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domingo, 28 de junho de 2020

terça-feira, 23 de junho de 2020

Cerveja

Cevada dourada
Encorpado malte
Rios de amidos -  
Vale do inconsciente
Estrada descortinada
Jazida de lúpulo
Amor fermentado com levedura, poesia e tempo.

Paulo Tabatinga 
Foto: Paulo Tabatinga

Loucuras

Louco,
para os outros;
é aquele que não entrou
em sua loucura.

Paulo Tabatinga


Eu Canto

Eu ando sozinho
por esse mundo cão:
o coração fora do peito
dentro da minha canção

Eu ando comigo
pelas veredas da paixão
sob o céu de lua cheia
no frio da solidão

eu canto
porque o instante insiste
porque cantar
é não viver triste

eu vou comigo eu vou
por que não,por que não?

Paulo Tabatinga




domingo, 14 de junho de 2020

Acorda

(A)corda! Acorda!
as manhãs fazem desaparecer
os cadafalsos das noites! 

Paulo Tabatinga


Paulo Tabatinga 

Minha invenção pra não mosca

Foto e invenção: Paulo Tabatinga. !4 de Junho de 2020

Estado Metafísico

Quando eu menino, lá no Grupo Escolar, todos os dias das mães havia um menino, de voz poderosa, que cantava à capela aquela música que fala em avental sujo de ovo. Essas coisas é que trazem lembranças do colégio; o restante eu não gostava. eu nunca acreditei nos estados da matéria posto ali. hoje descobri que faltava o estado mais importante. entre o Sólido, líquido e gasoso; faltava, justamente, o estado metafísico. é nele que eu vivo a passear. Mamãe, mamãe...

Paulo tabatinga


Meio Dia

Inventaram o meio dia
pra gente nunca ter o dia inteiro!

Foto: Paulo Tabatinga 



Paulo Tabatinga 

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Carta de Valter Hugo Mãe para Marcelino Freire:


