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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Halloween: o controle e a alienação dos consumidores

Trato deste assunto pela importância que ele tem não por sua existência no Brasil, mas porque demonstra os modos de controle que o mercado exerce sobre os consumidores em geral, bem como a dificuldade que existe para a tomada de consciência da possibilidade de libertação das amarras tão bem engendradas pelo capitalismo contemporâneo. Pois bem. Vem aí mais um dia das bruxas. Ao que parece, já é parte do calendário comercial e, o pior de tudo, é que muitas escolas aderiram!
Halloween no Brasil? São as "bruxas e bruxos" do marketing, que sempre aproveitam alguma coisa para faturar e, no caso, uma gorda receita, vendendo bugigangas, doces e mais porcarias para nossas crianças.
É verdade que, algumas escolas, não conseguindo fugir do evento, estão começando a fazer atividades didáticas e lúdicas, sem o emporcalhamento de doces e guloseimas oferecidos em grandes quantidades e sem nenhuma função de educação ou saúde. Mas, é pouco, pois, infelizmente, tudo indica que o tal dia das bruxas, famoso nos Estados Unidos, instalou-se entre nós, alegre (ou macabro) e impunemente.
Tive oportunidade de mostrar que Ignacio Ramonet, no livro Guerras do Século XXI (Petrópolis: Vozes, 2003), diz que o novo sistema de controle dos grandes países poderosos não é mais o de territórios, mas o de mercados. Aliás, são as grandes corporações que controlam as forças internas desses países desenvolvidos pela via do mercado, de modo que elas e esses países visam por esse meio (o do mercado) ao controle dos mercados (e das sociedades) do mundo inteiro.
Essa forma de domínio, no final do século XX e início do XXI, passou a se imiscuir em praticamente todas as atividades humanas, transformando em evento comercial qualquer comemoração.
Pensemos a questão do Halloween no Brasil. O que, afinal de contas, as crianças brasileiras têm a ver com essa festa pagã? Nada. Trata-se de uma importação sem qualquer fundamento ou justificativa local. É agora apenas algo que o mercado deseja. Para se ter uma ideia do que está em jogo, nos Estados Unidos, a festa do terror, das bruxas e dos fantasmas já se tornou o segundo maior momento de faturamento do mercado, perdendo apenas para o Natal.
Lembro da reclamação de meu amigo Walter Ego: há três anos no fim de outubro, ele estava na casa de parentes num condomínio fechado do interior de São Paulo, quando bateram à porta crianças fantasiadas de bruxas, caveiras, duendes e o que o valha. A porta foi aberta e eles disseram: "travessuras ou gostosuras". E lá foram os parentes de meu amigo entregar saquinhos que tinham previamente preparado com doces, balas e chocolates. E depois daquelas crianças vieram muitas outras. "Uma grande bobagem", reclamou W. Ego.
Na época, depois dele me contar o episódio, eu, brincando, objetei que já tínhamos a Páscoa e mais ainda o Natal, este que, por muitos anos – e ainda até hoje – faz, por exemplo, com que comamos, em pleno calor tropical, comidas gordas, doces, frutos secos, nozes, etc, alimentos típicos de lugares frios, de onde a festa foi importada. "É verdade", disse ele. "Mas isso se deu em outros tempos. Eu pensava que atualmente nós pudéssemos lutar contra esse tipo de imposição; que poderíamos resistir".
Sim, talvez pudéssemos. Há mesmo um início de tomada de consciência a respeito do controle exercido pelo mercado, algo que vem se esboçando desde fins do século XX. O consumidor, considerado como tal – algo que ficou bem estabelecido a partir da mensagem enviada ao Congresso Americano em 15/3/1962 pelo então Presidente John Kennedy – pôde começar a se perceber como alvo dos fornecedores em geral e até do próprio Estado produtor. E, assim, aos poucos, passou a reclamar e reivindicar direitos. Passou a poder resistir às tentações e determinações unilaterais. Mas ainda não consegue fazê-lo em larga escala. Aliás, essa questão do Halloween no Brasil oferece uma boa oportunidade para o exame de como as coisas são feitas. É que estamos ainda no nascedouro de uma imposição mercadológica.
No meu tempo de criança ou adolescente (há quarenta anos) seria impensável um dia das bruxas no Brasil. Não sei quando começou. Mas, possivelmente há cerca de dez ou quinze anos, alguma escola de inglês deve ter feito a programação para seguir o ritual norte-americano. Depois, no ano seguinte mais uma escola e mais outra, etc. Com a importação via tevê à cabo e também tevê aberta de cada vez mais enlatados americanos que reproduzem a festa (basta ficar com o exemplo famoso do grande filme de Steven Spielberg, E.T., no qual o evento é retratado), aos poucos, os brasileiros foram se acostumando com a festa, como se a mesma também fizesse parte de nossa realidade. Daí, mais um ano, e a festa foi feita em escolas; depois em baladas de adultos e, enfim, chegou o momento em que parece que ela tem a ver conosco. Atualmente, nas tevês à cabo, nos canais de programas infantis, são apresentados programas específicos somente sobre a festa. Evidentemente, o mercado, sempre de olho nas oportunidades, deu sua contribuição e eis que temos entre nós crescendo vigorosamente uma festa importada, sem qualquer fundamento cultural e mesmo sem sentido ritualístico.
Dá para resistir? No Estado de São Paulo e também na capital, há leis oficializando o dia 31 de outubro como o Dia do Saci, como uma tentativa de se opor ao Dia das Bruxas, já que o Saci é tipicamente Nacional, pertencendo a nosso folclore e tradições. Há também na Câmara Federal projeto de lei para instituir o Dia Nacional do Saci e existe até uma associação intitulada SOSACI – Sociedade dos observadores de Saci (clique aqui). São, penso, tentativas válidas. Mas, é pouco. A resistência real e que poderia funcionar deve vir do próprio consumidor, especialmente os pais, que podem explicar aos menores o que é a festa e porque não participar dos eventos. As escolas devem fazer o mesmo e, claro, os pais poderiam pressioná-las a não produzirem esse tipo de comemoração.
Repito o que disse acima: se ainda existisse algum significado simbólico ou ritualístico na festa, vá lá. Mas nem as crianças-vítimas ou seus pais sabem do que se trata. É apenas um momento de gasto inútil de dinheiro em fantasias, doces e gorduras, contribuindo para cáries e a obesidade infantil.
O que conseguimos observar, é que cada vez mais nossa cultura (e a sociedade brasileira) vai cedendo espaço àquilo que não nos pertence. Aos poucos e continuamente, vamos preenchendo nossos espaços com tradições de outros povos – como já fizemos e muito - e que, nesse caso, sequer é algo relevante, pois se trata de uma evidente imposição do mercado oportunista que, como já disse, só pensa em faturar.
O processo é lento, mas constante. Aqueles que atuam no mercado são espertos o suficiente para entender um pouco a alma do consumidor e acabam descobrindo a necessidade de preencher os espaços existentes no lar, no convívio doméstico, na relação entre pais e filhos. Daí, na presente hipótese, oferecem, com essa estranha comemoração, mais uma boa desculpa de ocupação desse tempo, que fica, como quase sempre, intermediado pelo dinheiro gasto. É o consumismo enlatado e alienante, esteja ou não de acordo com nossas tradições e nossas leis.
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 * Rizzatto Nunes - Desembargador do TJ/SP, escritor e professor de Direito do Consumidor.

