Total de visualizações de página

sábado, 18 de junho de 2011

UBUNTU


A filósofa Lia Diskin, no Festival Mundial da Paz, em Floripa (2006),

nos presenteou com um caso de uma tribo na África chamada Ubuntu.
Ela  contou que um antropólogo estava estudando os usos e costumes da tribo e,

quando  terminou seu trabalho, teve que esperar pelo transporte que o levaria
até o aeroporto de volta pra casa. Sobrava muito tempo, mas ele não queria catequizar os membros da tribo; então, propôs uma brincadeira pras crianças, que achou ser inofensiva.
Comprou uma porção de doces e guloseimas na cidade, botou tudo num cesto
bem bonito com laço de fita e tudo e colocou debaixo de uma árvore.
Aí ele  chamou as crianças e combinou que quando ele dissesse "já!",
elas deveriam sair correndo até o cesto, e a que chegasse primeiro ganharia
todos os doces que estavam lá dentro.
As crianças se posicionaram na linha demarcatória que ele desenhou no chão
e esperaram pelo sinal combinado. Quando ele disse "Já!", instantaneamente
todas   as crianças se deram as mãos e saíram correndo em direção à árvore com o cesto.
Chegando lá, começaram a distribuir os doces entre si e a comerem felizes.
O antropólogo foi ao encontro delas e perguntou porque elas tinham ido todas juntas
se uma só poderia ficar com tudo que havia no cesto e, assim, ganhar muito mais doces.
Elas simplesmente responderam:
"Ubuntu, tio. Como uma de nós  poderia ficar feliz se todas as outras estivessem tristes?"

Ele ficou desconcertado! Meses e meses trabalhando nisso, estudando a tribo,

e ainda  não havia compreendido, de verdade,a essência daquele povo.
Ou jamais teria proposto uma competição, certo?
Ubuntu significa: "Sou quem sou, porque somos todos nós!"
Atente para o detalhe: porque SOMOS, não pelo que temos...

_________________________________________________________________________


Fotopoema






Foto da Semana



Acontecendo em Teresina

Teresina exige o uso da faixa de pedestre, mas não dá condições razoáveis e seguras para quem,
por ventura, dela possa precisar. A maioria está mal sinalizada e com pinturas apagadas. As faixas deveriam ter semáforos, inclusive com sinais sonoros, facilitando o inexorável trânsito.
A todo momento acontecem acidentes devido à péssima sinalização dessas faixas.



Poemartemanhas

REVELAÇÃO     ( Naeno)

Tão só,
A tua beleza fulgura entre todas
De longe escuto o teu nome
Calado dentro de mim
Como o seu palpitar
Que me afiança estar vivo
Pleno com a capacidade de amar-te.
Tão só,
O teu jeito, o teu riso
Entre as bocas adornadas de carmim
E tu dentro de mim
Como um órgão vital
Tu, a bela tão desigual.
Tão só,
Eu, que vou querer-te sempre
Como se afina, como se anima
A minha vida por já saber
Que esta será sempre a minha sina
Amar-te, tão distante de mim.

Naeno*comreservas"







Filosofando

"Tudo o que não invento é falso".Manoel de Barros


Poemartemanhas 2


Ranieri Ribas

TERESINA, BÊBEDA BLUES

Teresina
Por que me deste esta herança?
Vila da paz, Irmã Dulce, Itararé
Poty Velho, Monte Castelo e Santa-Fé.
Por que me deste?
Esta luz infusa e ferina
E o crepúsculo em ti escarlatina
Teresina, assim cega de sol.

Tristeresina, “cidade verde”.
Tens as pupilas baldias
és cinza e celeste azulíssima
grisazul, sem mar nem brisa
és uma estufa abafadiça
sombra, suor e preguiça.

eu sei, Teresina.
Nada ainda te resigna:
Queres alcançar o mar,
Mercadejar buganvílias
Semear edifícios, eucaliptos
Queres do boi a autoria
Resfriar seu clima em quinze centígrados.

Mas estás em sesta eterna.
Ao meio-dia, suas ruas entoam elegias
Ouvimos o ranger das redes em que cochilas

Teresina, imperatriz do tédio
A madrugada nos convida
por mil cabarés serás invadida
Serás dos homens cafetina.
Oh, Teresa Cristina
E juntos ergueremos um busto a Beth Cuzcuz.
Não recuse.
Um busto a musa em praça pública.
Eu direi: raimundinha, meia-nove, mói-de-vara
socorrona, ronya, roxa,
rancho e o que valha.

E quando o sol nascer
seu amanhecer de ressaca, Teresina
uma panelada no mercado da Piçarra.

Teresina, vês:
Programas de TV
socialytes e viados
apresentadores debochados
Playboys obesos.



Teresina
Você sabe com quem está falando?
Um velho barrigudo com Hilux e tudo
Filho do prefeito do cu-do-mundo
primo do desembargador
serás eternamente esta merda,
terra de rastaqüeras?

Teresina,
Dançávamos reggae na Tabuleta
Mangueirão com Senzala
Eras o reggaeiro mala
Dançávamos canivete e bala
Levados ao embalo da morte.
E morreste.

Teresina
de tudo isso herdaste apenas
a fedentina, a micarina, a fuleragem e a estupidez.
Estás obesa, tens as veias entupidas de carros e buzinas.
Seus rios serão rios de cerveja e urina.

