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quarta-feira, 1 de junho de 2011

sessentinha - Edmar Oliveira

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Confesso: me fudi. Entrei no involuntário grupo da terceira idade, que só a ironia deslavada chama de melhor idade. E não há retorno possível. Portanto, relaxe e goza (se ainda for possível!)

Sabe quando os meninos começam a te chamar de tio? Aí você está entre os quarentas e cinqüentas primaveras. Foi doloroso, mas não imaginava nada pior. Veio “senhor”. Esse “senhor”, dito de forma imprópria, no teu perceber, soa alguma gozação, troça, pilheria de mau gosto. E você vai ficar com saudades de quando te chamavam de tio.

Outro dia encontrei com um amigo cineasta na anti-sala de exames de um laboratório. Não me contive: antes a gente se encontrava num bar, agora é aqui. E falamos, despudorozamente, de taxas de glicose, colesterol e do indefectível PSA, que nos lembra que tudo começou numa dedada há uma década.  

Se antes a gente separava uma quantia em dinheiro para ultrapassar, vez por outras, os chopes da rotina, hoje a reserva é para os medicamentos de uso contínuo, que só vão desaparecer do nosso convívio quando desaparecermos da face da terra. E eu compro tanto remédios, que já me deram, de brinde, uma caixinha com os dias da semana para guardar os remédios. Porque já com essa idade a gente costuma esquecer se já tomou o remédio de hoje. E corre o risco de não tomar o remédio, por esquecimento, fazendo a pressão subir e ficar exposto a um derrame; ou, tanto faz, tomar em dose dupla, também por esquecimento, e ter uma isquemia cerebral.

E, por essa idade, se você for a um médico, por qualquer bobagem, uma gripe, uma gastrite, recebe, como bônus pela a idade, uma bateria de exames em que vão aparecer problemas sérios. Isto é, aqui é possível você não sentindo nada descobrir que é um doente grave. Por isso eu corro de médicos como o diabo da cruz. Quem procura, acha, já nos dizia o dito popular.

Mas para tantas desgraças é preciso uma compensação. E tem? A gente pode fazer as contas de quanto já trabalhou e providenciar a aposentadoria. Confesso que fiz as minhas e já sobra tempo e ainda tenho meio ano de licença prêmio pra tirar. Isso é bom. Se a gente tiver o que fazer. Pois não fazer nada é meio insuportável. Portanto estou fazendo uns planos para ocupar o tempo de não fazer nada para entrar com o pedido de “basta, tô velho!”, em reconhecimento da situação que você pensava “nunca iria chegar”.

A minha passagem para a terceira idade foi no dia 11 de maio. Mas ela já tinha acontecido um pouco antes. Sabe quando caiu a ficha? A bonita recepcionista do banco sorriu pra mim e eu, todo prosa, também ensaiei  um sorriso re retribuição. A belezura me deu uma ficha de fila preferencial para que eu fosse atendido. Doeu.

desenho luxuoso de Gervásio Castro

Acontecendo em Teresina

SALIPI
Falta pouco para o 9º Salão do Livro do Piauí e 14ª edição do Seminário Língua Viva, que ocorre de 5 a 12 de junho no Complexo Cultural da Praça Pedro II. A abertura, que contará com palestra do escritor e historiador Laurentino Gomes, será no domingo (05) às 18h30 no auditório do Clube dos Diários.

Este ano, o Salipi homenageia o professor, escritor e acadêmico da APL, Raimundo Santana. O evento lembra ainda o centenário de nascimento de Dinah Silveira de Queiroz, o centenário de nascimento de Nelson Cavaquinho e o escritor Moacir Scliar (in memoriam).

Além da abertura, que contará com a presença de Laurentino Gomes, a programação conta ainda com Guilherme Fiúza, João Gilberto Noll, (foto), Ana Paula Maia e José Carlos Capinan. Na quinta, 10, a noite será internacional, com palestra do cubano Alpidio Alonso-Grau. Os piauienses também são destaque no Salipi, com palestras de Assis Brasil, Douglas Machado e Gustavo Said.

Para Feliciano Bezerra, um dos coordenadores do evento, o público poderá conferir uma programação de muita dança, música popular, poesia, lançamentos e tudo mais que educa e diverte. “Tudo que é tradição no Salipi será mantido”, afirma, lembrando que a expectativa de público este ano é de quase 200 mil pessoas.

"O que você não encontra nas livrarias, você encontra no Salão, que tem opções, tem produtos para todos os gostos”, garante Luiz Romero, presidente da Fundação Quixote, entidade responsável pelo Salipi.

O encerramento do Salão, dia 12 de junho às 18h30, será ao som de dois gigantes da música piauiense: Validuaté e Valor de PI.
 encerramento do Salão, dia 12 de junho às 18h30, será ao som de dois gigantes da música piauiense: Validuaté e Valor de PI.

Fonte: Portal AZ
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Aproveitando a onda do Salipi
Paulo Tabatinga fará o lançamento do Livro Somente Para Bêbado,
isto é, se a praça estiver, pelo menos um pouco, embriagada.
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Convite de Lançamento
Livro Von Meduna de Edmar Oliveira
Local: Clube dos Diários
Dia: 12/06  Hora: 15h - SALIPI