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Publicado em:

Quinta-feira, 27 de outubro de 2011 - Migalhas nº 2.744 - Fechamento às 10h41.




Fotos da Semana









Poemartemanhas

       indomáveis    ( william soares)

brincam potros indomáveis
no vasto campo da fala
enquanto palavras dançam
na corda bamba do verso

  
william soares lançou seu livro Estado de Garça. Eis a capa:




Filosofando

“A arte é uma mentira que revela a verdade”  Pablo Picasso

domingo, 4 de setembro de 2011

DEBATE ABERTO

O mercado “pensa”, o mercado “avalia”, o mercado “propõe”, o mercado “desconfia”, o mercado “sugere”, o mercado “reage”. E aí sim, de vez em quando, o tom de voz sobe e o mercado “exige”!! E, aos poucos, o que era antes um sujeito, o indivíduo “mercado” também vai ganhando ares de divindade.

Paulo Kliass
Uma das inúmeras lições que a atual crise econômica tem a nos oferecer é a possibilidade de compreender um pouco melhor os mecanismos de funcionamento da economia capitalista em sua fase de tão ampla e profunda internacionalização financeira. Depois de baixada a poeira e dado o devido distanciamento temporal, imagino a quantidade de teses que serão desenvolvidas para tentar entender e explicar aquilo que estamos vivendo a quente pelos quatro cantos do planeta.

As alternativas de enfoque são muitas. A relação conflituosa entre os interesses do capital produtivo e os do capital financeiro stricto sensu. A autonomia – na verdade, uma quase independência – do circuito monetário em relação ao chamado lado “real” da economia. A contradição entre o discurso liberal ortodoxo patrocinado pelos dirigentes dos países mais ricos até anteontem e a prática atual de medidas protecionistas de seus próprios interesses nacionais. A postura inequívoca e amplamente expandida de defesa das vontades das grandes instituições financeiras em primeiro lugar, sempre às custas de cortes nos gastos orçamentários na área social voltados à maioria da população de seus países. A dita solidez das estruturas do mercado financeiro, agora tão confiável quanto a de um castelo de cartas. A perda completa de credibilidade das instituições financeiras, a exemplo das chamadas agência de rating, que passam a escancarar a sua relação incestuosa com setores econômicos. O fim do mito da chamada “independência” dos Bancos Centrais, cujas políticas monetárias estariam sendo implementadas de forma neutra e isenta, uma vez que baseadas em critérios técnicos e científicos (sic...) do conhecimento econômico acumulado. A falência das correntes que se apegavam às teorias chamadas da “racionalidade dos agentes” para buscar assegurar que não haveria o que temer com o funcionamento das livres forças de mercado, pois o equilíbrio entre oferta e demanda sempre apontaria a solução mais racional possível. E por aí vai. A lista é quase infindável.

Mas um elemento, em especial, chama a atenção em meio a essa enormidade de aspectos. E trata-se de algo importante, pois diz respeito à tentativa de legitimação de toda e qualquer ação dos poderes públicos na busca da saída para a crise econômica. Com isso procura-se fugir da conseqüência mais próxima em caso de fracasso: colocar em risco a sua própria legitimidade política. Ainda que nos momentos de maior tensão seja perceptível uma contradição entre os desejos dos representantes do capital financeiro e as possibilidades oferecidas pelos agentes do governo, no final quase tudo acaba se resolvendo no conluio entre o público e o privado. Nos bastidores do poder, a ação do Estado é ditada, via de regra, pelos interesses do capital.

Mas nas conjunturas de crise profunda, como a atual, passa a operar também a chamada opinião pública. Os temas de economia e de finanças, antes restrito às páginas dos jornais especializados, ganham as manchetes de capa e se convertem em preocupação de amplos setores da sociedade. A população se assusta, exige mais explicações, quer entender melhor! Porém, não se consegue tornar tão claros os mecanismos de funcionamento da dinâmica econômica em tão pouco tempo e em tão poucas linhas. E nesse momento ganham importância os interlocutores chamados a explicar: os economistas dos grandes bancos, os analistas das instituições financeiras, os responsáveis pelas empresas de consultoria, enfim os chamados “especialistas”. Cabe a eles a tarefa de convencimento do grande público de que a crise é causada por este ou aquele fator, ou então de que as medidas anunciadas há pouco por um determinado Ministro da Economia são ou não adequadas para resolver os problemas a que se propõem.