Teresina
sou um homem branco, cabelo liso.
Trate-me bem!
tenho um carro do ano, pose de rico.
mas, há sempre alguém
querendo alguma sinecura.
Teresina. Eu darei.
Serei empregado público concursado, eleito, engravatado, deputado, tributável, bacharel.
Carro financiado, direi que todo mundo é viado!
Artista, bêbado, menestrel

Teresina
Sesmaria entre o Poty e o Parnaíba
Não parirás outras raparigas
como as catirobas do itararé.
Cunhã, catreva, vadia, gato-réi
cabelo na prancha e piercing reluzente
buscando caras brancos com cara de zona leste
carro rebaixado, som alto, forró e Chiclete.

Teresina sua sina assim me deste:
Algazarras no sábado, cerveja gelada e cigarro US
Transcol, sol escaldante, parada lotada
Ambulantes e coquetes.
Serás sempre esta capitania
Península, encabulada,
insulada do mundo, servil e acaboclada
Filha bastarda de Conselheiro Saraiva
Subjugada por coronéis?

Teresa Cristina
estas ruas sem árvore nem vida
em setembro
as costelas secas do Parnaíba
exibem suas coroas ressequidas
areia, ferro e ruínas

Teresa Cristina
Imperatriz rediviva
Viverás para sempre esta tertúlia infinita
Para aplacar o tédio que a tantaliza?

Teresina: “seja bem-vindo”.
motéis a dez reais.

Mandarina longínqua
Teresa prístina
sua história é uma porta de saída
não olharás para trás.
Serás, cruel, maligna, destrutiva
Em cada casa demolida
Fingindo não ser mera província
Nordestina Miami mínima
Futuríssima Teresina
cidade sem caráter.


Divulgação

domingo, 12 de junho de 2011

O kit anti-corrupção - Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa

O mais necessário deles, nunca foi mencionado. Para a quase totalidade da população brasileira, seria o único kit a resolver nossos problemas. Certamente prejudicaria a ínfima parcela que impede sua confecção, mas isso não nos impede de perguntar: cadê o kit anti-corrupção?
Deveria ser confeccionado urgentemente, em vários tipos, para ser distribuído nas creches, jardins, escolas, colégios, universidades e repartições públicas.

Para começar, deveríamos trocar o nome do estojo de material de ensino: kit, se me permitem a sinceridade, é a mãe. O português, língua falada por mais de 240 milhões de pessoas em todo o mundo, com cerca de 228 500 entradas, 376 500 acepções, 415 500 sinônimos, 26 400 antônimos e 57 000 palavras arcaicas, é lexicamente muito rico e não precisa dessas três letrinhas estrangeiras para nominar um estojo (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa).
O material traria explicações sobre os males da corrupção. Naturalmente, tudo de acordo com a idade do usuário. Fichas com o verbete corrupção e seus significados, para que a palavra não fosse usada assim à toa, sem que seu sentido ficasse bem claro na mente de quem fala ou ouve.
Deveria deixar bem claro que corruptor e corrupto são farinha do mesmo saco. O que os distingue é a posição que ocupam, que é intercambiável: um vende, outro compra; um suborna, outro se deixa subornar; um estraga, outro se deixa estragar; um contamina quem toca, outro se deixa contaminar.
Muitas vezes as palavras, de tão usadas, perdem seu impacto e acabam sendo empregadas de modo ligeiro, sem que seu real sentido penetre em nossa mente: um corrupto é um corrompido que corrompe outra pessoa que se deixa corromper e, portanto, passa a ser corrompida ela também.
O estojo se destinaria a interromper esse toma lá dá cá e faria com que as crianças crescessem com um solene preconceito contra corruptos, de qualquer tipo e feitio.
E antes que a palavra preconceito cause chiliques em quem a usa sem nem sequer se dar ao trabalho de apreender seu significado, esclareço que ter preconceito contra corruptos e corruptores é sinal de sanidade mental e mais, de entranhado amor à Pátria.
Devemos, sim, ter preconceito contra o espetáculo da miséria feia, suja, monstruosa, que debilita crianças em formação e nos torna uma nação doente; contra o analfabetismo, terreno fértil que nem precisa de adubo para que ali brote o espetáculo da sordidez mais vil: o excesso indecente para a minoria e a escassez quase absoluta para grande parte da maioria.
O todo filho dileto da corrupção
Um brasileirinho com fome, em 2011, primeiro ano da segunda década do século XXI

______________________________________________________________________


Acontecendo em Teresina


Pergunta que não quer calar: por onde andará o velinho que dormia na praça, depois que o Salipi instalou-se ali
?

Fotopoema



Foto da Semana




Poemartemanhas

Mensagem - análise do poema "D. Sebastião"

Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.

Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?
Fernando Pessoa


Filosofando

“Ser feliz significa ser auto-suficiente” Aristóteles


quarta-feira, 8 de junho de 2011

Vaidade - Herbet Viana


O mundo pirou, enlouqueceu. Hoje, Deus é auto-imagem. Religião é dieta. Fé, só na estética. Ritual é malhação. Amor é cafona, sinceridade é careta, pudor é ridículo, sentimento é bobagem. Gordura é pecado mortal.ruga é contravenção.roubar pode, envelhecer, não.estria é caso de polícia. Celulite é falta de educação. Filho-da-puta bem sucedido é exemplo de sucesso. A máxima moderna é uma só: pagando bem, que mal tem? A sociedade consumidora, a que tem dinheiro, a que produz não pensa em mais nada além da imagem, imagem, imagem.

conceito, estética, medidas, beleza. Nada mais importa. Não importam os sentimentos, não importa a cultura, o relacionamento, a amizade, a ajuda, nada mais importa. Não importa o outro, a volta, o coletivo. Jovens não têm mais fé, nem idealismo, nem posição política. Adultos perdem o senso em busca da juventude fabricada. Ok, eu também quero me sentir bem, quero caber nas roupas, quero ficar legal, quero caminhar, correr, viver muito, ter uma aparência legal, mas.. uma sociedade de adolescentes anoréxicas e bulímicas, de jovens lipoaspirados, turbinados aos vinte anos não é natural. Não é, não pode ser.

( trecho do artigo “Vaidade”, de Herbert Viana ) 

Acontecendo em Teresina

Salipi - Programação











_____________________________________________________________________________


Livro de Paulo Tabatinga
Na Toccata - Salipi




____________________________________________________________________________



Cicero Manoel - Exposição em Fortaleza





__________________________________________________________

Foto da Semana



____________________________________________________________________

Fotopoema




_____________________________________________________________________


Poemartemanhas

“QUERO O LIRISMO DOS LOUCOS
O LIRISMO DOS BÊBADOS
O LIRISMO DIFÍCIL E PUGENTE DOS BÊBADOS
O LIRISMO DOS CLOWNS SHAKESPIERE
- NÃO QUERO MAIS SABER DO LIRISMO QUE NÃO É LIBERTAÇÃO”.
                               
                                                             Manuel Bandeira

_____________________________________________________


Filosofando

Somente entre os tolos é que os sábios são destituídos de sabedoria.   Sócrates

_____________________________________________________

Quem ama a leitura
tem nas mãos as chaves do mundo .  Rubens Alves




quarta-feira, 1 de junho de 2011

sessentinha - Edmar Oliveira

.
Confesso: me fudi. Entrei no involuntário grupo da terceira idade, que só a ironia deslavada chama de melhor idade. E não há retorno possível. Portanto, relaxe e goza (se ainda for possível!)

Sabe quando os meninos começam a te chamar de tio? Aí você está entre os quarentas e cinqüentas primaveras. Foi doloroso, mas não imaginava nada pior. Veio “senhor”. Esse “senhor”, dito de forma imprópria, no teu perceber, soa alguma gozação, troça, pilheria de mau gosto. E você vai ficar com saudades de quando te chamavam de tio.

Outro dia encontrei com um amigo cineasta na anti-sala de exames de um laboratório. Não me contive: antes a gente se encontrava num bar, agora é aqui. E falamos, despudorozamente, de taxas de glicose, colesterol e do indefectível PSA, que nos lembra que tudo começou numa dedada há uma década.  

Se antes a gente separava uma quantia em dinheiro para ultrapassar, vez por outras, os chopes da rotina, hoje a reserva é para os medicamentos de uso contínuo, que só vão desaparecer do nosso convívio quando desaparecermos da face da terra. E eu compro tanto remédios, que já me deram, de brinde, uma caixinha com os dias da semana para guardar os remédios. Porque já com essa idade a gente costuma esquecer se já tomou o remédio de hoje. E corre o risco de não tomar o remédio, por esquecimento, fazendo a pressão subir e ficar exposto a um derrame; ou, tanto faz, tomar em dose dupla, também por esquecimento, e ter uma isquemia cerebral.

E, por essa idade, se você for a um médico, por qualquer bobagem, uma gripe, uma gastrite, recebe, como bônus pela a idade, uma bateria de exames em que vão aparecer problemas sérios. Isto é, aqui é possível você não sentindo nada descobrir que é um doente grave. Por isso eu corro de médicos como o diabo da cruz. Quem procura, acha, já nos dizia o dito popular.

Mas para tantas desgraças é preciso uma compensação. E tem? A gente pode fazer as contas de quanto já trabalhou e providenciar a aposentadoria. Confesso que fiz as minhas e já sobra tempo e ainda tenho meio ano de licença prêmio pra tirar. Isso é bom. Se a gente tiver o que fazer. Pois não fazer nada é meio insuportável. Portanto estou fazendo uns planos para ocupar o tempo de não fazer nada para entrar com o pedido de “basta, tô velho!”, em reconhecimento da situação que você pensava “nunca iria chegar”.

A minha passagem para a terceira idade foi no dia 11 de maio. Mas ela já tinha acontecido um pouco antes. Sabe quando caiu a ficha? A bonita recepcionista do banco sorriu pra mim e eu, todo prosa, também ensaiei  um sorriso re retribuição. A belezura me deu uma ficha de fila preferencial para que eu fosse atendido. Doeu.

desenho luxuoso de Gervásio Castro

Acontecendo em Teresina

SALIPI
Falta pouco para o 9º Salão do Livro do Piauí e 14ª edição do Seminário Língua Viva, que ocorre de 5 a 12 de junho no Complexo Cultural da Praça Pedro II. A abertura, que contará com palestra do escritor e historiador Laurentino Gomes, será no domingo (05) às 18h30 no auditório do Clube dos Diários.