a incrível história devon Medunae a Filha do Sol do equador


Do mesmo autor de “Ouvindo Vozes”. Enquanto no livro anterior os porões da Foto da Semanasiquiatria brasileira foram abordados através das “histórias do Engenho de Dentro e lendas do Encantado”, recuperando para a vida pessoas soterradas na continuação do primeiro hospício do Brasil, no Rio de Janeiro, neste livro o autor “invenciona” a história de von Meduna no seu caso de amor à terra “Filha do Sol do Equador”.
Participante da Reforma Psiquiátrica que se instala em Teresina, como consultor, o autor, radicado no Rio de Janeiro, mas apaixonado por sua terra natal, mergulha na história da Psiquiatria no Piauí, se envolve emocionalmente com as aventuras dos loucos de sua infância, e apresenta um painel apaixonado de histórias da psiquiatria piauiense, da implantação de um modelo comunitário de assistência que se propõe substituir a internação psiquiátrica.
Não é um livro técnico, mas um romancear de quem toma partido contra uma psiquiatria repressiva que deve ser atacada no campo dos direitos humanos. Um livro para ser discutido por estudantes, profissionais, usuários, familiares, enfim, por toda à sociedade a quem é proposta von Meduna e a loucura do sertão
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E como o modelo que foi combatido, o hospício, é o mesmo em qualquer lugar do planeta, não é um livro sobre o que acontece no Piauí, mas sobre o que faz a psiquiatria em todos os hospícios de qualquer cidade do Brasil e um elogio à forma de acontecer a Reforma Psiquiátrica, prática em saúde mental que vem substituindo o antigo manicômio em todo o país


Foto Da Semana


Fotopoema



Poemartemanhas


                          “Sensation”.   Rimbaud
Par les beaux soirs d’été, j’irai dans les sentiers
Picoté par les blés, fouler l’herbe menue:
Rêveur, j’en sentirai la fraîcheur à mes pieds:
Je laisserai le vent baigner ma tête nue.
Je ne parlerai pas, je ne penserai rien…Mais un amour immense entrera dans mon âme,
Et, j’irai loin, bien loin; comme un bohémien
Par la Nature, — heureux comme avec une femme!
(1870)
oooo0000oooo
Nas belas tardes de verão, pelas estradas irei,
Roçando os trigais, pisando a relva miúda:
Sonhador, a meus pés seu frescor sentirei:
E o vento banhando-me a cabeça desnuda.
Nada falarei, não pensarei em nada:
Mas um amor imenso me irá envolver,
E irei longe, bem longe, a alma despreocupada,
Pela Natureza — feliz como com uma mulher.

Filosofando
“ Eu poderia cantar uma canção e vou cantá-la, embora esteja sozinho numa casa vazia e tenha de cantá-la para meus próprios ouvidos”    Nietzsche


Para Relaxar

SABEDORIA MILENAR DO KUNG FU GAFANHOTO  -  MESTRE, POR QUE ANTES DO SEXO CADA UM AJUDA O OUTRO A FICAR NU,  E DEPOIS DO SEXO CADA UM SE VESTE SOZINHO?!

MESTRE  -   PEQUENO GAFANHOTO,  NA VIDA NINGUÉM TE AJUDA DEPOIS QUE VOCÊ ESTÁ FODIDO!

domingo, 22 de maio de 2011

A SERVIDÃO VOLUNTÁRIA

A SERVIDÃO VOLUNTÁRIA...

Fábio Konder Comparato


As rebeliões populares que sacodem atualmente o mundo árabe têm, entre outros méritos, o de derrubar não só vários regimes políticos ditatoriais em cadeia, mas também um mito político há muito assentado. Refiro-me à convicção, partilhada por todos os soi-disant cientistas políticos, de que um povo sem organização prévia e não enquadrado por uma liderança partidária ou pessoal efetiva, é totalmente incapaz de se opor a governos mantidos por corporações militares bem treinadas e equipadas,  com o apoio do poder econômico e financeiro do capitalismo internacional.


Pois bem, há quatro séculos e meio um pensador francês teve a ousadia de sustentar o contrário. Refiro-me a Etienne de la Boëtie, o grande amigo de Montaigne.  No Discurso da Servidão Voluntária, publicado após a sua morte em 1563, ele pronunciou um dos mais vigorosos requisitórios contra os regimes políticos e governos opressores da liberdade, de todos os tempos.


Seu raciocínio parte do sentimento de espanto e perplexidade diante de um fato que, embora difundido no mundo todo, nem por isso deixa de ofender a própria natureza e o bom-senso mais elementar. O fato de que um número infinito de homens, diante do soberano político, não apenas consintam em obedecer, mas se ponham a rastejar; não só sejam governados, mas tiranizados, não tendo para si nem bens, nem parentes, nem filhos, nem a própria vida.


Seria isso covardia? Impossível, pois a razão não pode admitir que milhões de pessoas e milhares de cidades, no mundo inteiro, se acovardem diante de um só homem, em geral medíocre e vicioso, que os trata como uma multidão de servos.


Então, “que monstruoso vício é esse, que a palavra covardia não exprime, para o qual falta a expressão adequada, que a natureza desmente e a língua se recusa a nomear?”


Esse vício nada mais é do que a falta de vontade. Os súditos não precisam combater os tiranos nem mesmo defender-se diante dele. Basta que se recusem a servi-lo, para que ele seja naturalmente vencido. Uma nação pode não fazer esforço algum para alcançar a felicidade. Para obtê-la, basta que ela própria não trabalhe contra si mesma. “São os povos que se deixam garrotear, ou melhor, que se garroteiam a si mesmos, pois bastaria apenas que eles se recusassem a servir, para que os seus grilhões fossem rompidos”.


No entanto – coisa pasmosa e inacreditável! –, é o próprio povo que, podendo escolher entre ser escravo ou ser livre, rejeita a liberdade e toma sobre si o jugo. “Se para possuir a liberdade basta desejá-la, se é suficiente para tanto unicamente o querer, encontrar-se-á uma nação no mundo que acredite ser difícil adquirir a liberdade, pela simples manifestação desse desejo?”


O que La Boëtie certamente não podia imaginar é que, durante os primeiros séculos do Brasil colonial, foi muito difundida a prática da servidão voluntária de indígenas maiores de 21 anos. Encontrando-se eles em situação de extrema necessidade, a legislação portuguesa da época permitia que se vendessem a si mesmos, celebrando um contrato de escravidão perante um notário público.


