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terça-feira, 29 de novembro de 2011

Relembrando a Banda

ANO DE 1966. ANO DO II FESTIVAL DE MÚSICA POPULAR BRASILEIRA DA TV RECORD (tendo como finalistas a "Banda" de Chico Buarque e Disparada de Theo de Barros e Geraldo Vandré.)

" A final aconteceu nma segunda-feira, 10 de outubro de 1966, no Teatro Record, que ficava na rua da Consolação. No auditório a platéia, dividida, gritava, balançando faixas e cartazes enquanto aguardava o resultado. Não menos tenso era o clima nos bastidores depois que Chico, percebendo - ou sabendo que venceria, sugeriu que houvesse empate entre as duas." e assim sendo, foram premiadas as duas. " cada uma das canções levou metade do premio que caberia ao primeiro lugar."  (Trecho do livro Chico Buarque de Wagner Homem)

Aproveito e transcrevo, aqui no bloque, essa belíssima crônica de Carlos Drummond.

".


"O jeito no momento é ver a banda passar, cantando coisa de amor. Pois de amor andamos todos precisados, em dose tal que nos alegre, nos reumanize, nos corrija, nos dê paciência e esperança, força, capacidade de entender, perdoar, ir para a frente. Amor que seja navio, casa, coisa cintilante, que nos vacine contra o feio, o errado, o triste, o mau, o absurdo e o mais que estamos vivendo ou presenciando.

A ordem, meus manos e desconhecidos meus, é abrir a janela, abrir não, escancará-la, é subir ao terraço como fez o velho que era fraco mais subiu assim mesmo, é correr à rua no rastro da meninada, e ver e ouvir a banda que passa. Viva a música, viva o sopro de amor que a música e a banda vêm trazendo, Chico Buarque de Holanda à frente, e que restaura em nós hipotecados palácios em ruínas, jardins pisoteados, cisternas secas, compensando-nos da confiança perdida nos homens e suas promessas, da perda dos sonhos que o desamor puiu e fixou, e que são agora como o paletó roído de traça, a pele escarificada de onde fugiu a beleza, o pó no ar, a falta de ar.

A felicidade geral com que foi recebida essa banda tão simples, tão brasileira e tão antiga na sua tradição lírica, que um rapaz de pouco mais de vinte anos botou na rua, alvoroçando novos e velhos, dá bem a ideia de como andávamos precisando de amor. Pois a banda não vem entoando marchas militares, nem a festejar com uma pirâmide de camélias e discursos as conquistas da violência. Esta banda é de amor, prefere rasgar corações, na receita do sábio maestro Anacleto de Medeiros, fazendo penetrar neles o fogo que arde sem se ver, o contentamento descontente, a dor que desatina sem doer, abrindo a ferida que dói e não se sente, como explicou um velho e imortal especialista português nessas matérias cordiais.

Meu partido está tomado. Não da Arena nem do MDB, sou desse partido congregacional e superior às classificações de emergência, que encontra na banda o remédio, a angra, o roteiro, a solução. Ele não obedece a cálculos da conveniência momentânea, não admite cassações nem acomodações para evitá-las, e principalmente não é um partido, mas o desejo, a vontade de compreender pelo amor, e de amar pela compreensão.


Se a banda sozinha faz a cidade toda se enfeitar e provoca até o aparecimento da lua cheia no céu confuso e soturno, crivado de signos ameaçadores, é porque há uma beleza generosa e solidária na banda, há uma indicação clara para todos os que têm responsabilidade de mandar e os que são mandados, os que estão contando dinheiro e os que não o têm para contar e muito menos para gastar, os espertos e os zangados, os vingativos e os ressentidos, os ambiciosos e todos, mas todos os etcéteras que eu poderia alinhar aqui se dispusesse da página inteira.

Coisas de amor são finezas que se oferecem a qualquer um que saiba cultivá-las, distribuí-las, começando por querer que elas floreçam. E não se limitam ao jardinzinho particular de afetos que cobre a área de nossa vida particular: abrangem terreno infinito, nas relações humanas, no país como entidade social carente de amor, no universo-mundo onde a voz do Papa soa como uma trompa longíngua, chamando o velho fraco, a moça feia, o homem sério, o faroleiro... todos os que viram a banda passar, e por uns minutos se sentiram melhores. E se o que era doce acabou, depois que a banda passou, que venha outra banda, Chico, e que nunca uma banda como essa deixe de musicar a alma da gente".