Este ano, o Salipi homenageia o professor, escritor e acadêmico da APL, Raimundo Santana. O evento lembra ainda o centenário de nascimento de Dinah Silveira de Queiroz, o centenário de nascimento de Nelson Cavaquinho e o escritor Moacir Scliar (in memoriam).

Além da abertura, que contará com a presença de Laurentino Gomes, a programação conta ainda com Guilherme Fiúza, João Gilberto Noll, (foto), Ana Paula Maia e José Carlos Capinan. Na quinta, 10, a noite será internacional, com palestra do cubano Alpidio Alonso-Grau. Os piauienses também são destaque no Salipi, com palestras de Assis Brasil, Douglas Machado e Gustavo Said.

Para Feliciano Bezerra, um dos coordenadores do evento, o público poderá conferir uma programação de muita dança, música popular, poesia, lançamentos e tudo mais que educa e diverte. “Tudo que é tradição no Salipi será mantido”, afirma, lembrando que a expectativa de público este ano é de quase 200 mil pessoas.

"O que você não encontra nas livrarias, você encontra no Salão, que tem opções, tem produtos para todos os gostos”, garante Luiz Romero, presidente da Fundação Quixote, entidade responsável pelo Salipi.

O encerramento do Salão, dia 12 de junho às 18h30, será ao som de dois gigantes da música piauiense: Validuaté e Valor de PI.
 encerramento do Salão, dia 12 de junho às 18h30, será ao som de dois gigantes da música piauiense: Validuaté e Valor de PI.

Fonte: Portal AZ
_________________________________________________________________________________

Aproveitando a onda do Salipi
Paulo Tabatinga fará o lançamento do Livro Somente Para Bêbado,
isto é, se a praça estiver, pelo menos um pouco, embriagada.
_________________________________________________________________________________


Convite de Lançamento
Livro Von Meduna de Edmar Oliveira
Local: Clube dos Diários
Dia: 12/06  Hora: 15h - SALIPI

a incrível história devon Medunae a Filha do Sol do equador


Do mesmo autor de “Ouvindo Vozes”. Enquanto no livro anterior os porões da Foto da Semanasiquiatria brasileira foram abordados através das “histórias do Engenho de Dentro e lendas do Encantado”, recuperando para a vida pessoas soterradas na continuação do primeiro hospício do Brasil, no Rio de Janeiro, neste livro o autor “invenciona” a história de von Meduna no seu caso de amor à terra “Filha do Sol do Equador”.
Participante da Reforma Psiquiátrica que se instala em Teresina, como consultor, o autor, radicado no Rio de Janeiro, mas apaixonado por sua terra natal, mergulha na história da Psiquiatria no Piauí, se envolve emocionalmente com as aventuras dos loucos de sua infância, e apresenta um painel apaixonado de histórias da psiquiatria piauiense, da implantação de um modelo comunitário de assistência que se propõe substituir a internação psiquiátrica.
Não é um livro técnico, mas um romancear de quem toma partido contra uma psiquiatria repressiva que deve ser atacada no campo dos direitos humanos. Um livro para ser discutido por estudantes, profissionais, usuários, familiares, enfim, por toda à sociedade a quem é proposta von Meduna e a loucura do sertão
.
E como o modelo que foi combatido, o hospício, é o mesmo em qualquer lugar do planeta, não é um livro sobre o que acontece no Piauí, mas sobre o que faz a psiquiatria em todos os hospícios de qualquer cidade do Brasil e um elogio à forma de acontecer a Reforma Psiquiátrica, prática em saúde mental que vem substituindo o antigo manicômio em todo o país


Foto Da Semana


Fotopoema



Poemartemanhas


                          “Sensation”.   Rimbaud
Par les beaux soirs d’été, j’irai dans les sentiers
Picoté par les blés, fouler l’herbe menue:
Rêveur, j’en sentirai la fraîcheur à mes pieds:
Je laisserai le vent baigner ma tête nue.
Je ne parlerai pas, je ne penserai rien…Mais un amour immense entrera dans mon âme,
Et, j’irai loin, bien loin; comme un bohémien
Par la Nature, — heureux comme avec une femme!
(1870)
oooo0000oooo
Nas belas tardes de verão, pelas estradas irei,
Roçando os trigais, pisando a relva miúda:
Sonhador, a meus pés seu frescor sentirei:
E o vento banhando-me a cabeça desnuda.
Nada falarei, não pensarei em nada:
Mas um amor imenso me irá envolver,
E irei longe, bem longe, a alma despreocupada,
Pela Natureza — feliz como com uma mulher.

Filosofando
“ Eu poderia cantar uma canção e vou cantá-la, embora esteja sozinho numa casa vazia e tenha de cantá-la para meus próprios ouvidos”    Nietzsche


Para Relaxar

SABEDORIA MILENAR DO KUNG FU GAFANHOTO  -  MESTRE, POR QUE ANTES DO SEXO CADA UM AJUDA O OUTRO A FICAR NU,  E DEPOIS DO SEXO CADA UM SE VESTE SOZINHO?!

MESTRE  -   PEQUENO GAFANHOTO,  NA VIDA NINGUÉM TE AJUDA DEPOIS QUE VOCÊ ESTÁ FODIDO!

domingo, 22 de maio de 2011

A SERVIDÃO VOLUNTÁRIA

A SERVIDÃO VOLUNTÁRIA...

