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quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Poetas

 poetas movem-se por Teresina

Paulo tabatinga 

Caetano Veloso sobre Torquato Neto

Hoje, se vivo, o poeta e revolucionário do movimento Tropicália, #TorquatoNeto completaria 74 anos 👈🏼 A música #Cajuína foi dedicada ao amigo ( http://spoti.fi/2hedRls )
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#Caetano para o #BlogDoMoreno, em 2012: "Numa excursão pelo Brasil com o show Muito, creio, no final dos anos 70, recebi, no hotel em Teresina, a visita de Dr. Eli, o pai de Torquato. Eu já o conhecia pois ele tinha vindo ao Rio umas duas vezes. Mas era a
primeira vez que eu o via depois do suicídio de Torquato. Torquato estava, de certa forma, afastado das pessoas todas. Mas eu não o via desde minha
chegada de Londres: Dedé e eu morávamos na Bahia e ele, no Rio (com temporadas em Teresina, onde descansava das internações a que se submeteu por instabilidade mental agravada, ao que se diz, pelo álcool). Eu não o vira em Londres: ele estivera na Europa mas voltara ao Brasil justo antes de minha chegada a Londres. Assim, estávamos de fato bastante afastados, embora sem ressentimentos ou hostilidades. Eu queria muito bem a ele. Discordava da atitude
agressiva que ele adotou contra o Cinema Novo na coluna que escrevia, mas nunca cheguei sequer a dizer-lhe isso. No dia em que ele se matou, eu estava recebendo Chico Buarque em Salvador para fazermos aquele show que virou disco famoso. Torquato tinha se aproximado muito de Chico, logo antes do tropicalismo: entre 1966 e 1967. A ponto de estar mais freqüentemente com Chico do que comigo. Chico eu eu recebemos a notícia quando íamos sair para o Teatro Castro Alves. Ficamos abalados e falamos sobre isso. E sobre Torquato ter estado longe e mal. Mas eu não chorei. Senti uma dureza de ânimo dentro de mim. Me senti um tanto amargo e triste mas pouco sentimental. Qaundo, anos depois, encontrei Dr. Eli, que sempre foi uma pessoa adorável, parecidíssimo com Torquato, e a quem Torquato amava com grande ternura, essa dureza amarga se desfez. E eu chorei durantes horas, sem parar. Dr. Eli me consolava, carinhosamente. Levou-me à sua casa. D. Salomé, a mãe de Torquato, estava hospitalizada. Então ficamos só ele e eu na casa. Ele não dizia quase nada. Tirou uma rosa-menina do jardim e me deu. Me mostrou as muitas fotografias de Torquato distribuídas pelas paredes da casa. Serviu cajuína para nós dois. E bebemos lentamente. Durante todo o tempo eu chorava. Diferentemente do dia da morte de Torquato, eu não estava triste nem amargo. Era um sentimento terno e bom, amoroso, dirigido a Dr. Eli e a Torquato, à vida. Mas era intenso demais e eu chorei. No dia seguinte, já na próxima cidade da excursão, escrevi Cajuína."
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O livro #VerdadeTropical está disponível nas principais livrarias ou pelo link 👉🏽 http://bit.ly/vendaslivrariacultura


Natal Antigo

Antigamente
o Natal era regado pela chuva
e emoldurado pelas mariposas
na poesia do tempo.

Paulo tabatinga 

A Cidade Que Era Verde ( Paulo tabatinga )

Teresina era bastante arborizada...
agora, só outdoor, carros, cimento
e dor.

Paulo tabatinga 

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Fogo Amigo

O Brasil vive de fogo amigo!

Escolha ( Paulo Tabatinga )

É melhor ficar em companhia dos cachorrinhos em casa
do que perder tempo com os cães, das ruas, que mordem

Redes Sociais ( Paulo tabatinga )

Está quase impossível encontrar alguém fora das redes sociais:
e quando a gente tenta, as ruas vazias aumentam a nossa solidão.