Foto da Semana


Foto: Paulo Tabatinga


Poemartemanhas

A PRAÇA É DO POVO!”
Não, meu poeta,
A praça é do bandido
Como o céu é do urubu   ( Paulo Tabatinga)



Filosofando

O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem mal, mas sim, por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer.

Albert Einstein


Acontecendo em Teresina










quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O Super Capitalismo - Braulio Tavares

As redes de relacionamento via Internet (Orkut, Twitter, Facebook, MySpace, etc.) são como as praças de antigamente: um lugar onde vamos passear, na esperança de reencontrar amigos e de fazer novas amizades. Digo as praças de antigamente, não porque elas não existam mais, mas porque estão virando um Zoológico humano onde os pobres, do lado de fora, espremem o rosto entre as grades para ver a classe média passeando lá dentro, protegida, dando banho de sol nos seus bebês, jogando dominó, lendo o jornal de manhã cedo. Se tirarem as grades a mendicância invade aquilo com gosto de gás, como o fez com a casa de Viridiana, a personificação buñuelesca da classe média bem intencionada.

Redes de relacionamento substituem esses espaços problemáticos, mas não são um logradouro virtual onde a gente passeia sem compromisso. Parecem mais com um Clube, onde você precisa se cadastrar para ter acesso; e onde cada passo seu, cada atitude, cada escolha, cada clique, fica gravado na memória do sistema de modo mais indelével do que nas Tábuas de Moisés. Não se engane, amigo. Cada link que você percute com o dedinho do cursor fica registrado numa gigantesca biografia cibernética que o sistema está criando sobre você. Porque saber quem é você é o objetivo desse sistema. A criação das redes de convivência é o pretexto mais simples para fazer com que você se cadastre para entrar, e a cada dia vá refinando seu cadastro, o que você faz clicando em músicas e filmes, dando nota ou palpite sobre os palpites e as notas dos outros usuários, jogando joguinhos inúteis (porque interessa ao sistema saber que você dispõe de, digamos, três horas e 42 minutos diários para jogar, digamos, FarmVille).

O objetivo final do Super Capitalismo é chegar um dia ao requinte de poder tratar por “você” cada cidadão, sabendo exatamente com quem está falando, porque já mapeou seus dados biográficos, seu perfil biológico, seu histórico escolar, seu curriculum vitae, sua história médica, seus hábitos de consumidor, suas propensões ideológicas, suas fidelidades políticas e religiosas, seu estilo de vida doméstico, suas preferências e especialidades sexuais, suas idiossincrasias como consumidor. O super-capitalismo terá uma super-ficha, nestes termos, sobre cada um entre bilhões de cidadãos. E seu sonho (somente um sonho; isto é irrealizável) é ser capaz de produzir as coisas para agradar a você. Ser capaz de lhe oferecer roupas nas suas medidas, nos seus modelos, cores, texturas e estilos de sua preferência. Ser capaz de mandar fabricar uma pasta de dentes planejada e concebida para você, pesquisada de acordo com suas preferências de cor, de sabor, de cheiro, de espessura, de formato e de design do tubo. Ser capaz de produzir um automóvel feito com tudo que você gosta, otimizando e harmonizando fatores conflitantes como beleza, desempenho, segurança e preço. (Isto se o Super Capitalismo der certo; se não der, o mundo será um Haiti.)

Fonte : http://mundofantasmo.blogspot.com/search/label/capitalismo:

Acontecendo em Teresina

Descaracterização da Avenida Frei Serafim - foto: Novembro 2011



Foto da Semana





Utilidade Pública



Essa bicicleta pertecente a um amigo meu. Foi roubada no balão da coca-cola. Quem, por acaso, avistá-la por aí, favor entrar em contato com a gente. desde já, agradeço!



Não é pesado: é meu irmão.

Foi o que o menino respondeu ao sair da enchente carregando o seu irmão menor nas costas.

Fonte: Internet



Poemartemanhas

Outro poema de Maiakovski


Não acabarão com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:
Amo
firme,
fiel
e verdadeiramente.