De qualquer modo, prossegue o nosso autor, a aspiração a uma vida feliz, que existe em todo coração humano, faz com que as pessoas, em geral, desejem obter todos os bens capazes de lhes propiciar esse resultado. Há um só desses bens que elas, não se sabe por que, não chegam nem mesmo a desejar: é a liberdade. Será que isto ocorre tão-só porque ela pode ser facilmente obtida?


Afinal, de onde o governante, em todos os paises, tira a força necessária para manter os súditos em estado de permanente servidão? Deles próprios, responde La Boëtie.

“De onde provêm os incontáveis espiões que vos seguem, senão do vosso próprio meio? De que maneira dispõe ele [o tirano] de tantas mãos para vos espancar, se não as toma emprestadas a vós mesmos? E os pés que esmagam as vossas cidades, não são vossos? Tem ele, enfim, algum poder sobre vós, senão por vosso próprio intermédio?”


A conclusão é lógica: para derrubar os tiranos, os povos não precisam guerreá-los. “Tomai a decisão de não mais servir, e sereis livres”. Aí está, avant la lettre, toda a teoria da desobediência civil, que veio a ser desenvolvida muito depois que aquelas linhas foram escritas.


É de completa evidência, prossegue o autor, que somos todos igualmente livres, pela nossa própria natureza; e que o liame que sujeita uns à dominação dos outros é algo de puramente artificial. Mas então, como explicar que esse artifício seja considerado normal e a igualdade entre os homens não exista praticamente em lugar nenhum?


Para explicar esse absurdo da servidão voluntária, La Boëtie aponta algumas causas: o costume tradicional, a degradação programada da vida coletiva, a mistificação do poder, o interesse.


Foi por força do hábito, diz ele, que desde tempos imemoriais os homens contraíram o vício de viver como servos dos governantes. E esse vício foi, ao depois, apresentado como lei divina.


É também verdade que alguns governantes decidiram tornar mais amena a condição de escravo, imposta aos súditos, criando um sistema oficial de prazeres públicos; como, por exemplo, os espetáculos de “pão e circo”, organizados  pelos imperadores romanos.

Outro fator a concorrer para o mesmo efeito foi o ritual mistificador que os poderosos sempre mantiveram em torno de suas pessoas, oferecidas à devoção popular. O grotesco ditador Kadafi, com seus trejeitos de mau ator de opereta, nada mais fez do que reproduzir, mediocremente, vários tiranos do passado. “Antes de cometerem os seus crimes, mesmo os mais revoltantes”, lembrou La Boëtie, “eles os fazem preceder de belos discursos sobre o bem geral, a ordem pública e o consolo a ser dado aos infelizes”.


Por fim, a última causa geradora do regime de servidão voluntária, aquela que La Boëtie considera “o segredo e a mola mestra da dominação, o apoio e fundamento de toda tirania”, é a rede de interesses pessoais, formada entre os serviçais do regime. Em degraus descendentes, a partir do tirano, são corrompidas camadas cada vez mais extensas de agentes da dominação, mediante o atrativo da riqueza e das vantagens materiais.


No Egito de Mubarak, por exemplo, oficiais graduados das forças armadas ocupavam cargos de direção, muito bem remunerados, nas principais empresas do país, privadas ou públicas. Algo não muito diverso ocorreu entre nós durante o vintenário regime militar, com a tácita aprovação dos meios de comunicação de massa, a serviço do poder econômico capitalista.


Pois bem, se voltarmos agora os olhos para este “florão da América”, veremos um espetáculo bem diverso daquele que nos fascina, hoje, no Oriente Médio. Aqui, o povo não tem a menor consciência de ser explorado e consumido. As nossas classes dirigentes, perfeitamente instruídas na escola do capitalismo, nunca mostram suas fuças na televisão. Deixam essa tarefa para seus aliados no mundo político. Elas são anônimas, como a sociedade por ações. E o jugo que exercem é insinuante e atraente como um anúncio publicitário.





Por estas bandas o povão vive tranqüilo e feliz, na podridão e na miséria.

http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/comparato-a-servidao-voluntaria.html

 

Acontecendo em Teresina

Está acontecendo no Museu do Piauí a Exposição AUSÊNCIA TUA de 18 de Maio a 30 de Junho.
Artista: Adler Murad, Cícero Manoel, Gabriel Archanjo, Valdeci Veron, Elon Constantino, e João Marciano.


Foto da Semana



 


Para Relaxar

O primeiro protetor de testículos, na prática do hóquei, foi criado em 1874.
O primeiro capacete para a proteção da cabeça foi usado em 1974.

Conclusão:

Foi necessário um século
Para que os homens percebessem
Que o cérebro também é importante.


Fotopoema




Poemartemanhas





Filosofando

Filosofia de mesa de bar:
                                                     
Osama
Obama
Ou Brahma?!

Outra:

A voz do povo é a voz do diabo.

domingo, 15 de maio de 2011

"O valioso tempo dos maduros" - Mário Pinto de Andrade


Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica são imaturas.
Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral.
'As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade,
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,
O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial!

Mário Pinto de Andrade
Escritor e político angolano, de nome completo Mário Coelho Pinto de Andrade.
(1928-1990)



Para Relaxar

Diz a lenda que Rui Barbosa, ao chegar em casa, ouviu um barulho estranho vindo do seu quintal. Chegando lá, constatou haver um ladrão tentando levar seus patos de criação.Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com seus amados patos, disse-lhe:- Oh, bucéfalo anácrono! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa.
Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com
minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à qüinqüagésima potência que o vulgo denomina nada.E o ladrão, confuso, diz:
- Dotô, resumindo, eu levo ou deixo os pato?



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Acontecendo em Teresina

Trânsito desumanizado - Teresina - Pi.