E aqui entra em campo um elemento essencial na dinâmica do discurso. Uma entidade que passa a ser reverenciada em ampla escala, coisa que era antes reduzida a uma platéia restrita. Trata-se do famoso “mercado” – muito prazer!. Um dos grandes enigmas da história da humanidade, tanto estudado e ainda tão pouco desvendado em seus aspectos essenciais, passa a ser tratado como um ser humanizado, um quase indivíduo. Isso porque para justificar a necessidade das decisões duras e difíceis a serem tomadas - sempre às custas de muitos e para favorecer uns bem poucos – recorre-se às opiniões de “alguém” que conheça, que assegure que não há realmente outra solução. Tem-se a impressão de que o mercado vira gente, um dos nossos!

As matérias dos grandes jornais, as páginas das revistas de maior circulação, os sítios da internet, os programas na televisão e no rádio, enfim, por todos os meios de comunicação passamos a conhecer aquilo que nos é vendido como sendo a opinião dessa entidade, dessa quase-pessoa. As frases e os estilos podem variar, mas no fundo, lá no fundo, tudo é sempre mais do mesmo. Recorrer a um mecanismo que beira a abstração para justificar as medidas mais do que concretas. Fazer um chamamento a uma entidade externa, com ares de messianismo e divindade, para convencer de que as proposições - expostas numa linguagem e numa lógica incompreensíveis para a maioria - são realmente necessárias. Sim, sim, é preciso também ter fé! Pois em caso contrário, aquilo que nos espera é ainda pior do que o péssimo do vivido agora. Será o caos!

É o que tem acontecido na atual crise da dívida norte-americana ou na seqüência dos diversos capítulos da crise dos países da União Européia. O mercado “pensa”, o mercado “avalia”, o mercado “propõe”, o mercado “desconfia”, o mercado “sugere”, o mercado “reage”. E aí sim, de vez em quando, o tom de voz sobe e o mercado “exige”! E depois o mercado “ameaça”. O mercado “cai”, o mercado “sobe”, o mercado “se recompõe”. O mercado “se sente inseguro”, o mercado “fica satisfeito”, o mercado “comemora”. O mercado “não aceita” tal medida, o mercado “se rebela” contra tal decisão.

E assim, à força de repetir à exaustão essa fórmula aparentemente tão simples, o que se busca, na verdade, é fazer um movimento de aproximação. Tornar a convivência com um ser que conhece de forma tão profunda a dinâmica da economia um ato quase amical e familiar para cada um de nós. Mas o “mercado” - sujeito de tantos verbos de ação e de percepção - não tem nome! Ele não pode ser achado, pois o mercado não tem endereço. Ele não pode ser entrevistado, pois o mercado nunca comparece fisicamente nos compromissos. Ele tampouco pode ser fotografado, pois o mercado não tem rosto. O que há, de fato, são uns poucos indivíduos que fazem a transmissão de suas idéias, de seus pensamentos, de seus sentimentos. São verdadeiros profetas, que têm o poder de fazer a interlocução entre o “mercado” e o povo. Pois, não obstante a tentativa de torná-la íntima de todos nós, essa entidade não se revela para qualquer um.

Ele escolhe uns poucos iluminados para representá-lo aqui entre nós. Como se, estes sim, tivessem a procuração sagrada para falar em seu nome e representar aqui seus interesses. E aos poucos o que era antes um sujeito, o indivíduo “mercado” também vai ganhando ares de divindade. Tudo se passa como ele se manifestasse exclusivamente por meio de seus oráculos, os únicos capazes de captar e interpretar o desejo do deus mercado. Pois ele pensa, fala, acha, opina, mas não se apresenta para um aperto de mão, ou mesmo para uma prosinha que seja, para confirmar o que andam falando e fazendo em seu nome aqui pelos nossos lados.

Mas, apesar de toda evidente fragilidade da cena construída, não há como contestá-la. O mercado é legitimado por quem tem poder de legitimar. O discurso dos que não acreditam e dos que desconfiam não chega à maioria. Sim, pois aqui tampouco pode haver espaço para a dúvida. Nenhuma chance para o ato irresponsável que seria dar o espaço para o contraditório. A única certeza é de que o mercado sempre tem razão. E ponto final. Assim, todos passam horas na angústia e na agonia para saber como o mercado “reagirá” na abertura das bolsas de valores na manhã seguinte ou para tentar antecipar como o mercado “avaliará” hipotéticas medidas anunciadas para as transações de câmbio na noite da véspera.

O resultado de toda essa construção simbólica pode ser sintetizado na tentativa do convencimento político e ideológico dos caminhos escolhidos para a solução da crise. O mercado “alertou”, o mercado “ponderou”, o mercado “pressionou”, o mercado “exigiu”. E, finalmente, o mercado “conseguiu”. Por todo e qualquer lado que se procure, tentam nos convencer que não havia realmente outra forma possível de evitar o pior dos mundos. Como somos todos mesmo ignorantes em matéria de funcionamento dessa coisa tão complexa como a economia, somos chamados a delegar também as formas de solução para a crise. E, como sempre acontece em nossa tradição, estamos às suas ordens, Dotô Mercado...


Paulo Kliass é Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal e doutor em Economia pela Universidade de Paris 10.

Fonte: Carta Maior.








Acontecendo em Teresina

Manisfestação contra o aumento da passagem de ônibus urbano de Teresina







Todas as fotos do protesto dos estudantes de Teresina são de autoria de Maurício Pokemon.


