque tupiniquim, deslumbrado com as tranqueiras compradas na Galeria Pajé — desculpem, em Miami —, fez a tradução ao pé da letra. Essa palavra é usada indevidamente no Brasil como sinônimo de monumento (Memorial JK, em Brasília, e Memorial da América Latina, em São Paulo, por exemplo). Dá-lhe colonialismo! Dá-lhe macaquice!
....O que fazer? O buraco é mais embaixo. A solução não é tão simples. A coisa leva muito tempo, ou melhor, levaria muito tempo, se algo já estivesse sendo feito.
( O texto de Pasquale é de 2008. embora esteja atualíssimo)

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Ponte metálica sobre o Rio Parnaíba. Teresina na década de 80

Acontecendo em Teresina
A cidade de Teresina precisa desenvolver projetos para dá esperança aos jovens.


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“Sou um irracionalista apaixonado pela razão”  Caetano Veloso

domingo, 10 de julho de 2011

Carta da Professora Amanda Gurgel

Terça-feira, 5 de julho de 2011

Professora Amanda Gurgel se recusa a receber prêmio de empresários.

Por que não aceitei o prêmio do PNBE
Nesta segunda, o Pensamento Nacional de Bases Empresariais (PNBE) vai entregar o prêmio "Brasileiros de Valor 2011. O júri me escolheu, mas, depois de analisar um pouco, decidi recusar o prêmio.
Mandei essa carta aí embaixo para a organização, agradecendo e expondo os motivos pelos quais não iria receber a premiação. Minha luta é outra.
Espero que a carta sirva para debatermos a privatização do ensino e o papel de organizações e campanhas que se dizem "amigas da escola".
Amanda
Natal, 02 de julho de 2011

Leia a carta na íntegra:
Prezado júri do 19º Prêmio PNBE,
Recebi comunicado notificando que este júri decidiu conferir-me o prêmio de 2011 na categoria Educador de Valor, "pela relevante posição a favor da dignidade humana e o amor a educação". A premiação é importante reconhecimento do movimento reivindicativo dos professores, de seu papel central no processo educativo e na vida de nosso país. A dramática situação na qual se encontra hoje a escola brasileira tem acarretado uma inédita desvalorização do trabalho docente. Os salários aviltantes, as péssimas condições de trabalho, as absurdas exigências por parte das secretarias e do Ministério da Educação fazem com que seja cada vez maior o número de professores talentosos que após um curto e angustiante período de exercício da docência exonera-se em busca de melhores condições de vida e trabalho.

Embora exista desde 1994, esta é a primeira vez que esse prêmio é destinado a uma professora comprometida com o movimento reivindicativo de sua categoria. Evidenciando suas prioridades, esse mesmo prêmio foi antes de mim destinado à Fundação Bradesco, à Fundação Victor Civita (editora Abril), ao Canal Futura (mantido pela Rede Globo) e a empresários da educação. Em categorias diferentes também foram agraciadas com ele corporações como Banco Itaú, Embraer, Natura Cosméticos, McDonald's, Brasil Telecon e Casas Bahia, bem como a políticos tradicionais como Fernando Henrique Cardoso, Pedro Simon, Gabriel Chalita e Marina Silva.
A minha luta é muito diferente dessas instituições, empresas e personalidades. Minha luta é igual à de milhares de professores da rede pública. É um combate pelo ensino público, gratuito e de qualidade, pela valorização do trabalho docente e para que 10% do Produto Interno Bruto seja destinado imediatamente para a educação. Os pressupostos dessa luta são diametralmente diferentes daqueles que norteiam o PNBE. Entidade empresarial fundada no final da década de 1980, esta manteve sempre seu compromisso com a economia de mercado. Assim como o movimento dos professores, sou contrária à mercantilização do ensino e ao modelo empreendedorista defendido pelo PNBE. A educação não é uma mercadoria, mas um direito inalienável de todo ser humano. Ela não é uma atividade que possa ser gerenciada por meio de um modelo empresarial, mas um bem público que deve ser administrado de modo eficiente e sem perder de vista sua finalidade.
Oponho-me à privatização da educação, às parcerias empresa-escola e às chamadas "organizações da sociedade civil de interesse público" (Oscips), utilizadas para desobrigar o Estado de seu dever para com o ensino público. Defendo que 10% do PIB seja destinado exclusivamente para instituições educacionais estatais e gratuitas. Não quero que nenhum centavo seja dirigido para organizações que se autodenominam amigas ou parceiras da escola, mas que encaram estas apenas como uma oportunidade de marketing ou, simplesmente, de negócios e desoneração fiscal.
Por essa razão, não posso aceitar esse Prêmio. Aceitá-lo significaria renunciar a tudo por que tenho lutado desde 2001, quando ingressei em uma Universidade pública, que era gradativamente privatizada, muito embora somente dez anos depois, por força da internet, a minha voz tenha sido ouvida, ecoando a voz de milhões de trabalhadores e estudantes do Brasil inteiro que hoje compartilham comigo suas angústias históricas. Prefiro, então, recusá-lo e ficar com meus ideais, ao lado de meus companheiros e longe dos empresários da educação.
Saudações,
Professora Amanda Gurgel