Filosofando

“ A verdadeira vida está ausente, e não está no mundo” Robert Bréchon

 
Foto da Semana


Poemartemanhas

O POEMA E A MÁQUINA
                                                        NELSON NUNES

UM HOMEM MAIS OUTRO HOMEM
NÃO FAZEM UM DESTINO.
SERÃO SEMPRE UM HOMEM E OUTRO HOMEM
A CORREREM COMO DOIS PARALELOS.

UM TRABALHA O FERRO EXTRAÍDO DA TERRA
E COM TODO FERVOR FABRICA A MÁQUINA.
O OUTRO PASTOREIA UM REBANHO DE PALAVRAS
E COMO PARA DISTRAIR ESTRELAS FAZ POEMAS.

CADA UM COM SUA LINGUAGEM
COM SUA FERRAMENTA
ENFRENTA O MUNDO
CONSTRÓI SEU SONHO.

O FERRO FUNDIDO EM PALAVRA FUNDE A VIDA.
A MÁQUINA É O POEMA DO OUTRO HOMEM.
O POETA QUER DECIFRAR A MÁQUINA
QUE QUER DEVORAR O HOMEM.


sábado, 7 de maio de 2011

“Bullying” contra o português

Nosso idioma é vulnerável aos ataques do inglês, e ninguém está disposto a protegê-lo... até porque falar errado virou chique

Luís Antônio Giron
Na semana passada, minha mulher comprou um pote de geleia de mirtilo, com o seguinte selo: “Geleia de blueberry”. Num acesso de hipercorreção, risquei a palavra “blueberry” e escrevi por cima “mirtilo”, não sem antes passar um “branquinho” sobre o rótulo. “Você está louco?”, me disse Miriam ao descobrir o trote. “É assim que nascem os serial killers!”, exagerou. Respondi no meu espírito habitual: “Brincadeira sem graça. E por que não ‘assassinos seriais’?” Ela atacou: “Porque você diria que é anglicismo”. Neutralizado pela jogada dela, fiquei tentando encontrar um correspondente em português para “serial killer”, mas não consegui. Tive de me resignar à expressão americana. “Tudo bem, assassino serial, tudo em nome da língua portuguesa. Não aguento mais escreverem tudo errado!” Ela riu: “Se constasse ‘mirtilo’ em vez de ‘blueberry’ no rótulo, o produto não venderia! Sabe por quê? Porque ninguém sabe o que é mirtilo.” Pois é, ninguém leva a questão da pureza da língua a sério. Sobrei eu. Ou nem eu...

Mas, como diriam os sambistas, ainda posso ser considerado um dos “últimos baluartes da língua portuguesa”. Pode parecer um título pretensioso, até porque não recebi de ninguém outorga ou procuração para a função. Ou ridículo, por lembrar o personagem do romance Triste fim de Policarpo Quaresma, publicado em 1915, de Lima Barreto: Policarpo é aquele coronel aposentado que infla o peito quando fala de Brasil e se orgulha de tudo o que é nativo, a ponto de propor que o tupi-guarani seja elevado a idioma oficial da república. Claro ele que dá com os burros n’água e é ridicularizado por todos, inclusive pelo narrador. Não sou xenófobo nem avesso a influências estrangeiras em qualquer que seja a cultura, a brasileira inclusive. Defendo o acesso universal à cultura e aos idiomas em um planeta cada vez menor. Costumo dizer que é sempre melhor um plus a mais do que um less de menos. Há situações, porém, que me causam tamanha irritação, que tem gente me chamando de Novo Policarpo Quaresma. Já peguei a fama na minha própria causa por causa do mirtilo, mais conhecido por aqui como blueberry.

Nessas, quem se estrepa sou eu. O que me exaspera é a preguiça e a assumida ignorância dos usuários do português no Brasil. Chamam urubu de meu louro, e blueberry de mirtilo. As pessoas estão falando e escrevendo em um português cada vez mais estropiado. E a causa principal se encontra na tenaz e persistente contaminação do inglês. Pior, acham o máximo cometer erros simultaneamente nas duas línguas, inglês e português. Assim, tenho sido forçado a lutar pela língua, como se envolvido em uma guerra. Não fui convocado ao serviço militar do léxico, mas eis-me no campo de batalha. E aí, como diz o ditado, agora dou uma boiada para não sair mais da briga. Como se mal diz hoje, eu me voluntariei (leia-se em bom português: “ofereci-me”). Chamem-me do que quiserem. Ao ataque!

Hoje em dia, a turma que entende das coisas adora falar que os estudantes “sofrem bullying”. Ô, palavrinha mais antipática... O tal do “bullying” está na boca do Brasil inteiro, e com pronúncia errada (as pessoas gostam de dizer “bãling”, o que as torna ainda mais ridículas). A palavra “bully” tem uma origem chã: provém de “bull”, touro, do inglês do século XVII e significava originalmente “fanfarrão”, “mata-mouros”. Só mais modernamente passou a designar perseguição e agressão, em português. O correto seria dizer: “Os estudantes sofrem perseguição nas escolas”. Não ouso afirmar que a língua portuguesa está sendo agredida. Para convencer meu interlocutor, tenho de “refrasear” (em vez de “refazer”) a afirmação para: “O português está sofrendo bullying”. Aí todos entendem, batem palmas e pedem bis – ou, como se diz em inglês, “encore”. Isso porque agora o correto já virou incerto. Eu não posso falar que temos um prazo final no fechamento desta edição. Para parecer mais sofisticado, tenho de alertar que não há prazo final, e sim um “deadline”. Sinto-me mais bacana por dizer “deadline” e “approach”, entre outras baboseiras do atual jargão do jornalismo.