Ayn Rand




“Quando você perceber que para produzir precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos contra você; quando perceber que a corrupção é recompensada e a honestidade se converte em auto-sacrifício, então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada”. 
Ayn Rand, nascida Alissa Zinovievna Rosenbaum. 
(*São Petersburgo, 02.02.1905 - Nova Iorque, 06.03.1982)




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Foto da Semana


Foto: Maurício Pokemon

domingo, 21 de agosto de 2011

Trecho do Livro Questão de Arte - Cristina Costa



“Habitamos um mundo que vem trocando sua paisagem natural por um cenário criado pelo o homem, pelo qual circulam pessoas, produtos, informações e principalmente imagens
E, se temos que conviver diariamente com essa produção infinita, melhor será aprendermos a avaliar essa passagem, sua função, sua forma e, seu conteúdo, o que exige nossa sensibilidade estética. Só assim poderemos deixar de ser observadores para nos tornarmos espectadores críticos, participantes e exigentes.”  Cristina Costa



 

Foto da Semana

Pescador - Rio Prnaíba(Velho Monge) Teresina, Piauí





Cantinho do Haikai
Teresina aniversaria (159 anos) e o mais lírico dos nossos poetas traduz tudo em três versos. Cinéas Santos

DESDE SEMPRE
no cotidiano da cidade
o dia eterno se inaugura
alegre rumorejar de flores
          ( Elias Paz e Silva)



Acontecendo em Teresina

Foto: Arquivo Cícero Manoel

Exposição TODAS AS CORES DE TERESINA
Em cartaz até o dia 06 de setembro
ESPAÇO CULTURAL SÃO FRANCISCO
Bairro Mafuá
www.ecfrancisco.xpg.com.br



Desenho Artístico de Gabriel Archanjo

Gabriel Archanjo rasbiscou Paulo Tabatinga - Obrigado, me caro! ficou melhor que eu! 



Poemartemanhas

QUANDO OS PÁSSAROS 


                              (Luiz de Freitas)

      Quando os pássaros
     pousarem em meu quintal
     e se alimentarem das sementes
     parcas, que eu lancei,
     ah, Senhor! eu quero estar
     para ver, eu quero estar
     para ver.
Eu, aqui do Blog, ofereço essa ao meu querido Tizé. Abraços embriagados de poemas!





Filosofando

O cinema é uma cultura da superestrutura capitalista. (Glauber Rocha, Revisão crítica do cinema brasileiro, p.37)



Fotopoema



segunda-feira, 15 de agosto de 2011

TERRORISTA LOURO DE OLHOS AZUIS - Frei Beto

Preconceitos, como mentiras, nascem da falta de informação (ignorância) e excesso de repetição. Se pais de uma criança branca se referem em termos pejorativos a negros e indígenas, judeus e homossexuais, dificilmente a criança, quando adulta, escapará do preconceito.

A mídia usamericana incutiu no Ocidente o sofisma de que todo muçulmano é um terrorista em potencial. O que induziu o papa Bento XVI a cometer a gafe de declarar, na Alemanha, que o Islã é originariamente violento e, em sua primeira visita aos EUA, comparecer a uma sinagoga sem o cuidado de repetir o gesto numa mesquita.

Em qualquer aeroporto de países desenvolvidos um passageiro em trajes islâmicos ou cujos traços fisionômicos lembrem um saudita, com certeza será parado e meticulosamente revistado. Ali reside o perigo... alerta o preconceito infundido.

Ora, o terrorismo não foi inventado pelos fundamentalistas islâmicos. Dele foram vítimas os árabes atacados pelas Cruzadas e os 70 milhões de indígenas mortos na América Latina, no decorrer do século 16, em decorrência da colonização ibérica.

O maior atentado terrorista da história não foi a queda, em Nova York, das torres gêmeas, há 10 anos, e que causou a morte de 3 mil pessoas. Foi o praticado pelo governo dos EUA: as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945. Morreram 242.437 mil civis, sem contar as mortes posteriores por efeito da contaminação.

Súbito, a pacata Noruega – tão pacata que, anualmente, concede o Prêmio Nobel da Paz – vê-se palco de dois atentados terroristas que deixam dezenas de mortos e muitos feridos. A imagem bucólica do país escandinavo é apenas aparente. Tropas norueguesas também intervêm no Afeganistão e deram apoio aos EUA na guerra do Iraque.

Tão logo a notícia correu mundo, a suspeita recaiu sobre os islâmicos. O duplo atentado, no gabinete do primeiro-ministro e na ilha de Utoeya, teria sido um revide ao assassinato de Bin Laden e às caricaturas de Maomé publicadas pela imprensa escandinava. O preconceito estava entranhado na lógica ocidental.

A verdade, ao vir à tona, constrangeu os preconceituosos. O autor do hediondo crime foi o jovem norueguês Anders Behring Breivik, 32 anos, branco, louro, de olhos azuis, adepto da fisicultura e dono de uma fazenda de produtos orgânicos. O tipo do sujeito que jamais levantaria suspeitas na alfândega dos EUA. Ele "é dos nossos”, diriam os policiais condicionados a suspeitar de quem não tem a pele suficientemente clara nem olhos azuis ou verdes.

Democracia é diversidade de opiniões. Mas o que o Ocidente sabe do conceito de terrorismo na cabeça de um vietnamita, iraquiano ou afegão? O que pensa um líbio sujeito a ser atingido por um míssil atirado pela OTAN sobre a população civil de seu país, como denunciou o núncio apostólico em Trípoli?

Anders é um típico escandinavo. Tem a aparência de príncipe. E alma de viking. É o que a mídia e a educação deveriam se perguntar: o que estamos incutindo na cabeça das pessoas? Ambições ou valores? Preconceitos ou princípios? Egocentrismo ou ética?

O ser humano é a alma que carrega. Amy Winehouse tinha apenas 27 anos, sucesso mundial como compositora e intérprete, e uma fortuna incalculável. Nada disso a fez uma mulher feliz. O que não encontrou em si ela buscou nas drogas e no álcool. Morreu prematuramente, solitária, em casa.