Veja o vídeo com o depoimento da Professora:


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MÚSICA DOS SEIOS
     ao poeta Paulo Tabatinga


        Francisco Miguel de Moura


Entre o vosso e o meu coração,
Dançais serenamente
A dança mais sublime,
A música mais feliz
Que Deus criou, num sopro,
O mesmo que me obriga    
A seguir sempre a teus pés.

Quão belos sois, dois belos sois!
Ah quem me dera, Deus,
Ter-vos como herança,
De mãos beijadas, e molhar os lábios
Em vossos trinados.

Quando torceis caminho,
As minhas mãos se enervam
Em vez de se alegrarem,
guardando a rigidez do bico,
a maciez da pele,

Quão belos sois, feitos por mãos divinas,
Para humanas mãos, humanos lábios,
Para guardares, em leite e mel,
As dádivas do amor.

Por isto a natureza os fez redondos,
Como os olhos, como os desejos
Das nossas mãos em concha.

   Teresina, 05 de julho de 2011.




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Acontecendo em Teresina


 

 



 
 


Filosofando


 

“ a voz do intelecto é suave, mas termina por se fazer ouvir”
 (Sigmundo Freud)

terça-feira, 5 de julho de 2011

Hino de Teresina

Criei Coragem - Rubem Alves (O povo e a democracia)

"Mesmo o mais corajoso entre nós só raramente tem coragem para aquilo que ele realmente conhece", observou Nietzsche.
É o meu caso.
Muitos pensamentos meus, eu guardei em segredo. Por medo.
Alberto Camus, leitor de Nietzsche, acrescentou um detalhe acerca da hora em que a coragem chega: "Só tardiamente ganhamos a coragem de assumir aquilo que sabemos".
Tardiamente. Na velhice.
Como estou velho, ganhei coragem.

Vou dizer aquilo sobre o que me calei:
"O povo unido jamais será vencido", é disso que eu tenho medo.

Em tempos passados, invocava-se o nome de Deus como fundamento da ordem política.
Mas Deus foi exilado e o "povo" tomou o seu lugar: a democracia é o governo do povo.
Não sei se foi bom negócio; o fato é que a vontade do povo, além de não ser confiável,
é de uma imensa mediocridade. Basta ver os programas de TV que o povo prefere.

A Teologia da Libertação sacralizou o povo como instrumento de libertação histórica.
Nada mais distante dos textos bíblicos.
Na Bíblia, o povo e Deus andam sempre em direções opostas.
Bastou que Moisés, líder, se distraísse na montanha para que o povo, na planície, se entregasse à adoração de um bezerro de ouro.
Voltando das alturas, Moisés ficou tão furioso que quebrou as tábuas com os Dez Mandamentos.

E a história do profeta Oséias, homem apaixonado!
Seu coração se derretia ao contemplar o rosto da mulher que amava!
Mas ela tinha outras idéias. Amava a prostituição.
Pulava de amante em amante enquanto o amor de Oséias pulava de perdão a perdão. Até que ela o abandonou.
Passado muito tempo, Oséias perambulava solitário pelo mercado de escravos. E o que foi que viu?
Viu a sua amada sendo vendida como escrava. Oséias não teve dúvidas.
Comprou-a e disse: "Agora você será minha para sempre.".
Pois o profeta transformou a sua desdita amorosa numa parábola do amor de Deus.

Deus era o amante apaixonado. O povo era a prostituta.
Ele amava a prostituta, mas sabia que ela não era confiável.
O povo preferia os falsos profetas aos verdadeiros, porque os falsos profetas lhe contavam mentiras.
As mentiras são doces; a verdade é amarga.