Tenho a impressão de que todo mundo, inclusive eu, esqueceu-se das palavras precisas para designar determinadas situações e objetos. O bombardeio dos termos em inglês provoca amnésia linguística e tornou legítimos barbarismos como “provocativo” em vez de “provocador” e “basicamente” em vez de “fundamentalmente”. Ainda mais risível é quando usam “eventualmente” no sentido de “finalmente” – “eventually” em inglês. Realizou?

Nesse campo da prática de abusos, os críticos de música e cinema são tradicionalmente os piores: eles enxameiam seus textos de termos em inglês e expressões esdrúxulas. Só que agora andam a abusar do direito que se autoatribuíram (daqui a pouco vão dizer “se self atributiram” ou qualquer coisa do tipo). Ninguém mais estraga prazeres ao contar o desfecho de um filme; agora o que vale é o popular “spoiler alert”. Quando você vai contar a trama de um filme, terá de dizer assim: “Cuidado que tem spoiler!” Quando um crítico me diz isso me dá vontade de pular, pois a palavra soa como uma espécie de escaravelho ou baratagigante.

No dia a dia, o pessoal vive se metendo em “brainstorming”, vocábulo inglês que pode ser facilmente traduzido para confabulação. Que tal confabular em vez de “fazer um brainstorm”? Acho uma troca vantajosa, até porque é menos barulhenta, “brainstorm” evoca tempestades com raios e trovões. Nada melhor que confabular, trocar ideias e histórias. Além de tudo, soa melhor.

O português surgiu por volta do século XII (embora haja documentos de duzendos anos antes) a partir da evolução do latim vulgar na Península Ibérica, com contaminações de termos celtas, visigóticos e árabes. No começo, era chamado de “galego-português” porque a fala e a escrita apareceram no norte de Portugal, na fronteira com a Galícia. As poesias palaciana, de amigo e de escárnio e maldizer foram criadas e publicadas antes mesmo da consolidação de idiomas como espanhol, italiano, alemão e... inglês. Língua venerável, o português. Um idioma imperial do século XVI. Por isso, bonita como uma caravela engalanada, clara e solar como as igrejas góticas de Lisboa.

Amo os meios-tons que suas vogais contêm, aparentadas francês. É um grande prazer remexer no léxico riquíssimo do idioma, brincar com a possibilidade que ele oferece de alongar as frases quase ao infinito, pois o português flui como uma plácida corrente de rio. Adoro certas palavras que não constam de línguas irmãs, como a (quase) intraduzível “saudade”, ou aquelas que existem em outras, que ganham um sabor delicado no vernáculo, como “brisa”, “maçã” e “paixão”. Os ecos artísticos são grandes. Eu sei que blueberry consta de um belo filme de Wong Kar-Wai. Trata-se de My blueberry nights, traduzido em português pelo título pedestre Beijo roubado em vez de “Minhas noites de mirtilo”. Blueberry é uma palavra que a gente amassa com dois dedos. Mirtilo, não. O vocábulo está em Camões e Petrarca, que, por sua vez, beberam na fonte de Horácio e Virgílio. Mirtilo evoca pastores do Parnaso e da Serra da Estrela. É antigo e lírico, como o português.

Por isso, podem vir com seu temível bullying contra a língua portuguesa, que estarei a postos para toureá-lo, apagá-lo e substituí-lo pelo castiço verbo agredir. Que mais “geleias de blueberry” arremetam contra mim, que as receberei com meu poderoso corretor. Não sou besta. Sei que as línguas são dinâmicas e abertas a influências externas. São organismos vivos. Mas daí a se render totalmente à ignorância dos próprios recursos, de seu thesaurus, vai um abismo. Os tão festejados e pouco praticados “laços lusófonos” só têm ajudado a apagar a delicada língua de Camões das areias da cultura. Parece que quase ninguém está disposto a preservar o que quer que seja, quanto mais suas referências espirituais. Restam alguns poucos Quaresmas neste país. Mas se eu for o último homem em pé para proteger o idioma, pelo menos terei orgulho do que deixei de realizar, mas ao menos tentei.
Luís Antônio Giron Editor da seção Mente Aberta de ÉPOCA, escreve sobre os principais fatos do universo da literatura, do cinema e da TV

Foto da Semana




Acontecendo em Teresina

Foto: Paulo Tabatinga



Filosofando
"Se quiserem ter uma alimentação saudável,
comam mulheres de fibra"   Frase catada na internet




Poemartemanhas
                         
                        Porque os outros se mascaram mas tu não
(Sophia de Mello Breyner Andresen)

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.



Fotopoema




CULTURA


O Forró Vivo


Vejo com muito bons olhos – olhos atentos de quem há décadas observa os movimentos da cultura em nosso país – a iniciativa do Secretário de Cultura do Estado da Paraíba, Chico César, de “investir conceitualmente nos festejos juninos”, segundo comunicado oficial divulgado esta semana. Além de brilhante cantor e compositor, Chico tem se mostrado um grande amigo da arte também como um dos maiores gestores da cultura desse país.

A maneira mais fácil de dominar um povo – e a mais sórdida também – é despi-lo de sua cultura natural, daquilo que o identifica enquanto um grupamento social homogêneo, com linguagens e referências próprias. Festas como o São João e o carnaval, que no Brasil adquiriram status extraordinariamente significativo, tem sido vilipendiadas com a adesão de pretensos agentes culturais alienígenas mancomunados com políticas públicas mercantilistas sem o menor compromisso com a identidade de nosso povo, de nossas festas, e por que não, de nossas melhores tradições, no sentido mais progressista da palavra.

Sempre digo que precisamos valorizar os conceitos, para que a arte não se dilua em enganosas jogadas de marketing. No que se refere ao papel de uma secretaria ou qualquer órgão público, entendo que seu objetivo primordial seja o de fomentar, preservar e difundir a cultura de seu estado, muito mais do que simplesmente promover eventos de entretenimento fácil com recursos públicos. É preciso compreender esta diferença quando se fala de gestão de cultura em nosso país.