Filosofando

tu é que, sem vinho, me embriagaste    -
                                                          Dostoiévski

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Divisão do Piauí: sequer supor a iníqua hipótese! - João Cláudio Moreno

A propósito, de frente para o meu aparelho de TV, vi a Cidade Verde (a mais séria Televisão do Piauí) presentear a "Terra Querida", no seu próprio dia, com um debate sobre a possível divisão do Piauí. Nunca pensei viver para ver uma coisa dessas. Carlos Lacerda dizia sobre Getúlio em 1952: "O Sr. Getúlio Vargas não deve ser candidato, sendo candidato não deve ser eleito, sendo eleito não deve tomar posse e tomando posse não devemos deixá-lo governar." Sobre a divisão do Piauí refaço-me na paródia pródiga e trágica: Não devemos supor essa hipótese, supondo-a não devemos permitir manipulações de opinião, havendo-a temos que derrotar a monstruosa proposta e no caso de sermos vencidos, pegar em armas e lutar até as últimas consequências para impedir a absurda, enganadora, vil, cruel, cretina, oportunista, impatriótica e criminosa injúria cujo resultado imediato além do golpe fatal na nossa auto estima, será a depauperação, ainda maior, das duas regiões.

Como se não bastasse o meu espanto de ver a própria TV Cidade Verde, no dia do Piauí patrocinar a ocasião de tal debate que dividiu os defensores eloquentes da cisão entre os abertamente cínicos e os que não conseguem se conter, presenciei deputados, homens consagrados com votos do Norte e do sul, propalarem sem nenhuma reserva ou sutileza, o ódio entre as gentes, o prenúncio de um rancor imaginário, capaz de imobilizar os urgentes e inflamar os supostamente desassistidos. Mais ainda: ouvi o próprio governador do Estado do Piauí defender a tese de um outro estado, alheio ao resíduo histórico e ao amor a terra , elemento de cujo o valor deveria ser o representante maior, símbolo humano visível do todo, da posse emocional e da verve psicológica que menos faz amar igualmente tanto o Delta do Parnaíba como a Serra da Capivara, tanto a histórica Piracuruca quanto à singular corrente do Parnaguá. Essa diferença, que culturalmente não existe, além de não ser critério não é impedimento cabível para o esforço de juntos unidos íntegros, inteiros perseguirmos nosso destino que há de chegar, mas enquanto o Piauí sonha em ser e tornar-se, seus políticos querem ter e obter. Está muito claro a gana de quem quer iludir uma população presumivelmente desassistida e angariar espaço para uma condição temível., um projeto temível de consequências inevitáveis e igualmente temíveis.

O grande problema do sul, seu isolamento geográfico, perde sentido com as facilidades tecnológicas da comunicação globalizada, e o despovoamento, a baixa densidade demográfica, será ainda um desafio a ser enfrentado por muito tempo e não solucionando com um simples desmembramento. Quando muito se fala que os maiores investimentos até agora foram feitos no norte falta-se com a verdade. No sul estão concentrados os maiores esforços e recursos. As maiores obras físicas: a barragem da Boa Esperança, o Parque da Capivara, as maiores e melhores estradas as mais extensas redes de eletrificação rural, as plantações de soja, as fronteiras agrícolas e os demarcadas áreas extensas de preservação. Grandes cidades estão plantadas no Sul e a delimitação geográfica com suas fronteiras naturais, não artificiais que nos foram presenteadas pela extensão do rio Parnaíba de mais ou menos 1200 km separando o Piauí imenso de norte a sul do Maranhão tal qual imenso e a majestosa serra da Ibiapaba fronteira natural com o Ceará a leste. Ainda na cidade de Picos, uma das paisagens mais bonitas deste semiárido nordestino, a Serra do Araripe nasce despretensiosa, quase imperceptível, para mais adiante cautelosa se transformar na chapada dominada por florestas e caindo nas beiras do cariri Cearense e Pernambucano, delimitando os três estados em socavões nostálgicos, desses que, só de ver, o incapaz vira poeta.