Os políticos romanos sabiam que o povo se enrola com pão e circo.
No tempo dos romanos, o circo eram os cristãos sendo devorados pelos leões.
E como o povo gostava de ver o sangue e ouvir os gritos!
As coisas mudaram.
Os cristãos, de comida para os leões, transformaram-se em donos do circo.

O circo cristão era diferente: judeus, bruxas e hereges sendo queimados em praças públicas.
As praças ficavam apinhadas com o povo em festa, alegrando-se com o cheiro de churrasco e os gritos.
Reinhold Niebuhr, teólogo moral protestante, no seu livro "O Homem Moral e a Sociedade Imoral"
observa que os indivíduos, isolados, têm consciência.
São seres morais. Sentem-se "responsáveis" por aquilo que fazem.
Mas quando passam a pertencer a um grupo, a razão é silenciada pelas emoções coletivas.
Indivíduos que, isoladamente, são incapazes de fazer mal a uma borboleta, se incorporados a um grupo tornam-se capazes dos atos mais cruéis.
Participam de linchamentos, são capazes de pôr fogo num índio adormecido e de jogar uma bomba no meio da torcida do time rival.
Indivíduos são seres morais. Mas o povo não é moral.
O povo é uma prostituta que se vende a preço baixo.

Seria maravilhoso se o povo agisse de forma racional, segundo a verdade e segundo os interesses da coletividade.
É sobre esse pressuposto que se constrói a democracia.

Mas uma das características do povo é a facilidade com que ele é enganado.
O povo é movido pelo poder das imagens e não pelo poder da razão.
Quem decide as eleições e a democracia são os produtores de imagens.
Os votos, nas eleições, dizem quem é o artista que produz as imagens mais sedutoras.
O povo não pensa. Somente os indivíduos pensam.
Mas o povo detesta os indivíduos que se recusam a ser assimilados à coletividade.
Uma coisa é a massa de manobra sobre a qual os espertos trabalham.

Nem Freud, nem Nietzsche e nem Jesus Cristo confiavam no povo.
Jesus foi crucificado pelo voto popular, que elegeu Barrabás.
Durante a revolução cultural, na China de Mao-Tse-Tung, o povo queimava violinos em nome da verdade proletária.
Não sei que outras coisas o povo é capaz de queimar.

O nazismo era um movimento popular. O povo alemão amava o Führer.
O povo, unido, jamais será vencido!

Tenho vários gostos que não são populares.
Alguns já me acusaram de gostos aristocráticos.
Mas, que posso fazer?
Gosto de Bach, de Brahms, de Fernando Pessoa, de Nietzsche, de Saramago, de silêncio;
não gosto de churrasco, não gosto de rock, não gosto de música sertaneja, não gosto de futebol.
Tenho medo de que, num eventual triunfo do gosto do povo, eu venha a ser obrigado a queimar os meus gostos e a engolir sapos e a brincar de "boca-de-forno", à semelhança do que aconteceu na China.

De vez em quando, raramente, o povo fica bonito.
Mas, para que esse acontecimento raro aconteça, é preciso que um poeta entoe uma canção e o povo escute: "Caminhando e cantando e seguindo a canção.",
Isso é tarefa para os artistas e educadores.
O povo que amo não é uma realidade, é uma esperança




Poemartemanhas

ARCOBALENO  (Mac Dowell)



COM'È BELLO L'ARCOBALENO!
NEL VEDERLO SOGNO LA VITA.
PUR ASPETTANDO LA MORTE.



A BELA E A FERA


Minha santa d’outrora era de prata
loura, de olhos azuis, dos meus anseios,
róseos os lábios, túmidos os seios,
boca cheirando a lua e serenata.

E em corpo e alma, a bela, a insensata,
de olho no sexo, em danças e rodeios,
iluminava os céus com seus meneios,
festa no coração, riso em cascata.

Hoje, minha alegria se destrata,
o calendário se transforma em fel,
não quero mais saber daquela ingrata.

Meu futuro é fumaça e tem venenos...
Sem mais tempo, esvazio o meu tonel,
que um dia a mais é sempre um dia a menos.

                    Francisco Miguel de Moura







Foto da Semana




Fotopoema









Acontecendo em Teresina



Com é triste ver as pessoas presas em suas próprias casas. Teresina não é diferente das grandes cidades: a violência maltrata a liberdade  e somos reféns de um sistema exacerbado.



Filosofando

“Quanto menos inteligente um homem,menos misteriosa lhe parece a existência”. Arthur Schopenhaver





Para Relaxar