Defendo democraticamente qualquer manifestação artística, mas entendo que o calendário anual seja largo o suficiente para comportar shows de todos os estilos, nacionais ou internacionais. Por isso apóio a iniciativa de Chico em evitar que interesses mercadológicos enfiem pelo gargalo atrações que nada tem a ver com os elementos que fizeram das festas juninas uma das celebrações brasileiras mais reconhecidas em todo o mundo.

Lembro-me que da última vez que encontrei o mestre Luiz Gonzaga, num leito de hospital, este me pedia aos prantos: “não deixe meu forrozinho morrer”. Graças a exemplos como o de Chico César, o velho Lua pode descansar mais tranquilo. O forró de sua linhagem há de permanecer vivo e fortalecido sempre que houver uma fogueira queimando em homenagem a São João.

Alceu Valença - Fonte: http://www.alceuvalenca.com.br/



Águas de Maio
Em vez do vento que empinava  papagaios, águas, em pleno maio, no céu que já foi azul.


 

domingo, 1 de maio de 2011

Saúde mental - Rubem Alves

"Fui convidado a fazer uma preleção sobre saúde mental. Os que me convidaram supuseram que eu, na qualidade de psicanalista, deveria ser um especialista no assunto. E eu também pensei. Tanto que aceitei.

Mas foi só parar para pensar para me arrepender. Percebi que nada sabia.Eu me explico.Comecei o meu pensamento fazendo uma lista das pessoas que, do meu ponto de vista, tiveram uma vida mental rica e excitante, pessoas cujos livros e obras são alimento para a minha alma. Nietzsche, Fernando Pessoa, Van Gogh, Wittgenstein, Cecília Meireles, Maiakovski. E logo me assustei. Nietzsche ficou louco. Fernando Pessoa era dado à bebida. Van Gogh matou-se.Wittgenstein alegrou-se ao saber que iria morrer em breve: não suportava mais viver com tanta angústia. Cecília Meireles sofria de uma suave depressão crônica. Maiakoviski suicidou-se.

Essas eram pessoas lúcidas e profundas que continuarão a ser pão para os vivos muito depois de nós termos sido completamente esquecidos.Mas será que tinham saúde mental? Saúde mental, essa condição em que as idéias comportam-se bem, sempre iguais, previsíveis, sem surpresas, obedientes ao comando do dever, todas as coisas nos seus lugares, como soldados em ordem unida, jamais permitindo que o corpo falte ao trabalho, ou que faça algo inesperado; nem é preciso dar uma volta ao mundo num barco a vela, basta fazer o que fez a Shirley Valentine (se ainda não viu, veja o filme) ou ter um amor proibido ou, mais perigoso que tudo isso, a coragem de pensar o que nunca pensou.

Pensar é uma coisa muito perigosa... Não, saúde mental elas não tinham... Eram lúcidas demais para isso.Elas sabiam que o mundo é controlado pelos loucos e idosos de gravata.Sendo donos do poder, os loucos passam a ser os protótipos da saúde mental.Claro que nenhum dos nomes que citei sobreviveria aos testes psicológicos a que teria de se submeter se fosse pedir emprego numa empresa. Por outro lado, nunca ouvir falar de político que tivesse depressão. Andam sempre fortes em passarelas pelas ruas da cidade, distribuindo sorrisos e certezas.

Sinto que meus pensamentos podem parecer pensamentos de louco e por isso apresso-me aos devidos esclarecimentos.Nós somos muito parecidos com computadores. O funcionamento dos computadores, como todo mundo sabe, requer a interação de duas partes. Uma delas chama-se hardware, literalmente "equipamento duro", e a outra denomina-se software, "equipamento macio". Hardware é constituído por todas as coisas sólidas com que o aparelho é feito. O software é constituído por entidades "espirituais" - símbolos que formam os programas e são gravados nos disquetes. Nós também temos um hardware e um software.

O hardware são os nervos do cérebro, os neurônios, tudo aquilo que compõe o sistema nervoso. O software é constituído por uma série de programas que ficam gravados na memória. Do mesmo jeito como nos computadores, o que fica na memória são símbolos, entidades levíssimas, dir-se-ia mesmo "espirituais", sendo que o programa mais importante é a linguagem.
Um computador pode enlouquecer por defeitos no hardware ou por defeitos no software.Nós também. Quando o nosso hardware fica louco há que se chamar psiquiatras e neurologistas, que virão com suas poções químicas e bisturis consertar o que se estragou. Quando o problema está no software, entretanto, poções e bisturis não funcionam.

Não se conserta um programa com chave de fenda.Porque o software é feito de símbolos e, somente símbolos, podem entrar dentro dele.Ouvimos uma música e choramos. Lemos os poemas eróticos de Drummond e o corpo fica excitado. Imagine um aparelho de som. Imagine que o toca-discos e os acessórios, o hardware, tenham a capacidade de ouvir a música que ele toca e se comover. Imagine mais, que a beleza é tão grande que o hardware não a comporta e se arrebenta de emoção!

Pois foi isso que aconteceu com aquelas pessoas que citei no princípio:
A música que saia de seu software era tão bonita que seu hardware não suportou... Dados esses pressupostos teóricos, estamos agora em condições de oferecer uma receita que garantirá, àqueles que a seguirem à risca, "saúde mental" até o fim dos seus dias.

Opte por um software modesto. Evite as coisas belas e comoventes.
A beleza é perigosa para o hardware. Cuidado com a música... Brahms, Mahler, Wagner, Bach são especialmente contra-indicados. Quanto às leituras, evite aquelas que fazem pensar. Tranquilize-se há uma vasta literatura especializada em impedir o pensamento. Se há livros do doutor Lair Ribeiro, por que se arriscar a ler Saramago?