O que esperar de uma sociedade em que, entre cada 10 filmes, 8 exaltam a violência; o pai abraça o filho em público e os dois são agredidos como homossexuais; o motorista de um Porsche se choca a 150km por hora com uma jovem advogada que perece no acidente e ele continua solto; o político fica indignado com o bandido que assaltou a filha dele e, no entanto, mete a mão no dinheiro público e ainda estranha ao ser demitido?

Enquanto a diferença gerar divergência permaneceremos na pré-história do projeto civilizatório verdadeiramente humano.

Frei Betto, Escritor e assessor de movimentos sociais  )




Foto da Semana






Fotopoema






Acontecendo em Teresina


Fonte: Diário do Povo do Piauí - Garimpado pelo poeta Ricardo Batista


Poemartemanhas


Bilhete
                                         Mário Quintana

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda




Filosofando

"Lá vão os ladrões grandes a enforcar os pequenos"  (sermão do bom ladrão - Padre Antônio Vieira




Cantinho do Haikai

viver é super difícil
o mais fundo
está sempre na superfície
Paulo Leminski

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Filosofando Em Piauiês - Edmar Oliveira

Tenho ido vez em quando na terra. Nos terrais de Teresina. Nos quintais. Nos bares. A cerveja continua a mais gelada do Brasil. Só tem “empoada”. Na farinha, dizem outros. O diabo vem engarrafado numa nuvem de gelo e névoa, que o garçom (todos tem a mesma técnica) sacode pra cima e pra baixo, assopra no fundo, não congela, e tem o melhor gosto de cerveja gelada do planeta.


Mas se a cerveja continua gelada, o calor da cidade vai aumentando. Da última vez que fui, desesperei-me. Sem ter companhia e nada a fazer (minhas referências estão esmaecendo, quase já não as tenho) fui a um restaurante tomar uma, como se diz por aqui. Com tira-gosto de panelada, que ninguém é de ferro, sorvia a bicha (o trocadilho é por conta da parada gay que aqui se faz também e acontecia). Ao pagar a conta para continua a beber noutras paragens (que aqui só se faz isso), caminhei na rua sem saber que antes estava num ar condicionado. Sem nada a condicionar o diabo da rua vermelhidou. A sensação térmica dos meteorologistas estava nuns quarenta e tantos. Eu nunca tinha sentido tanto calor. E arreparem que sou da terra, dos quintais. Criado com o sol do equador, suas filhas, tudo em cima de mim. Mas não me agüentava. Fervia e a sensação de estar perto do inferno foi aumentando. Me perguntava o que podia esquentar Teresina tanto assim!


Sorte que encontrei logo ali no bar do Esdras (no Clube dos Diários, na Pedro II) o poeta, fotógrafo e filósofo Paulo Tabatinga. Comentando a situação de Teresina esquentar mais a cada ano, Tabatinga filosofou: “culpa das mulheres e da televisão. Pra ter mais tempo de ver TV, as mulheres não querem mais perder tempo em varrer os quintais. E elas são fofoqueiras! Se a vizinha não varrer seu quintal cai na boca da outra. Então – filosofou o mestre – para não ter folhas nos quintais elas mandam cortar as árvores. Aí o sol se esquenta mais. Só isso. Culpa das mulheres, da fofoca e da televisão!”.

Faz sentido...



Foto da Semana



Fotopoema



Acontecendo em Teresina

Joca Oeiras diz Coca-Cola faz propaganda enganosa ao vender refrigerante de caju Crush como cajuína
Efrém Ribeiro
Da Editoria Geral

Ao fazer campanha contra o uso do nome cajuína em um refrigerante na empresa Coca-Cola, o artista plástico e escritor Joca Oeiras disse que sua ação foi de levantar a bandeira da defesa de um patrimônio cultural do Piauí. “Não apenas um patrimônio cultural, pois se trata de uma atividade que dá sustento há inúmeras famílias piauienses”, falou Joca Oeiras.

Joca Oeiras, que mora em Oeiras, a primeira capital do Piauí, iniciou uma campanha em virtude da Coca-Cola, representada pela empresa Norsa no Estado, no Ceará em em outros Estados nordestinos, lançou um refrigerante de caju chamado Crush-Cajuína.

Para Joca Oeiras, a Coca-Cola pratica propaganda enganosa ao dizer que o Crush tem sabor de cajuína, como consta do rótulo do “Dizer que o Crush tem sabor de cajuína, como consta do rótulo da beberagem, e fazer propaganda do refrigerante chamando-o Crush-Cajuína considero isto inaceitável, mais ou menos como fazer pastel de carne de gato e dizer que se trata de carne de gado. Isso se chama propaganda enganosa”, falou o artista.

Meio Norte O que levou o senhor a fazer a campanha contra a Coca-Cola?

Joca Oeiras – A Coca-Cola, além de ser uma potência industrial, é um ícone fortíssimo do chamado imperialismo norte-americano e, do jeito que a pergunta foi formulada parece que eu, talvez até por bravata, tomei a iniciativa de mexer, com vara curta, com aquele temido leão. Desculpe a franqueza, mas a pergunta é equivocada. Longe de mim fazer campanha contra a Coca Cola. Levantei, sim, a bandeira da defesa de um patrimônio cultural do Piauí. Aliás, não apenas cultural pois se trata de uma atividade que dá sustento a inúmeras famílias piauienses.
Meio Norte - Qual foi a resposta das pessoas?
Joca Oeiras - Sobre a reação das pessoas eu fiquei, inicialmente, muito preocupado pois, as que podiam fazer alguma coisa, a maioria absoluta delas fingia que não ouvia. Creio que estas autoridades se encontravam (e muitas ainda estão) perplexas. Mas, aos poucos, fui recebendo apoios importantes como o dos professores Cineas Santos e Fonseca Neto; do jornalista e proprietário do Portal Acessepiauí, Cantídio Filho; da cantora e compositora Patrícia Méllodi, que criou no twitter a hashtag #acajuinaenossapiaui; a campanha ganhou um poema do grande poeta e compositor Climério Ferreira (A cajuína cristalina do cariri?/A cajuína cristalina é de Teresina, Piauí/Tem coisa que não rima/Tem coisa que não rola/A cajuína da coca não cola). Mais ainda, estava marcada para sexta-feira, uma reunião na sede do Ministério Público do Piauí, para onde foram convidados representantes da Fundac (Fundação Cultural do Piauí) ao e do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Devo, também, agradecer ao Jornal Meio Norte por ter publicado, na coluna Informe, a minha carta-aberta. O senador Wellington Dias pediu a seu assessor Wellington Soares, que eu lhe enviasse subsídios para um discurso que pretende fazer na tribuna do Senado.