A nossa história nos origina inteiro. nossa geografia concedeu inteira a nossa feição e os nossos limites, nossa sofrida existência marcada por três séculos de humilhação pública diante dos outros de nós mesmos, nossa historiografia cheia de vácuos mal explicados nos concedeu a situação peculiar dessa territoriedade inteira. No momento em que estamos acordando para a nossa identidade dispersa e vaga. nos empurram de goela abaixo o golpe desta sensação artificial que descamba para uma fronteira artificial, do surgimento de um estado artificial, forjada numa diferença artificial. É o que a sociologia chama de " necessidades falsas”, de que outrora muito nos falou o Professor Mangabeira Unger. O casuísmo das legislações viciadas e o oportunismo daqueles que não sabem amar, não tem compaixão, não tem pena nem piedade, nem responsabilidade nem noção do futuro, nem diferenciam o bem do mal. Enxergam as oportunidades das vantagens imediatas, por elas desvalam até nos perigos dos ódios étnicos, religiosos e político ideológicos, ranços históricos de que o Brasil até agora ainda não havia sido acometido, importados caldos sociológicos de outras culturas. Essas supostas "necessidades falsas" surgem ante esses interesses torpes que pulam a vista e patrulham qualquer outro valor humano ético, religioso, tradicional, poético, humano, sábio, sóbrio, enfim tudo o que não seja o dinheiro, hoje muito bem representado pelo dinheiro fácil das benesses e prerrogativas dos cargos públicos.

É patético e cínico, sei que o adjetivo é forte, mas não consigo encontrar outro. Recordo a fala de Ariano Suassuna tão respeitado e respeitável num excepcional encontro que tivemos em Teresina. Na ocasião ao comentar minha opinião de que o ex- líder comunista Roberto Freire sustentava uma visão equivocada sobre as perspectivas políticas do Brasil, o mestre foi enfático: “Não é equívoco não, é safadeza mesmo!" Tem horas que o discurso radical tem que ser a única possível investida justa e honesta diante da ambição sem limites dessa gente, pois o maior argumento de quem pretende desmembrar o Piauí, subtrair nosso território sagrado e tolher a mais rica esperança da região do sul, a perspectiva, o argumento pueril, canalha e simplista é o aumento do FPE (Fundo de participação dos Estados). Mas é engraçado que numa reforma tributária justa ninguém pensa, e se pensa, não demonstra um esboço de luta.

Lembro aos tecnocratas divisionistas que o PIB pode ser um valor técnico, mas não é um valor ético.

A estrutura burocrática a ser criada num possível novo estado do Gurguéia consumiria quase um bilhão de reais, uma farra institucional disposta aos aproveitadores de plantão que agora além de se beneficiar aqui vão também se beneficiar lá e no Piauí divido ou não, ou num futuro Estado do Gurgueia, o sol nascerá pra todos, mas a farra de um bom cargo público é para os mesmos.

Há uma sentença do inevitável. Vem do fundo da alma do indignado defensor das causas perdidas, aquele pessimista que, apavorado com a eficácia com que as coisas, em geral, pioram e sempre atento ao fato de que o que está ruim ainda pode piorar mais, clama revoltado: dividam, continuem dividindo, criando factoides para multiplicar acomodações políticas e manter e ampliar privilégios, daqui a pouco teremos mais vereadores que eleitores.



Acontecendo em Teresina



Foto da Semana




Poemartemanhas


Poema: Cinéas Santos - Foto: Paulo Tabatinga
O professor Cinéas me enviou o belíssimo poema acima: acho que foi inspirado na imagem da foto. depois recebi também, enviado pelo próprio Cinéas, um de H. Dobal. Os dois são de uma beleza sublime.

Irmãos e irmãzinhas: Dobal não costumava falar da poesia dele.Mas,em mais de uma oportunidade, demonstrou satisfação em ter escrito este pungente "Crepúsculo" numa "tarde triste" em Brasília. Paulo Tabatinga, sem ter lido o poema, fotografou este pôr do sol em Teresina como se buscasse uma ilustração para o poema. Uma semana luminosa para todos.      Cinéas Santos


CREPÚSCULO

Silencioso
Solitário
Sinistro
Um sol poente
Celebra o suicídio da tarde
.
( H. Dobal - Os Signos e as Siglas)




Filosofando

A ciência pode estabelecer limites quanto ao conhecimento, mas não quanto a imaginação. (Obras Filosóficas, Bertrand Russel, p.20)