"Marcelino, tenho medo de voltar ao seu país porque cresci relutante para ser adulto e sei que me mantenho em tantas coisas apenas uma criança. Julgo que saio à rua ainda com a alegria de encontrar alguém com quem, de algum modo, possa pressentir a alegria que existia quando estávamos apenas a brincar. Eu não sei estar sozinho. Não aprecio a solidão, gosto das pessoas e não há como curar minha natureza para gostar delas. Mas agora tenho medo do seu país que eu amo. Fiquei toda a vida sonhando ser português e brasileiro, para pertencer a Machado de Assis e Fernando Pessoa. Sonhei que meu orgulho teria papel passado, como quem casa consciente, dedicado, de amor profundo, para toda a eternidade. Eu não previ este medo. Fico desolado.
Estão proibindo as pessoas de serem negras, Marcelino, proibiram de ser mulheres, Marcelino, agora decidiram proibir de ser criança e eu sabia que haveria alguma coisa que ainda me pegaria. Por isso, há muito que eu já brigava pelos negros e há muito que eu já brigava pelas mulheres, eu já brigava pelos viados todos e pelas pessoas sem explicação, tanta gente que só é, sem ter muito como entender ou fazer entender, e quer apenas estar em paz. Eu dei de barato tanta coisa sobre a paz que talvez tenha esquecido de estudar corações, o verdadeiro lugar da guerra. Sou muito despreparado. Passei pelo tempo buscando o deslumbre e vi a melhor versão de cada instante, não vi que medravam no escuro as piores intenções, os ódios que inviabilizam a humanidade. Eu, sinceramente, não vi, Marcelino.
Caminhei nessas ruas todas, tantos Estados, tantas capitais, e eu não dei conta desse ódio. Notei os sorrisos, o samba, o jeito generoso das garotas e de alguns garotos olhando para minha pouca beleza, eu notei os livros, tanta Literatura maravilhosa e a obra do Tunga e Artur Bispo do Rosário bordando as vestes para alindar seu encontro com Deus. Marcelino, no Brasil eu senti invariavelmente que Deus era possível. Sabe quando você se depara com algo perfeito e isso só pode ser graça de uma inteligência superior? Eu vi uma arara azul gigante, devia ter mais de um metro, e ela era mesmo um atributo mágico do mundo, estava livre no cimo de uma árvore na floresta amazônica.
Naquele encontro, eu consumei tudo, Guimarães Rosa e Elza Soares, Tarsila do Amaral e Fernanda Montenegro mais Marília Pêra e Walter Salles, e Darcy Ribeiro mais Heitor Villa-Lobos, e Cartola com Cildo Meireles e Adriana Varejão. Mais Gal Costa e Mônica Salmaso e Paulo Freire lendo a mão de Chico César genial. Eu entendi que Brasil significa beleza e uma profunda esperança. Juro. Parecia uma experiência mística, como se algum espírito me informasse e eu virasse um mensageiro sagrado. Eu elogiei o Brasil em todas as ocasiões porque eu acreditei, e acreditei que minha mensagem era sagrada. Você acha que um espírito me enganaria? Viria sobre mim de propósito para me iludir?
Marcelino, eu não consumei minha adultez, sou apenas um menino, fui sempre ao seu país para encontrar mais amigos e brincar um pouco de ser feliz. Lembra de gostarmos tanto de Manoel de Barros? Eu sei exatamente a razão de gostar tanto da poesia de Manoel de Barros. Ele usa pássaro e amigos e seus versos foram os melhores brinquedos. Minha história é rigorosamente igual. Não tinha muito mais. Pais, irmãos, amigos, os pássaros voando, versos. O lugar de guardar tudo é o verso. O único sentido de ter verso é amar gente e cuidar de pássaro livre.
Estão atirando sobre as crianças e alguém me diz que apenas as negras, são apenas as crianças negras, mas eu duvido que parem por aí. Nós, as crianças mais claras não estamos na linha do tiro? Nem que seja por vergonha, vamos morrer também se não dissermos nada, se não fizermos nada. E se as crianças negras viraram proibidas, que legitimidade teremos nós? Sabe, Gilberto Freyre explicou tão certinho que os portugueses são os mestiços da Europa. Eu tenho sangue árabe, africano e europeu. Sou uma porção de cada coisa e minha pena é não lembrar, só minhas células sabem.
Não deixe que acabem com a maravilha do Brasil. Se resistirmos, nossa delicadeza vai ser uma lição resplandecente.
Você sabe a razão para rejeitarem os negros para as periferias? Eu não descobri. As casas do centro não têm tamanho para negros? Eles são maiores? Aumentam quando dormem? Quando sonham? Ficam derrubando paredes, perigando as fundações dos prédios? Eu acho que não. Eu vi um moço entrando na livraria à minha frente, coube na porta melhor do que eu. Você acha que tem alguém obrigando a que ele corra para a periferia depois de pagar o seu livro? Eu não posso acreditar. Que pena que eu não falei com ele, devia ter perguntado. Talvez me contasse de como fica infinito sonhando, ao ponto de perturbar o silêncio, tremer o prédio, causar fumo. Você já pensou se nossos sonhos também fizessem isso? Eu ia querer, Marcelino. Eu ia querer que meus sonhos fossem tão grandes. Mas sonho só com a paz. Estar sossegado com minha família e meus amigos. Notar os pássaros voando.
Marcelino, façamos uma jura de não morrer durante o plano de nos matarem. Não somos senão ternuras gigantes, guerreiros açucarados, eu entendi que nós precisamos de um pacto poético para embravecer nossa cidadania. Você, que é meu amigo e escritor que tanto admiro, não me falte nunca desse lado. Cuide de Chico Buarque e de Caetano Veloso, por favor, em qualquer cabeça sã do mundo eles representam o Deus possível. Cuide de Maria Bethânia. De Sônia Braga. Diga a Davi Kopenawa e a Ailton Krenak que a floresta vai sempre amá-los, diga que a arara me garantiu. Marcelino, fico ouvindo Rodrigo Amarante e quase ainda acredito em tudo outra vez (Rodrigo é perfeito. Poderia ser a própria arara). Quase perco o medo. Vista também sua roupa de super-herói e sobreviva. Você tem de manter a maravilha do Brasil. Não deixe que acabem com a maravilha do Brasil. Se resistirmos, nossa delicadeza vai ser uma lição resplandecente, e vamos ficar mais belos que os modelos nos filmes gringos. Vamos, sim, Marcelino.
Haveremos de devolver o futuro às crianças. E seremos sempre futuros também. Só quem desistiu passou a ocupar seu canto no passado. Marcelino, reassumo meu compromisso com a esperança. Vou escolher sempre minha vida como lugar de semente. No meu medo, Marcelino, muita coragem vai germinar."

Céu de Junho. 2020. no Isolamento Social

Foto: Paulo Tabatinga 

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Para Norberto Soares

Naves interestelares estrelas de todas as grandezas
Ouve-se o som do silêncio cósmico, em harmonia total
Rios navegam e desaguam em outras caravelas singrando o etéreo
Bênçãos de luzes cruzam além de o cruzeiro do sul
Eternos raios de sóis circulam terras santas e além-mar
Resplandece no horizonte o rosto de Deus feito o Sol da vida:
Tudo gira sem parar, como se fosse um relógio sem cordas
O Universo abrange todo o amor que foi e que não foi aproveitado.

Paulo Tabatinga

Foto: Paulo Tabatinga 


Álcool Gel

Fica provado
que o álcool 
é a solução do mundo! 

Paulo Tabatinga 

Teresina

Quando Teresina acordar
eu volto pra ela 
conto meus sonhos.





Paulo Tabatinga 

Quarentena

A quarentena nos ajuda a chover! 

Paulo tabatinga

As lives no Distanciamento