Fábio Konder Comparato


As rebeliões populares que sacodem atualmente o mundo árabe têm, entre outros méritos, o de derrubar não só vários regimes políticos ditatoriais em cadeia, mas também um mito político há muito assentado. Refiro-me à convicção, partilhada por todos os soi-disant cientistas políticos, de que um povo sem organização prévia e não enquadrado por uma liderança partidária ou pessoal efetiva, é totalmente incapaz de se opor a governos mantidos por corporações militares bem treinadas e equipadas,  com o apoio do poder econômico e financeiro do capitalismo internacional.


Pois bem, há quatro séculos e meio um pensador francês teve a ousadia de sustentar o contrário. Refiro-me a Etienne de la Boëtie, o grande amigo de Montaigne.  No Discurso da Servidão Voluntária, publicado após a sua morte em 1563, ele pronunciou um dos mais vigorosos requisitórios contra os regimes políticos e governos opressores da liberdade, de todos os tempos.


Seu raciocínio parte do sentimento de espanto e perplexidade diante de um fato que, embora difundido no mundo todo, nem por isso deixa de ofender a própria natureza e o bom-senso mais elementar. O fato de que um número infinito de homens, diante do soberano político, não apenas consintam em obedecer, mas se ponham a rastejar; não só sejam governados, mas tiranizados, não tendo para si nem bens, nem parentes, nem filhos, nem a própria vida.


Seria isso covardia? Impossível, pois a razão não pode admitir que milhões de pessoas e milhares de cidades, no mundo inteiro, se acovardem diante de um só homem, em geral medíocre e vicioso, que os trata como uma multidão de servos.


Então, “que monstruoso vício é esse, que a palavra covardia não exprime, para o qual falta a expressão adequada, que a natureza desmente e a língua se recusa a nomear?”


Esse vício nada mais é do que a falta de vontade. Os súditos não precisam combater os tiranos nem mesmo defender-se diante dele. Basta que se recusem a servi-lo, para que ele seja naturalmente vencido. Uma nação pode não fazer esforço algum para alcançar a felicidade. Para obtê-la, basta que ela própria não trabalhe contra si mesma. “São os povos que se deixam garrotear, ou melhor, que se garroteiam a si mesmos, pois bastaria apenas que eles se recusassem a servir, para que os seus grilhões fossem rompidos”.


No entanto – coisa pasmosa e inacreditável! –, é o próprio povo que, podendo escolher entre ser escravo ou ser livre, rejeita a liberdade e toma sobre si o jugo. “Se para possuir a liberdade basta desejá-la, se é suficiente para tanto unicamente o querer, encontrar-se-á uma nação no mundo que acredite ser difícil adquirir a liberdade, pela simples manifestação desse desejo?”


O que La Boëtie certamente não podia imaginar é que, durante os primeiros séculos do Brasil colonial, foi muito difundida a prática da servidão voluntária de indígenas maiores de 21 anos. Encontrando-se eles em situação de extrema necessidade, a legislação portuguesa da época permitia que se vendessem a si mesmos, celebrando um contrato de escravidão perante um notário público.


De qualquer modo, prossegue o nosso autor, a aspiração a uma vida feliz, que existe em todo coração humano, faz com que as pessoas, em geral, desejem obter todos os bens capazes de lhes propiciar esse resultado. Há um só desses bens que elas, não se sabe por que, não chegam nem mesmo a desejar: é a liberdade. Será que isto ocorre tão-só porque ela pode ser facilmente obtida?


Afinal, de onde o governante, em todos os paises, tira a força necessária para manter os súditos em estado de permanente servidão? Deles próprios, responde La Boëtie.

“De onde provêm os incontáveis espiões que vos seguem, senão do vosso próprio meio? De que maneira dispõe ele [o tirano] de tantas mãos para vos espancar, se não as toma emprestadas a vós mesmos? E os pés que esmagam as vossas cidades, não são vossos? Tem ele, enfim, algum poder sobre vós, senão por vosso próprio intermédio?”


A conclusão é lógica: para derrubar os tiranos, os povos não precisam guerreá-los. “Tomai a decisão de não mais servir, e sereis livres”. Aí está, avant la lettre, toda a teoria da desobediência civil, que veio a ser desenvolvida muito depois que aquelas linhas foram escritas.


É de completa evidência, prossegue o autor, que somos todos igualmente livres, pela nossa própria natureza; e que o liame que sujeita uns à dominação dos outros é algo de puramente artificial. Mas então, como explicar que esse artifício seja considerado normal e a igualdade entre os homens não exista praticamente em lugar nenhum?


Para explicar esse absurdo da servidão voluntária, La Boëtie aponta algumas causas: o costume tradicional, a degradação programada da vida coletiva, a mistificação do poder, o interesse.


Foi por força do hábito, diz ele, que desde tempos imemoriais os homens contraíram o vício de viver como servos dos governantes. E esse vício foi, ao depois, apresentado como lei divina.


É também verdade que alguns governantes decidiram tornar mais amena a condição de escravo, imposta aos súditos, criando um sistema oficial de prazeres públicos; como, por exemplo, os espetáculos de “pão e circo”, organizados  pelos imperadores romanos.

Outro fator a concorrer para o mesmo efeito foi o ritual mistificador que os poderosos sempre mantiveram em torno de suas pessoas, oferecidas à devoção popular. O grotesco ditador Kadafi, com seus trejeitos de mau ator de opereta, nada mais fez do que reproduzir, mediocremente, vários tiranos do passado. “Antes de cometerem os seus crimes, mesmo os mais revoltantes”, lembrou La Boëtie, “eles os fazem preceder de belos discursos sobre o bem geral, a ordem pública e o consolo a ser dado aos infelizes”.


