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sábado, 25 de junho de 2011

Minimamente Feliz (Leila Ferreira, jornalista * )



A felicidade é a soma das pequenas felicidades. Li essa frase num outdoor em Paris e soube, naquele momento, que meu conceito de felicidade tinha acabado de mudar. Eu já suspeitava que a felicidade com letras maiúsculas não existia, mas dava a ela o benefício da dúvida.
Afinal, desde que nos entendemos por gente aprendemos a sonhar com essa felicidade no superlativo. Mas ali, vendo aquele outdoor estrategicamente colocado no meio do meu caminho (que de certa forma coincidia com o meio da minha trajetória de vida), tive certeza de que a felicidade, ao contrário do que nos ensinaram os contos de fadas e os filmes de Hollywood, não é um estado mágico e duradouro.
Na vida real, o que existe é uma felicidade homeopática, distribuída em conta-gotas. Um pôr-de-sol aqui, um beijo ali, uma xícara de café recém-coado, um livro que a gente não consegue fechar, um homem que nos faz sonhar, uma amiga que nos faz rir. São situações e momentos que vamos empilhando com o cuidado e a delicadeza que merecem alegrias de pequeno e médio porte e até grandes (ainda que fugazes) alegrias.
'Eu contabilizo tudo de bom que me aparece', sou adepta da felicidade homeopática. 'Se o zíper daquele vestido que eu adoro volta a fechar (ufa!) ou se pego um congestionamento muito menor do que eu esperava, tenho consciência de que são momentos de felicidade e vivo cada segundo.
Alguns crescem esperando a felicidade com maiúsculas e na primeira pessoa do plural: 'Eu me imaginava sempre com um homem lindo do lado, dizendo que me amava e me levando pra lugares mágicos Agora, se descobre que dá pra ser feliz no singular:
'Quando estou na estrada dirigindo e ouvindo as músicas que eu amo, é um momento de pura felicidade. Olho a paisagem, canto, sinto um bem-estar indescritível'.
Uma empresária que conheci recentemente me contou que estava falando e rindo sozinha quando o marido chegou em casa. Assustado, ele perguntou com quem ela estava conversando: 'Comigo mesma', respondeu. 'Adoro conversar com pessoas inteligentes'
.
Criada para viver grandes momentos, grandes amores e aquela felicidade dos filmes, a empresária trocou os roteiros fantasiosos por prazeres mais simples e aprendeu duas lições básicas: que podemos viver momentos ótimos mesmo não estando acompanhadas e que não tem sentido esperar até que um fato mágico nos faça felizes.

Esperar para ser feliz, aliás, é um esporte que abandonei há tempos. E faz parte da minha 'dieta de felicidade' o uso moderadíssimo da palavra 'quando'.
Aquela história de 'quando eu ganhar na Mega Sena', 'quando eu me casar', 'quando tiver filhos', 'quando meus filhos crescerem', 'quando eu tiver um emprego fabuloso' ou 'quando encontrar um homem que me mereça', tudo isso serve apenas para nos distrair e nos fazer esquecer da felicidade de hoje. Esperar o príncipe encantado, por exemplo, tem coisa mais sem sentido? Mesmo porque quase sempre os súditos são mais interessantes do que os príncipes; ou você acha que a Camilla Parker-Bowles está mais bem servida do que a Victoria Beckham?
Como tantos já disseram tantas vezes, aproveitem o momento, amigos. E quem for ruim de contas recorra à calculadora para ir somando as pequenas felicidades.

Podem até dizer que nos falta ambição, que essa soma de pequenas alegrias é uma operação matemática muito modesta para os nossos tempos. Que digam.

Melhor ser minimamente feliz várias vezes por dia do que viver eternamente em compasso de espera.
* Leila Ferreira é uma jornalista mineira com mestrado em Letras e doutora em Comunicação, em Londres.

