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terça-feira, 18 de outubro de 2016

Cântico Negro - José Régio



Cântico negro

José Régio

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

Tornados no Brasil


Teresina Ruas 2012 e 2015 - Fotos Google Móvel














contraste urbano


quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Bombas Neurotelemáticas ( Paulo Tabatinga )



O Brasil virou uma lama:
Lama imposta
Pelas bombas semióticas
De fluxos midiáticos
Vindas do eletrodoméstico viral
Omni-invasivo


Rio Poti







12 outubro de 2016

Teresina: Queimadas





eu nunca havia visto tanta queimada como esse ano! agora mesmo é uma fumaça nos olhos - ardendo! vão acabar com tudo! lembrou-me o tempo ( que eu não vivi) do fogo nas casas de palhas( dos pobres). estão acabando com tudo. é muita irresponsabilidade de quem ateia fogo nessa terra toda. eu sei que esse meu pequeno grito nessa ilha virtual ecoa muito pouco. eu sei.
12 de outubro de 2016

http://180graus.com/noticias/teresina-esta-literalmente-pegando-fogo-alguem-precisa-agir-e-rapido


http://cidadeverde.com/noticias/231932/100-dos-incendios-no-piaui-sao-causados-pelo-homem-diz-bombeiros 

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Pré-sal - Edmar Oliveira

ISSO ESTÁ MESMO ACONTECENDO?


Vivo momentos atualmente em que tento me beliscar para saber se não estou sonhando, se tudo isso não é um horrível pesadelo. Ontem os deputados do meu país votaram a entrega do nosso sagrado petróleo à banca internacional. O que faz com que deputados – que se dizem representantes do nosso povo – votem contra os interesses nacionais? Desde que Monteiro Lobato inventou o Poço do Visconde e o governo Vargas estatizou nosso petróleo, tínhamos o orgulho mineral de uma riqueza que nos fazia o país do futuro. A Petrobrás virou o orgulho patriótico. Na descoberta do pré-sal chegamos a sonhar, ainda ontem, com a destinação de recursos que viabilizassem de fato o SUS e pudessem fazer uma revolução na educação.

Um vendilhão do templo assume as relações internacionais com uma promessa de submeter a nossa riqueza à banca internacional. Muitos mais de quarenta ladrões entregam a nossa riqueza numa votação contra a nação. O que diabos está acontecendo?

A Noruega – que era um país pobre até a segunda metade do século vinte – com o desenvolvimento da indústria nacional do petróleo emergiu como um dos países mais desenvolvidos do mundo. Enquanto nações da África subsaariana ricas em petróleo – por ter vendido a exploração do seu tesouro – estão entre as nações mais pobres da face da terra. Mesmo com esses exemplos (e podemos buscar vários outros) nossos representantes acharam por bem vender o Brasil? Nem a ditadura militar ousou fazer tamanho crime com a nossa nacionalidade. A venda de nosso bem mais precioso deveria passar por um plebiscito. Não podem sair por aí vendendo a nação. As consequências serão drásticas. E não me venham falar no roubo da Petrobras pelo governo anterior. Esse roubo legalizado é muito maior, sem que se possa culpar o ladrão. Afinal ele comprou – a preço de banana, mas comprou – e deve ter pago os votos que desnacionalizaram a Petrobras.

E assim me descubro perplexo. Isso está mesmo acontecendo?
Antes que eu saiba se estou acordado ou sonhando, uma comissão parlamentar aprova a famigerada PEC 241 – a PEC da maldade, que congela por vinte anos as despesas com saúde, educação, assistência social, segurança, salários, enquanto deixa livre desse congelamento os juros da dívida pública para beneficiar os rentistas e a banca internacional. Parece premonição de uma música do Raul Seixas dos anos 70: “A solução pro nosso povo eu vou dar / Negócio bom assim ninguém nunca viu / Tá tudo pronto aqui é só vir pegar / A solução é alugar o Brasil”!
Mas nós vamos pagar caro com a materialização da gozação seixiana.
E já na segunda feira – sem nos dar tempo de qualquer reação – os parlamentares aprovarão a PEC da maldade. Essa emenda constitucional praticamente RASGA a constituição cidadã.
Se isso não for um pesadelo e estamos acordados é preciso fazer alguma coisa. Já!