Por fim, a última causa geradora do regime de servidão voluntária, aquela que La Boëtie considera “o segredo e a mola mestra da dominação, o apoio e fundamento de toda tirania”, é a rede de interesses pessoais, formada entre os serviçais do regime. Em degraus descendentes, a partir do tirano, são corrompidas camadas cada vez mais extensas de agentes da dominação, mediante o atrativo da riqueza e das vantagens materiais.


No Egito de Mubarak, por exemplo, oficiais graduados das forças armadas ocupavam cargos de direção, muito bem remunerados, nas principais empresas do país, privadas ou públicas. Algo não muito diverso ocorreu entre nós durante o vintenário regime militar, com a tácita aprovação dos meios de comunicação de massa, a serviço do poder econômico capitalista.


Pois bem, se voltarmos agora os olhos para este “florão da América”, veremos um espetáculo bem diverso daquele que nos fascina, hoje, no Oriente Médio. Aqui, o povo não tem a menor consciência de ser explorado e consumido. As nossas classes dirigentes, perfeitamente instruídas na escola do capitalismo, nunca mostram suas fuças na televisão. Deixam essa tarefa para seus aliados no mundo político. Elas são anônimas, como a sociedade por ações. E o jugo que exercem é insinuante e atraente como um anúncio publicitário.





Por estas bandas o povão vive tranqüilo e feliz, na podridão e na miséria.

http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/comparato-a-servidao-voluntaria.html

 

Acontecendo em Teresina

Está acontecendo no Museu do Piauí a Exposição AUSÊNCIA TUA de 18 de Maio a 30 de Junho.
Artista: Adler Murad, Cícero Manoel, Gabriel Archanjo, Valdeci Veron, Elon Constantino, e João Marciano.


Foto da Semana



 


Para Relaxar

O primeiro protetor de testículos, na prática do hóquei, foi criado em 1874.
O primeiro capacete para a proteção da cabeça foi usado em 1974.

Conclusão:

Foi necessário um século
Para que os homens percebessem
Que o cérebro também é importante.


Fotopoema




Poemartemanhas





Filosofando

Filosofia de mesa de bar:
                                                     
Osama
Obama
Ou Brahma?!

Outra:

A voz do povo é a voz do diabo.

domingo, 15 de maio de 2011

"O valioso tempo dos maduros" - Mário Pinto de Andrade


Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica são imaturas.
Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral.
'As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade,
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,
O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial!

Mário Pinto de Andrade
Escritor e político angolano, de nome completo Mário Coelho Pinto de Andrade.
(1928-1990)



Para Relaxar

Diz a lenda que Rui Barbosa, ao chegar em casa, ouviu um barulho estranho vindo do seu quintal. Chegando lá, constatou haver um ladrão tentando levar seus patos de criação.Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com seus amados patos, disse-lhe:- Oh, bucéfalo anácrono! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa.
Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com
minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à qüinqüagésima potência que o vulgo denomina nada.E o ladrão, confuso, diz:
- Dotô, resumindo, eu levo ou deixo os pato?



Fotopoema




Acontecendo em Teresina

Trânsito desumanizado - Teresina - Pi.


Filosofando

“ A verdadeira vida está ausente, e não está no mundo” Robert Bréchon

 
Foto da Semana


Poemartemanhas

O POEMA E A MÁQUINA
                                                        NELSON NUNES

UM HOMEM MAIS OUTRO HOMEM
NÃO FAZEM UM DESTINO.
SERÃO SEMPRE UM HOMEM E OUTRO HOMEM
A CORREREM COMO DOIS PARALELOS.

UM TRABALHA O FERRO EXTRAÍDO DA TERRA
E COM TODO FERVOR FABRICA A MÁQUINA.
O OUTRO PASTOREIA UM REBANHO DE PALAVRAS
E COMO PARA DISTRAIR ESTRELAS FAZ POEMAS.

CADA UM COM SUA LINGUAGEM
COM SUA FERRAMENTA
ENFRENTA O MUNDO
CONSTRÓI SEU SONHO.

O FERRO FUNDIDO EM PALAVRA FUNDE A VIDA.
A MÁQUINA É O POEMA DO OUTRO HOMEM.
O POETA QUER DECIFRAR A MÁQUINA
QUE QUER DEVORAR O HOMEM.


sábado, 7 de maio de 2011

“Bullying” contra o português

Nosso idioma é vulnerável aos ataques do inglês, e ninguém está disposto a protegê-lo... até porque falar errado virou chique

Luís Antônio Giron
Na semana passada, minha mulher comprou um pote de geleia de mirtilo, com o seguinte selo: “Geleia de blueberry”. Num acesso de hipercorreção, risquei a palavra “blueberry” e escrevi por cima “mirtilo”, não sem antes passar um “branquinho” sobre o rótulo. “Você está louco?”, me disse Miriam ao descobrir o trote. “É assim que nascem os serial killers!”, exagerou. Respondi no meu espírito habitual: “Brincadeira sem graça. E por que não ‘assassinos seriais’?” Ela atacou: “Porque você diria que é anglicismo”. Neutralizado pela jogada dela, fiquei tentando encontrar um correspondente em português para “serial killer”, mas não consegui. Tive de me resignar à expressão americana. “Tudo bem, assassino serial, tudo em nome da língua portuguesa. Não aguento mais escreverem tudo errado!” Ela riu: “Se constasse ‘mirtilo’ em vez de ‘blueberry’ no rótulo, o produto não venderia! Sabe por quê? Porque ninguém sabe o que é mirtilo.” Pois é, ninguém leva a questão da pureza da língua a sério. Sobrei eu. Ou nem eu...