Os jornais têm o mesmo efeito. Devem ser lidos diariamente. Como eles publicam diariamente sempre a mesma coisa com nomes e caras diferentes, fica garantido que o nosso software pensará sempre coisas iguais. E, aos domingos, não se esqueça do Silvio Santos e do Gugu Liberato.
Seguindo essa receita você terá uma vida tranqüila, embora banal.
Mas como você cultivou a insensibilidade, você não perceberá o quão banal ela é. E, em vez de ter o fim que tiveram as pessoas que mencionei, você se aposentará para, então, realizar os seus sonhos. Infelizmente, entretanto, quando chegar tal momento, você já terá se esquecido de como eles eram..."


Foto Da Semana



Predio Antigo de Teresina - Arte: PauloTabaTinga

Acontecendo em Teresina
Esses babaçus não existem mais
Foram cortados recetemente
E ficavam na rua Barroso, perto do Liceu Piauiense.É uma pena!


O babaçu é uma das mais importantes representantes das palmeiras brasileiras. Sobre este gênero de plantas, afirmou Alpheu Diniz Gonsalves, em 1955, que "é difícil opinar em que consiste a sua maior exuberância ia: se na beleza dos seus portes altivos ou se nas suas infinitas utilidades na vida da humanidade" E esta é a mais pura verdade!
Fonte: http://www.biodieselbr.com






Poemartemanhas

 
Rio Parnaíba - Teresina, Piauí
Trecho do poema A Rua de Torquato Neto, musicada por Gilberto Gil


 Filosofando

"Há tantos burros mandando em homens inteligentes, que, às vezes, fico pensando que a burrice é uma ciência".- Ruy Barbosa.


Fotopoema

domingo, 24 de abril de 2011

A CIDADE INVISÍVEL - Paulo Machado*

O planejamento do espaço físico escolhido por José Antônio Saraiva, na segunda metade do século XIX, para a construção da cidade de Teresina, foi estrategicamente definido em uma área plana, entre trechos dos rios Parnaíba e Poty, por razões geopolíticas.
O eixo de crescimento do espaço urbano foi orientado na direção norte-sul, a partir do primeiro núcleo populacional localizado na foz do rio Poty, com previsão de expansão gradativa e contínua para o sul. A zona rural do município foi originariamente planejada para se estender pelas regiões Nordeste, Leste e Sudeste, a partir do limite natural do referido rio. Esta estratégia de planejamento garantiria o equilíbrio climático do espaço urbano, projetado para desenvolver-se entre os dois cursos d'água, em decorrência da preservação da vegetação nativa.
A cidade foi planejada por Saraiva para desempenhar economicamente a função de pólo principal de todas as atividades mercantis do Meio-Norte. O planejador criou um modelo de cidade para ser o centro de convergência dos fluxos de produção dos pólos agrícolas e agroindustriais das regiões Sudeste, Sudoeste e Sul da Província do Piauí, escoado através de ramais ferroviários que abasteceriam um movimentado porto fluvial, a ser construído no rio Parnaíba, dentro do perímetro urbano do município. Essa atividade portuária fluvial funcionaria como elo intermediário da cadeia de exportação, a ser concluída pelos portos marítimos das províncias da região Nordeste.
Essa análise realista das circunstâncias políticas e econômicas determinantes do planejamento urbanístico de Teresina e a compreensão de suas conseqüências foram estudadas por Abdias da Costa Neves, político teresinense que defendeu, com competência e coragem, a tese de interligação das regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste por troncos ferroviários convergentes para a cidade de Teresina. Isto se deu quando Abdias exerceu, durante a República Velha, o mandato de senador da República, eleito pelo povo piauiense.
Entretanto, a partir da década de 50 do século XX, os incentivos às atividades do setor imobiliário, viabilizados pelos prefeitos e vereadores de Teresina, passaram a ser motivados por grupos econômicos originários da Bahia, Pernambuco, Paraíba, Ceará e Maranhão e de grupos políticos com bases eleitorais nos municípios piauienses das regiões Sudeste, Sudoeste e Norte, que definiram como princípio fundamental a partilha de poder, com a finalidade de garantir a preservação dos seus interesses. Assim, o plano de desenvolvimento urbanístico original foi substituído, para que as pretensões desses grupos econômicos e políticos fossem satisfeitas. Por essas razões, definiram, para o eixo de crescimento do espaço urbano, a orientação oeste-leste, com a ampliação progressiva do perímetro urbano para além do rio Poty.
Esse novo eixo de crescimento do espaço urbano provocou o comprometimento irreversível da vegetação nativa e dos componentes da bacia hidrográfica do referido rio. Com efeito, as lagoas e riachos que garantiam o equilíbrio dos diversos ecossistemas, durante os primeiros cem anos, desapareceram sob a fúria dos especuladores, que realizaram os grandes loteamentos das zonas Leste e Sudeste. Tais danos ambientais não foram previstos pelos administradores municipais e pelos especuladores imobiliários, mas os seus custos estão sendo pagos por todos os habitantes da cidade, neste início de século XXI.
É que o processo desastroso, que resultou da progressiva ampliação do perímetro urbano orientada para as regiões Leste e Sudeste, só pode ser compreendido se o analista detiver conhecimento histórico e coragem de encarar os fatos políticos e econômicos, ocorridos nos últimos 40 anos, sem se submeter às normas de interpretação definidas pelos beneficiários diretos ou indiretos da partilha do poder. Caso não satisfaça a estes requisitos, concluirá que o processo de desenvolvimento urbano está sendo cumprido, em todas as suas etapas, conforme o planejamento elaborado por técnicos competentes e honestos. Ufanisticamente, levantará dados estatísticos referentes às cifras do capital investido na construção civil e nas instalações das estruturas de prestação de serviços públicos e, orgulhosamente, elogiará as realizações dos carnavais fora de época, que geram milhares de empregos temporários e são fontes sazonais de renda, como inquestionáveis indicadores de progresso social. Excluirá também, sem dúvida, de sua análise, o degradante processo de favelização disseminado por todas as zonas do espaço urbano, fato social arraigado nos conglomerados de cortiços, onde milhares de miseráveis são politicamente manipulados sob a forma de organismos associativos, na verdade instrumentos de poder benéficos às facções políticas de todas as cores.
É óbvio que os administradores municipais e os seus consultores e sequazes sabem que as estruturas de prestação de serviços públicos existentes no município de Teresina estão em acelerado processo de degradação e que os vínculos das relações sociais definidores das normas de conduta dos habitantes da cidade se acham em acentuado desgaste. Por isso, insistem nas freqüentes campanhas publicitárias que anunciam as surpreendentes metas alcançadas nas execuções das políticas públicas de habitação, saúde e educação, alardeados em coloridíssimos painéis. Ocorre que todos os administradores públicos da cidade têm conduta ilibada e seus argumentos políticos estão corretíssimos.
Equivocados e insensatos foram José Antônio Saraiva e Abdias da Costa Neves, que planejaram uma cidade caracterizada por um espaço físico racionalmente estabelecido para ampliações horizontais sucessivas e crescentes, com eixo central orientado de norte para sul, sem agressões aos ecossistemas definidos pelos cursos dos rios Parnaíba e Poty. Teresina foi, pois, projetada como cidade economicamente dinâmica, que seria referência para as regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste, porque vocacionada a ser o pólo de atividades mercantis do Meio-Norte, com um ativo porto fluvial no rio Parnaíba, para o qual convergiriam os troncos ferroviários para escoamento dos fluxos de produção dos pólos agrícolas e agroindustriais das regiões Norte e Centro-Oeste.
Quem estiver vivo para comemorar o bicentenário da cidade, em 2052, acertará contas políticas e sociais e passará a limpo essa história, como tributo à memória daqueles que, verdadeiramente, e aqui vale a redundância, a planejaram para o futuro.

