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Resenha: A cidade sitiada, de Paulo Tabatinga
O livro "faz um apelo desesperado para que Teresina seja estacionamento de poetas"
Poesia
é um estado da alma, e por isso mesmo do corpo. A pessoa onde a poesia surge é,
de certa forma, não mais dona de si. Se não fosse assim, por que então aquele
momento de Poesia inundaria a vida
inteira da pessoa de Drummond? Além disso, um certo Pessoa diz que “todo o
estado de alma é não só representável por uma paisagem, mas verdadeiramente uma
paisagem”. Calculando os termos desta operação podemos concluir que poesia é
uma paisagem. Mas, fundamentações teóricas a parte, uma olhada no livro a cidade sitiada, de Paulo Tabatinga,
nos faz ver, literalmente, como a poesia é uma paisagem.
Uma cidade é composta, entre outras
coisas, pelos seus habitantes. Mas, ao mesmo tempo em que um indivíduo habita
uma cidade, ele é por ela habitado. Quando vivemos num lugar, o lugar também
vive em nós. Esta relação dialética, de habitar e ser habitado pela cidade, é a
matéria-prima sobre a qual Paulo Tabatinga trabalha para expressar a si e a
cidade, através da fotografia e da poesia. O livro vai muito além de uma mera
tentativa de ilustrar com imagens o texto poético, ou de “explicar” a foto por
meio do texto. Há, em algumas páginas, fotos que se ligam diretamente ao texto.
Mas, se nesses momentos o autor diminui o quadro de nossa imaginação, por ouro
lado nos convida a focar em coisas simples, e este é o ponto forte do livro: a
beleza, às vezes melancólica, da simplicidade.
Em a cidade sitiada a palavra não empobrece a imagem, nem o contrário.
As fotografias mostram as grandezas de uma pequena Teresina, e pequenez de uma
cidade que quer ser “grande”. Por provocarem um impacto imediato, as
fotografias casam com os poemas. Estes são simples, curtos, alguns tendem ao
aforismo, e dizem muito com poucas palavras. Levam-nos à reflexão crítica, como
em “TV Aberta: a TV aberta é a coisa mais fechada que eu conheço”. Até porque,
como o autor define páginas à frente, mídia é um “laboratório onde se criam
realidades”. A nostalgia irônica tem seu lugar em poemas como “Cine Rex”: “Era
muita putaria/ mas ficava sério/ para passar filme de semana santa”.
De forma geral, o que vemos e o que
lemos em a cidade sitiada faz dele um
bom livro. Como a voz da foto é muda e o silêncio da poesia é som, o casamento
tem um final bonito. Infelizmente, não feliz. Isto porque o livro é também a
denúncia do crime político que se comete em nome do dinheiro, que transforma a
capital numa cidade sem alma. Tabatinga usa a fotografia como janela da poesia,
e faz um apelo desesperado para que Teresina seja estacionamento de poetas.
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Sobre o resenhista:
André Henrique M. V. de Oliveira
é doutorando em Filosofia pela Universidade Federal do Ceará. Autor de
"Sem pé nem cabeça: esparsos escritos sobre coisas algumas", publicado
em 2015. Professor de Filosofia do IFPI.Fonte: http://www.portalodia.com/blogs/coletivo-leituras/resenha-a-cidade-sitiada,-de-paulo-tabatinga-264665.html