Meio Norte - Quais os próximos passos da campanha?

Joca Oeiras – Quanto à continuidade da campanha, isso não depende só de mim, isto é, por mais chato e teimoso que eu seja, e reconheço que sou, não tenho a menor condição, nem vontade, de prosseguir sozinho. Acho, no entanto, que a próxima semana será decisiva para a gente saber com quem contamos. O professor Cineas Santos pensa em organizar Festivais da Cajuína itinerantes nas cidades onde haja uma expressiva quantidade de produtores de cajuína, uma ideia interessante que precisa ser melhor trabalhada no médio prazo.

Meio Norte - Por que a cajuína é piauiense? Não existe cajuína no Ceará?

Joca Oeiras – Outro dia ouvi dizerem que a cajuína só é piauiense porque o Caetano fez aquela música (linda, por sinal). Conheci o Piauí, e a cajuína, bem depois da música ter feito sucesso. Não digo que a composição não tenha ajudado neste processo identitário mas acredito que, para além disso, os piauienses, há muito tempo, a consideram parte de seu patrimônio cultural, isto é, que, para além da rima, Caetano, na sua sensibilidade, percebeu esta vinculação. Mas não o que me move não é nenhum sentimento bairrista ou nacionalista. Acredito que, para uma parcela dos cearenses, a cajuína faz, também, parte do seu patrimônio cultural e não vejo nada de errado nisso.

Meio Norte - O que uma empresa pode fazer para usar a marca Cajuína?

Joca Oeiras –.Pergunta facílima de responder: para poder dizer que para fazer cajuína, a empresa ou empresário precisa, apenas, fazer cajuína, isto é, fabricar artesanalmente uma bebida sem álcool, clarificada e esterilizada, preparada a partir do suco de caju, no interior da embalagem, apresentando uma cor amarelo-âmbar resultante da caramelização dos açúcares naturais do suco. Quem faz isso, tem legitimidade para usar o nome cajuína, senão ...

Meio Norte O que o senhor achou da atitude da Coca-Cola em se apropriar da marca cajuína?

Joca Oeiras – Jamais acusei a Coca Cola Norsa de ter buscado patentear a marca cajuína, isto não ocorreu e eles mesmos esclareceram que não se trata disso. Dizer que o Crush tem sabor de cajuína, como consta do rótulo da beberagem, e fazer propaganda do refrigerante chamando-o Crush-Cajuína considero inaceitável. É mais ou menos como fazer pastel de carne de gato e dizer que se trata de carne de gado. Isso se chama propaganda enganosa.

Fonte: Blog do Efrém



Poemartemanhas

A CRIAÇÃO da XOXOTA poema de mario quintana 

Sete bons homens de fino saber
Criaram a xoxota, como pode se ver:

Chegando na frente, veio um açougueiro
Com faca afiada deu talho certeiro. 

Um bom marceneiro, com dedicação
Fez furo no centro com malho e formão.

Em terceiro o alfaiate, capaz e moderno
Forrou com veludo o lado interno.

Um bom caçador, chegando na hora
Forrou com raposa, a parte de fora.

Em quinto chegou, sagaz pescador
Esfregando um peixe, deu-lhe o odor. 

Em sexto, o bom padre da igreja daqui.
Benzeu-a dizendo: “É só pra xixi!”

Por fim o marujo, zarolho e perneta
Chupou-a, fodeu-a e chamou-a…
Buceta!

                                          Enviada por Alexandre Carvalho



Filosofando

"Só no coração sempre do poeta é que não vão depressa os que vão"    Frederico Scmidt (1906-1965)



Trecho de Livro


“É engraçado como certas palavras parecem, ultimamente, ter mudado de sentido ou, pelo menos, parecem não significar a mesma coisa para todos. Os meios de comunicação se multiplicaram, um número enorme de informações circula, no entanto, no entanto, parece que, cada vez mais, falamos línguas diferentes. Isso acontece, em parte, porque, hoje, as informações e rapidamente divulgadas. Temos pouco tempo para ouvir as mensagens, compreender e assinalar seus significados. Em parte, porque existe uma grande diversidade de fontes de informação disputando a atenção do público para suas mensagens o máximo de tempo possível.”
                      (Cristina Costa, Questão de Arte, Ed.Moderna.pg.7)