Mas, como diriam os sambistas, ainda posso ser considerado um dos “últimos baluartes da língua portuguesa”. Pode parecer um título pretensioso, até porque não recebi de ninguém outorga ou procuração para a função. Ou ridículo, por lembrar o personagem do romance Triste fim de Policarpo Quaresma, publicado em 1915, de Lima Barreto: Policarpo é aquele coronel aposentado que infla o peito quando fala de Brasil e se orgulha de tudo o que é nativo, a ponto de propor que o tupi-guarani seja elevado a idioma oficial da república. Claro ele que dá com os burros n’água e é ridicularizado por todos, inclusive pelo narrador. Não sou xenófobo nem avesso a influências estrangeiras em qualquer que seja a cultura, a brasileira inclusive. Defendo o acesso universal à cultura e aos idiomas em um planeta cada vez menor. Costumo dizer que é sempre melhor um plus a mais do que um less de menos. Há situações, porém, que me causam tamanha irritação, que tem gente me chamando de Novo Policarpo Quaresma. Já peguei a fama na minha própria causa por causa do mirtilo, mais conhecido por aqui como blueberry.

Nessas, quem se estrepa sou eu. O que me exaspera é a preguiça e a assumida ignorância dos usuários do português no Brasil. Chamam urubu de meu louro, e blueberry de mirtilo. As pessoas estão falando e escrevendo em um português cada vez mais estropiado. E a causa principal se encontra na tenaz e persistente contaminação do inglês. Pior, acham o máximo cometer erros simultaneamente nas duas línguas, inglês e português. Assim, tenho sido forçado a lutar pela língua, como se envolvido em uma guerra. Não fui convocado ao serviço militar do léxico, mas eis-me no campo de batalha. E aí, como diz o ditado, agora dou uma boiada para não sair mais da briga. Como se mal diz hoje, eu me voluntariei (leia-se em bom português: “ofereci-me”). Chamem-me do que quiserem. Ao ataque!

Hoje em dia, a turma que entende das coisas adora falar que os estudantes “sofrem bullying”. Ô, palavrinha mais antipática... O tal do “bullying” está na boca do Brasil inteiro, e com pronúncia errada (as pessoas gostam de dizer “bãling”, o que as torna ainda mais ridículas). A palavra “bully” tem uma origem chã: provém de “bull”, touro, do inglês do século XVII e significava originalmente “fanfarrão”, “mata-mouros”. Só mais modernamente passou a designar perseguição e agressão, em português. O correto seria dizer: “Os estudantes sofrem perseguição nas escolas”. Não ouso afirmar que a língua portuguesa está sendo agredida. Para convencer meu interlocutor, tenho de “refrasear” (em vez de “refazer”) a afirmação para: “O português está sofrendo bullying”. Aí todos entendem, batem palmas e pedem bis – ou, como se diz em inglês, “encore”. Isso porque agora o correto já virou incerto. Eu não posso falar que temos um prazo final no fechamento desta edição. Para parecer mais sofisticado, tenho de alertar que não há prazo final, e sim um “deadline”. Sinto-me mais bacana por dizer “deadline” e “approach”, entre outras baboseiras do atual jargão do jornalismo.

Tenho a impressão de que todo mundo, inclusive eu, esqueceu-se das palavras precisas para designar determinadas situações e objetos. O bombardeio dos termos em inglês provoca amnésia linguística e tornou legítimos barbarismos como “provocativo” em vez de “provocador” e “basicamente” em vez de “fundamentalmente”. Ainda mais risível é quando usam “eventualmente” no sentido de “finalmente” – “eventually” em inglês. Realizou?

Nesse campo da prática de abusos, os críticos de música e cinema são tradicionalmente os piores: eles enxameiam seus textos de termos em inglês e expressões esdrúxulas. Só que agora andam a abusar do direito que se autoatribuíram (daqui a pouco vão dizer “se self atributiram” ou qualquer coisa do tipo). Ninguém mais estraga prazeres ao contar o desfecho de um filme; agora o que vale é o popular “spoiler alert”. Quando você vai contar a trama de um filme, terá de dizer assim: “Cuidado que tem spoiler!” Quando um crítico me diz isso me dá vontade de pular, pois a palavra soa como uma espécie de escaravelho ou baratagigante.

No dia a dia, o pessoal vive se metendo em “brainstorming”, vocábulo inglês que pode ser facilmente traduzido para confabulação. Que tal confabular em vez de “fazer um brainstorm”? Acho uma troca vantajosa, até porque é menos barulhenta, “brainstorm” evoca tempestades com raios e trovões. Nada melhor que confabular, trocar ideias e histórias. Além de tudo, soa melhor.