Torquato Neto - Zabelê ( Orquestra Sinfônica de Teresina)

Ataque em Paris (do livro A Cidade Vigiada, de Paulo Tabatinga)


Quarta-feira de Cinzas (do livro A Cidade Vigiada, de Paulo Tabatinga)


segunda-feira, 23 de outubro de 2017

domingo, 22 de outubro de 2017

Ração de Dória É Apenas Sintoma de Uma Sociedade Doente

A RAÇÃO DE DÓRIA É APENAS SINTOMA DE UMA SOCIEDADE DOENTE

por edmaroliveirablog

Numa canção da década de oitenta, Eduardo Dusek propunha debochadamente à burguesia que trocasse seu cachorro por uma criança pobre. Tentava provocar os que tratavam a pão de ló os seus Totós, sem perceberem que as ruas estavam cheias de crianças pobres e abandonadas. Não era bem uma canção de protesto, mas uma balada de constrangimento – para sermos mais exatos.
Pois bem, nesses tempos de retrocessos inimagináveis, o constrangimento é outro e muda de lugar. Um prefeito, inacreditavelmente eleito em primeiro turno contra um bom prefeito que tentava a reeleição, além de pintar grafites de um cinza estúpido; expulsar mendigos que dormiam nas calçadas com jatos de água fria no inverno; destruir um trabalho feito pela saúde junto a usuários de drogas com a força policial; acabar com ciclovias a favor de carros; aumentar a velocidade das ruas da cidade provocando mortes de pedestres; agora oferece uma ração para alimentar pobres – ração que reaproveita mercadorias próximas ao vencimento nas prateleiras de supermercados e estoques do produtor. O cinismo é que se diz em alto e bom som que a ração eliminará o prejuízo de produtores e comerciantes da multa que se paga pelo descarte de produtos perecíveis para enfiá-los goela abaixo aos famintos da cidade.
O exótico e aético “produto alimentar” é apresentado em bolinhas do tipo ração animal, embalada exatamente igual com o nome fantasia de “Allimento”. Nome de marketing para tentar transformar ração animal em alimento humano.
Humanos não são animais. Hábitos alimentares fazem parte da cultura e variam com ela. A expressão “comer com os olhos” traduz a interação humana com os alimentos. A simples culinária até a mais sofisticada gastronomia distancia o ser humano da condição animalesca de ser apenas um predador de outro animal. Uma ração liofilizada pode servir os humanos em viagens espaciais ou em situação de guerra (situações limites), mas jamais como um “programa alimentar” que desumaniza o hábito da alimentação da espécie, que evoluiu há milhares de anos. Além de nomear humanos de segunda classe (melhor, não-humanos) a quem não é permitida manter hábitos alimentares.
Questionado com argumentos semelhantes, numa entrevista, o prefeito se exaltou e questionou o entrevistador: “hábitos alimentares? Você acha que alguém pobre, miserável vai ter hábito alimentar? Se ele se alimentar ele tem de dizer graças a Deus”! O vídeo termina com Dória dizendo: “este é um produto abençoado”. Faltou só dizer que era o maná do Senhor!
Uma revelação surpreendente: os que assim pensam eram contra a bolsa-família! Não eram as migalhas monetárias das sobras financeiras que deviam ser distribuídas aos pobres. Não é metáfora! É no real: migalhas de alimentos quase estragados são ofertadas ao escravo. É a nossa formação escravocrata, como defende Jessé de Sousa. Aquele pobre na rua não pertence à raça humana, no entendimento explicito de nossa sociedade marcada pela escravidão que não foi superada, na qual Dória tão bem representa o papel de senhor! O prefeito gestor-empresário representa o dono de escravos. Os que pensam como ele – a classe média guardiã – são apenas capitães-do-mato que ajudam a controlar os escravos. Não sabem – ou se recusam saber – que vieram da escravidão e a ela poderão voltar, sem nunca lhes ser possível ascender a senhor.
E temos que nos indignar com esse estado de coisas que assistimos nesses tristes dias. Senhor prefeito, o ser humano na rua – mesmo tendo perdido sua dignidade (que lhe foi tomada por uma sociedade injusta) ainda conserva seus hábitos alimentares no que cata no lixo. Até ali. Quem se lembra da cena do filme “Estamira” em que a protagonista cata um vidro de palmito no lixão de Gramacho para fazer uma macarronada de Natal, sabe o que estou tentando dizer. É que Dórias e seus capitães do mato não conseguem ver humanidade no pobre.
Mas são eles os desumanos: fascistas e escravocratas modernos. É que não conseguimos vencer o nosso passado escravocrata. Não à toa, para ter apoio dos deputados ruralistas para a manutenção do seu mandato, Temer revoga as leis que proibiam o trabalho escravo. Revogamos a Lei Áurea, 130 anos depois, porque essa sociedade não tinha se conformado com sua publicação.
A ração de cachorro proposta por Dória para alimentar pobres é apenas sintomas de uma sociedade doente. Muito doente.
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desenho: Jota Camelo para Causa Operária http://causaoperaria.org.br/blog/2017/10/16/coxao-e-coxinha-13/