Cantinho do Haikai
                        
                       Jorge Fonseca Júnior

Nesta catedral,
quando arde o sol, toda tarde,
sangra este vitral

domingo, 31 de julho de 2011

Falar Merda - de Harry G. Frankfurt

Resenha do livro Falar Merda de Harry G. Frankfurt

Resumo: Sobre falar merda apresenta uma aproximação na busca de significado da prática cotidiana em nossa cultura de falar merda. Visto por Frankfurt não existir uma teoria específica para o ato. Em sua obra propõe a essência do falar merda , finalizando com a resposta possível para as pessoas falarem tanta merda. Uma tentativa de não falar merda. Uma das marcas mais visíveis de nossa cultura é que se fale tanta merda. Sobre Falar Merda é o que Harry G. Frankfurt busca em seu livro. Na intenção de um possível significado sobre a merda falada rotineiramente, sem cair também no pecado e falar ao mesmo tempo merda. Falar merda é uma prática cotidiana, a pergunta que manifesta o autor, é que objetivo impulsiona o ser para que este artifício prolifere na sociedade. No desenvolvimento coerente do livro o autor explora algumas aproximações no conceito de falar merda. A falação, a mentira, o blefe. Mais próximo do blefe, por envolver tapeação, e não tão próximo da mentira. O falar merda apesar da falta de preocupação com a verdade, não é necessariamente um afirmação falsa. A falação aproxima-se do conceito de falar merda, pela característica da falta de exatidão com a verdade, e seu vazio sem substância. O exemplo deste último pode-se observar um grupo que promove falação sobre desempenho de seu time de futebol preferido. Manifestam idéias e atitudes, não necessariamente revelando suas crenças ou sentimentos profundos. É notável a originalidade de Frankfurt ao expor a merda, e não impostura, expelida em momentos da comunicação. Não permite inclinar-se a vulgaridade que possa remeter a expressão. Trata-se de um fenômeno lingüístico. Leva análise da falta de preocupação das pessoas na estrutura do discurso , não pela sua composição gramatical, mas exclusão de detalhes em fatos pertinentes. Ter em mente que se fala merda requer atenção e disciplina, um esforço interior, sugere o autor. No avançar das palavras, o leitor coloca sua expressão em auto-análise, na busca de indícios de um falador de merda. Cada indivíduo faz sua parte no que diz respeito ao assunto. Portanto o autor adquire profundidade e abrangência a todos que fazem uso da linguagem, escrita ou oral, na arena das relações humanas. Claro, aqueles que primeiramente identificam o problema. Na arena da propaganda, meio de informação e principalmente na política, pode ver muito do falar merda. Engloba muitas vezes não só a mentira, como diz a grande massa, pois alguns não têm a mínima idéia de buscar ou conhecer a verdade. Logo não mentem, falam merda, para conquistar coisas. O caminho por este artifício proporciona mais liberdade a quem fala. Não necessita todo rigor, toda estrutura quando se argumenta na busca da realidade. Além do excremento quando expelido ganhar misteriosamente um afeto se comparado a mentira. Essa última quando disparada representa um ofensa pessoal, uma afronta, o que desagrada as pessoas, que revelam preferir a tapeação. O ato de falar merda, alerta Frankfurt, é pior que a mentira. Visto anteriormente que as pessoas são mais relevantes para esta prática. No entanto o autor argumenta perfeitamente esclarecendo. Enfim, a resposta da questão de Harry G. Frankfurt, finalizando corretamente sua hipótese, porque se fala tanta merda. Na atual estrutura da sociedade, individualista, competitiva e democrática as pessoas são diariamente bombardeadas com situações inusitadas. O todo deve posicionar-se sobre questões que o envolvem. Normalmente reside na arena de discurso a total falta de conhecimento do fato em questão. O tema cruza muitas vezes pelo nosso cotidiano. Mas pela total descrença de possibilidades objetivas nunca fora dado atenção. Antigamente chamávamos esta prática de encher lingüiça, reformulado por Frankfurt, percebe-se que a lingüiça contém em si miúdos, carne e gordura, logo nutrientes. Desmerecendo o uso desta, substituída por excremento, merda, que não traz absolutamente nenhum nutriente, nenhuma riqueza. Chega então à profundidade do autor, ao provocar este conjunto de pensamentos e revisões. Talvez seu objetivo fosse à observação e correção do vício de falar tanta merda.




Foto da Semana
Foto: Cinéas Santos




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É PRECISO

                               IVO BARROSO


É preciso ser duro
Como a pedra
Como a pedra que parte
Como a parte da pedra
Que penetra a parede
E a parte
Como a rede que não vaza
Como o vaso que não quebra
Como a pedra que fende
O paredão da casa
E é preciso ser fraco
É preciso ter ciso
E simulacro  é preciso
Todos os dias vencer
Os deuses/pigmeus/Golias
É preciso ter cara
E ter coragem
É cada vez mais raro
Quem assim reage
É preciso ser duro
Como o muro
Como o muro
E é preciso ser doce
Como se anteparo
De vidro
O muro fosse
É cada vez mais raro
Ser duro e doce
Cada vez mais torpe
Ser apenas duro
Cada vez mais nulo
Ser apenas doce
Cada vez mais raro
Cada vez mais duro
Ser o muro e a nuvem
Como se um só fosse.


Filosofando


O homem natural é corrompido pela civilização – “Tudo está bem ao sair das mãos do autor; tudo degenera nas mãos dos homens” Rousseau

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Solidão - Fátima Irene Pinto

Solidão não é a falta de gente para conversar,
namorar, passear ou fazer sexo...
isto é carência.

Solidão não é o sentimento que experimentamos
pela ausência de entes queridos que não podem
mais voltar...
isto é saudade.

Solidão não é o retiro voluntário que a gente
se impõe as vezes, para realinhar os pensamentos...
isto é equilíbrio.

Tampouco é a pausa involuntária que o destino
nos impõe compulsoriamente, para que revejamos a
nossa vida...
isto é um princípio da natureza.

Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado...
isto é circunstância.

Solidão é muito mais que isto...

Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos
e procuramos em vão, pela nossa Alma!



Fotopoema 

                          
 "Está provado que só é possivel filosofar em alemão"
                                                       Tradução: Thaisa Oliveira


Filosofando



Poemartemanhas

Os cisnes   (Júlio Salusse)
     
A vida, manso lago azul algumas
Vezes, algumas vezes mar fremente,
Tem sido para nós constantemente
Um lago azul sem ondas, sem espumas,
Sobre ele, quando, desfazendo as brumas
Matinais, rompe um sol vermelho e quente,
Nós dois vagamos indolentemente,
Como dois cisnes de alvacentas plumas.
Um dia um cisne morrerá, por certo:
Quando chegar esse momento incerto,
No lago, onde talvez a água se tisne,
Que o cisne vivo, cheio de saudade,
Nunca mais cante, nem sozinho nade,
Nem nade nunca ao lado de outro cisne!