O português surgiu por volta do século XII (embora haja documentos de duzendos anos antes) a partir da evolução do latim vulgar na Península Ibérica, com contaminações de termos celtas, visigóticos e árabes. No começo, era chamado de “galego-português” porque a fala e a escrita apareceram no norte de Portugal, na fronteira com a Galícia. As poesias palaciana, de amigo e de escárnio e maldizer foram criadas e publicadas antes mesmo da consolidação de idiomas como espanhol, italiano, alemão e... inglês. Língua venerável, o português. Um idioma imperial do século XVI. Por isso, bonita como uma caravela engalanada, clara e solar como as igrejas góticas de Lisboa.

Amo os meios-tons que suas vogais contêm, aparentadas francês. É um grande prazer remexer no léxico riquíssimo do idioma, brincar com a possibilidade que ele oferece de alongar as frases quase ao infinito, pois o português flui como uma plácida corrente de rio. Adoro certas palavras que não constam de línguas irmãs, como a (quase) intraduzível “saudade”, ou aquelas que existem em outras, que ganham um sabor delicado no vernáculo, como “brisa”, “maçã” e “paixão”. Os ecos artísticos são grandes. Eu sei que blueberry consta de um belo filme de Wong Kar-Wai. Trata-se de My blueberry nights, traduzido em português pelo título pedestre Beijo roubado em vez de “Minhas noites de mirtilo”. Blueberry é uma palavra que a gente amassa com dois dedos. Mirtilo, não. O vocábulo está em Camões e Petrarca, que, por sua vez, beberam na fonte de Horácio e Virgílio. Mirtilo evoca pastores do Parnaso e da Serra da Estrela. É antigo e lírico, como o português.

Por isso, podem vir com seu temível bullying contra a língua portuguesa, que estarei a postos para toureá-lo, apagá-lo e substituí-lo pelo castiço verbo agredir. Que mais “geleias de blueberry” arremetam contra mim, que as receberei com meu poderoso corretor. Não sou besta. Sei que as línguas são dinâmicas e abertas a influências externas. São organismos vivos. Mas daí a se render totalmente à ignorância dos próprios recursos, de seu thesaurus, vai um abismo. Os tão festejados e pouco praticados “laços lusófonos” só têm ajudado a apagar a delicada língua de Camões das areias da cultura. Parece que quase ninguém está disposto a preservar o que quer que seja, quanto mais suas referências espirituais. Restam alguns poucos Quaresmas neste país. Mas se eu for o último homem em pé para proteger o idioma, pelo menos terei orgulho do que deixei de realizar, mas ao menos tentei.
Luís Antônio Giron Editor da seção Mente Aberta de ÉPOCA, escreve sobre os principais fatos do universo da literatura, do cinema e da TV

Foto da Semana




Acontecendo em Teresina

Foto: Paulo Tabatinga



Filosofando
"Se quiserem ter uma alimentação saudável,
comam mulheres de fibra"   Frase catada na internet




Poemartemanhas
                         
                        Porque os outros se mascaram mas tu não
(Sophia de Mello Breyner Andresen)

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.



Fotopoema




CULTURA


O Forró Vivo


Vejo com muito bons olhos – olhos atentos de quem há décadas observa os movimentos da cultura em nosso país – a iniciativa do Secretário de Cultura do Estado da Paraíba, Chico César, de “investir conceitualmente nos festejos juninos”, segundo comunicado oficial divulgado esta semana. Além de brilhante cantor e compositor, Chico tem se mostrado um grande amigo da arte também como um dos maiores gestores da cultura desse país.

A maneira mais fácil de dominar um povo – e a mais sórdida também – é despi-lo de sua cultura natural, daquilo que o identifica enquanto um grupamento social homogêneo, com linguagens e referências próprias. Festas como o São João e o carnaval, que no Brasil adquiriram status extraordinariamente significativo, tem sido vilipendiadas com a adesão de pretensos agentes culturais alienígenas mancomunados com políticas públicas mercantilistas sem o menor compromisso com a identidade de nosso povo, de nossas festas, e por que não, de nossas melhores tradições, no sentido mais progressista da palavra.

Sempre digo que precisamos valorizar os conceitos, para que a arte não se dilua em enganosas jogadas de marketing. No que se refere ao papel de uma secretaria ou qualquer órgão público, entendo que seu objetivo primordial seja o de fomentar, preservar e difundir a cultura de seu estado, muito mais do que simplesmente promover eventos de entretenimento fácil com recursos públicos. É preciso compreender esta diferença quando se fala de gestão de cultura em nosso país.

Defendo democraticamente qualquer manifestação artística, mas entendo que o calendário anual seja largo o suficiente para comportar shows de todos os estilos, nacionais ou internacionais. Por isso apóio a iniciativa de Chico em evitar que interesses mercadológicos enfiem pelo gargalo atrações que nada tem a ver com os elementos que fizeram das festas juninas uma das celebrações brasileiras mais reconhecidas em todo o mundo.

Lembro-me que da última vez que encontrei o mestre Luiz Gonzaga, num leito de hospital, este me pedia aos prantos: “não deixe meu forrozinho morrer”. Graças a exemplos como o de Chico César, o velho Lua pode descansar mais tranquilo. O forró de sua linhagem há de permanecer vivo e fortalecido sempre que houver uma fogueira queimando em homenagem a São João.

Alceu Valença - Fonte: http://www.alceuvalenca.com.br/



Águas de Maio
Em vez do vento que empinava  papagaios, águas, em pleno maio, no céu que já foi azul.