*Paulo Machado é poeta, pesquisador, advogado e integrante da Geração Pós-69, no âmbito, hoje, do Grupo Pulsar de Cultura.


Acontecendo em Teresina


A Mídia e o Medo

Edmar Oliveira


Quando estive em Teresina da última vez reparei que um fenômeno, que já vinha acontecendo de tempos antes, agora está exacerbado. Os prédios se empinando no rumo das nuvens, todo mundo querendo morar atrepado, desvalorização das casas de rua, com os muros ficando mais alto, escondendo as bonitas residências de antes. E as cercas elétricas estendidas no alto dos muros lembrando presídios e campos de concentração. E um medo de assalto, um medo dos mais pobres e pretos muito maior que antigamente.

E, assunto de todos, o aumento da violência na cidade. O medo das pessoas bem maior do que o medo que se tem no Rio de Janeiro. E a pergunta insistente de como é que alguém pode morar no Rio de Janeiro com a violência transmitida pela televisão. Fiquei encasquetado com aquilo.

E matutei aqui comigo: primeiro a televisão tirou de Teresina as cadeiras na calçada à noitinha, quando se ficava a esperar “o vento que vinha de Parnaíba”, numa prosa com os vizinhos. Eu vi essa passagem. Quando a televisão transmitiu a copa de 70 foi com uma imagem trazida do Ceará, que mais chuviscava do que se viam os jogadores correndo atrás da bola. Depois o sonho do Valter Alencar trazendo a TV na canção da Wanderléia: “vem aí a TV/Rádio Club pra você” (alguém lembra aí da música?). Aí as cadeiras saíram das calçadas para prestar atenção nas novelas da TV. Que modelou os costumes, o modo de vestir de todo mundo. A jaqueta Lee fez moda num sol de quarenta graus.

Agora a TV diz todo dia dos assaltos e da violência do Rio. Claro que tem lugares violentos. Toda cidade grande tem. Mas tem muitos lugares em que se pode viver em paz com uma taxa de violência aceitável. No Rio, na Cidade do México, em Tóquio. Não em Teresina. Além de acharem que eu vivo entre rajadas de tiros e assaltos a cada esquina, acham também que essa violência da mídia chegou a Teresina. E deve ter chegado mesmo, mas não em todo lugar. A mídia não ensina direito a geografia e muitos me ligaram para saber como eu estava sobrevivendo às enchentes que aconteciam na Região Serrana a uns 70 ou 100 quilômetros de distância da minha casa. Tipo em Altos e Campo Maior para quem mora em Teresina. Mas a violência de Teresina, dizem, está em toda parte. Andei como de costume e não a encontrei. Sorte minha.

Posso estar errado. A violência chegou a Teresina, como chega a qualquer cidade que cresce assustadoramente, tirando os moradores nativos do lugar. Quando todo mundo se conhece se rouba galinhas. Quando ninguém se conhece a violência campeia. Mas não em toda parte.

Queria estar errado. Mas acho que a mídia ajuda a disseminar um medo sem limites e, geralmente, um medo dos pobres, dos pretos, dos desvalidos...

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Foto da Ponte Estaiada contrastando com o Morro do Urubú (agora eufemisticamente rebatizado de Morro da Esperança) de Paulo Tabatinga.
Foto de cadeiras na calçada, em Oeiras, de Moisés Oliveira Filho

Foto da Semana


Poemartemanhas

“ Teresina apagou-se na distancia
Ficou, longe de mim, adormecida,
Guardando a alma de sol da minha infância
E o minuto melhor da minha vida”
(...)
“ tudo me desconhece. Ingrata é a terra.
O céu é frio. E eu sigo para frente,
Como quem vai seguindo para a guerra.”   Lucídio Freitas


Fotopoema


Filosofando

Para quem tem de pagar na Páscoa,
A quaresma é curta.   Machado de Assis



                                             DEUS SEJA LOUVADO!