Foto da Semana






Acontecendo em Teresina

Trabalhador Teresinense






terça-feira, 19 de julho de 2011

Macaquice lingüística - Pasquale Cipro Neto

....Cá estou eu, ocupando este espaço que o Professor Juarez me confia. E não deixo por menos! Quero começar gritando contra nosso incrível complexo de inferioridade, verdadeira macaquice, estúpida mania de imitar, ignorantemente, tudo aquilo que os queridos “irmãos do norte” fazem.
....Não basta a verdadeira humilhação a que se submetem os brasileiros nas intermináveis filas do consulado americano, com o intuito de obter o precioso visto para comprar tênis em Miami? Não basta o besteirol lingüístico de gente como Luciano do Valle, que insiste em dizer “arina”, “steidium” e outras tolices, em explícitas demonstrações de colonialismo cultural e de desconhecimento da origem e do significado das palavras? E o incrível Elia Júnior, com o seu “delay”? “Tivemos um pequeno delay na transmissão”, diz o inventor do “É pá e bola!”.
....Um locutor de uma FM anuncia o “Tempra Stail”, burra pronúncia inglesada da palavra italiana “stile”, que significa “estilo”. A Fiat, fábrica italiana, não tem vergonha de sua língua pátria e batiza seus produtos com nomes italianos: “Tempra”, que significa “têmpera”, “Palio”, que significa “estandarte” e é o nome de uma festa típica de Siena e Lucca, “Mille”, que significa “mil” etc. Nós, macacos, não fazemos a mínima questão de pronunciar direito nada que venha de língua estrangeira que não seja o inglês. E mais: encarregamo-nos de inglesar tudo.
....Como se não bastassem todas essas manifestações de americanismo doentio, bobo, sou obrigado agora a agüentar mais uma “novidade”. Foi um querido médico e jornalista de Curitiba, Freitas Neto, um culto e respeitável senhor de 74 anos, que me deu a dica. Perguntou-me se eu já havia notado uma “pérola” que as emissoras brasileiras de televisão adotaram há algum tempo. Trata-se da palavra “vivo”, escrita num canto da tela, para indicar, obviamente, que a transmissão é “ao vivo”. Fui verificar e constatei que o bem-humorado Freitas tinha razão.
....Por que “vivo”? De onde terá vindo a inspiração para tamanha demonstração de criatividade? Claro, da matriz. Como nas emissoras (CNN e companhia bela) aparece “live” (que, ao pé da letra, significa “vivo”), num canto da tela, pronto! Palavra mágica! Se na matriz é uma palavra só, na colônia, na filial, também basta uma palavra. Então o que era “ao vivo” virou simplesmente “vivo”. É melhor colocar “morto”. E terminar com uma inscrição: “Aqui jaz a língua portuguesa, assassinada por basbaques, incultos, presunçosos, vendilhões do templo etc.”
....Existia em São Paulo uma empresa pública conhecida por “CMTC”, sigla que significava “Companhia Municipal de Transportes Coletivos”. A expressão é perfeitamente adequada à estrutura da língua portuguesa: um substantivo, “companhia”, caracterizado pelo adjetivo “municipal” e pela locução adjetiva “de transportes”; por sua vez, o substantivo “transportes”, base da locução adjetiva, é caracterizado pelo adjetivo “coletivos”. Repito que a expressão toda é portuguesíssima. Pois bem, o ex-prefeito de São Paulo resolveu fechar a CMTC, para fundar a “São Paulo Transporte”. Esse nome não é português, é inglês. Em inglês, é possível combinar dessa maneira dois substantivos (London Airport, New York City, Chicago Bulls). A língua portuguesa não combina dois substantivos assim. Em português, seria “Transporte de São Paulo”. E é exatamente aí que mora o perigo. Os lingüistas dizem que uma língua começa a ruir quando sua estrutura começa a ser destruída. Mais uma vez, parabéns aos incultos, basbaques, presunçosos, vendilhões do templo etc.
....Quando a demonstração de ignorância vem do poder público, então, que maravilha! Veja-se o caso da palavra “memorial”. Experimente verificar seu significado em um bom dicionário da língua portuguesa. Em quem você acredita mais? Em José Saramago, monumento vivo da língua portuguesa, ou numa “otoridade” qualquer? José Saramago escreveu a obra-prima Memorial do convento, em que, como o nome diz, relata memórias, fatos memoráveis relativos à construção do Convento de Mafra, encantadora cidade portuguesa. Se você prefere acreditar num de nossos cultos governantes, cuidado! Algum deles, certamente babando diante de algum monumento visto durante uma visita à pátria-mãe (United States of America), voltou à colônia com a palavra certa para batizar monumentos erguidos por aqui. “Memorial”, em inglês, é palavra usada exatamente para isso. “Memorial”, em inglês, significa “monumento comemorativo”. Algum basbaque tupiniquim, deslumbrado com as tranqueiras compradas na Galeria Pajé — desculpem, em Miami —, fez a tradução ao pé da letra. Essa palavra é usada indevidamente no Brasil como sinônimo de monumento (Memorial JK, em Brasília, e Memorial da América Latina, em São Paulo, por exemplo). Dá-lhe colonialismo! Dá-lhe macaquice!
....O que fazer? O buraco é mais embaixo. A solução não é tão simples. A coisa leva muito tempo, ou melhor, levaria muito tempo, se algo já estivesse sendo feito.
( O texto de Pasquale é de 2008. embora esteja atualíssimo)

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Foto Da Semana


Ponte metálica sobre o Rio Parnaíba. Teresina na década de 80

Acontecendo em Teresina
A cidade de Teresina precisa desenvolver projetos para dá esperança aos jovens.


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“Sou um irracionalista apaixonado pela razão”  Caetano Veloso