Fotopoema


Artigo lindíssimo do meu amigo Edmar


Vai dar nos gostos ( Edmar Oliveira)

Acontece com todos nós que moramos fora do Piauí. Quando passamos uns dias por lá, a parentada nos presenteia na volta com um jacá de pedaços dos sabores da terra: carne-de-sol, bacuri, buriti, rapadura, cajuína, pequi, paçoca, doce-de-jaca, bolo frito, peta, cachaça mangueira (outro dia ganhei a Lira de Amarante, que é uma delícia), arroz de capote, bode guisado, capão cheio, linguiça da terra, panelada, mão de vaca e outros quitutes que terminam sobrando por não caberem no jacá. Acho que a intenção é conservar os gostos da terra dentro de nós. São pedaços do Piauí que nos acompanham por um bom tempo, que quando acabam fazem a saudade nos carregar de volta à terrinha.
E na culinária carregamos um sotaque, que nos distingue completamente dos conterrâneos de outras regiões da nação nordestina. Quem já provou bolo frito com café preto sabe do que estou falando. A nossa canjica, de consistência endurecida que se amolece no corte da faca e pode ser comida a colheradas, com um sabor sensual da canela em cima, não se parece com nenhuma outra do mesmo nome e de outros sabores. Talvez só se possa comparar a consistência da nossa canjica com os seios firmes, que balançam ao caminhar, das nossas caboclas. E a peta não se parece em nada com os biscoitos de polvilho, que lhe imita na forma, mas jamais no sabor. A exótica combinação do mocotó do boi às suas vísceras faz da nossa panelada uma delícia que não se compara à tripa lombeira ou ao mocotó, encontrados nos botequins aqui do Rio e São Paulo. A panelada é a essência do sabor do sertão. Certa feita fiz uma recepção piauiseira aos meus amigos aqui em baixo do equador. E mandei importar da Filha do Sol uma panelada para os conterrâneos e um arroz-de-capote para o paladar mais refinado dos cariocas. O que não sobrou foi a panelada. E não faltaram os elogios para o sabor “exótico” do arroz com pequi. O doce de bacuri e a cajuína marcam a identidade dos piauiseiros.
Mas se com a globalização dos nossos produtos podemos matar a saudade de alguns deles na Feira de São Cristóvão, dois ingredientes nos falta para uma reprodução do nosso sabor: a pimenta de cheiro e o coentro. Sei, vão lá me dizer que o coentro se encontra em toda parte e se pode achar pimenta de cheiro em algumas feiras livres nas ruas do Rio. Mas não com o mesmo gosto! Quem é da terra sabe o significado da expressão “vai dar nos gostos”. É disso que se trata. Nosso coentro (o cheiro-verde do mercado Mafuá ou da Piçarra) e a nossa pimenta de cheiro têm um sabor orgástico, que não se encontra nos genéricos no Brasil afora. Deve ser fruto da germinação na terra quente com a inclemência do sol. 
E são dois produtos perecíveis de difícil conservação. No congelador perdem o sabor (já tentei e desaconselho). E sem os dois não há sabor do Piauí na nossa culinária. Mas se pra tudo tem jeito, menos a morte, apresento uma receita simples, que aprendi com um piauiense candango (Brasília tem a maior concentração de piauienses fora de casa), que é muito fácil e dura uns bons seis meses.
Da próxima vez que você voltar ao Piauí não se esqueça de trazer na bagagem o nosso cheiro verde e a pimenta de cheiro. Junte os dois no liquidificador com sal e alho (pode ser sal com alho já pronto, mas acrescente mais alho), bote algum cominho e pimenta do reino, um pouco de vinagre (acrescente vagarosamente para manter a consistência da canjica) e ponha uns dois dedos de azeite para ajudar o vinagre na conserva. Bata bem e acondicione num vidro com tampa conservado em geladeira (não precisa ir ao congelador). Pronto. Quando for fazer frango, carne ou peixe esfregue a mistura verde com o sabor da terra em conserva e sua comida vai parecer ter sido feita com o tempero da mamãe. E a saudade da terra pode aumentar. Mas “vai dar nos gostos”, com se diz de uma boa trepada.     






Aconteceu em Teresina


Morro do Urubu
antes da "esperança taiada"


Foto da Semana




Poemartemanhas

Sensual

Raimundo Santana


Se tu me estreitas no febril regaço
E dá-me beijos com teu lábio ardente,
Sinto no peito a sede de outro abraço,
A sede de outro beijo o lábio sente.

Se no teu corpo a mão nervosa passo
Buscando o níveo róseo seio quente,
Prender-me junto a ti sinto o teu braço
Que me entrelaça como uma serpente.

E assim ficamos, um ao outro presos,
Mas de repente, trêmulos de medo,
Nos separamos quase indignados,

Tu, branca e pálida, os cabelos soltos,
Nos ombros teus caídos e revoltos
E os lábios meus de beijos perfumados






Filosofando

Não sou contra o progresso
Mas apelo pro bom senso
Um erro não conserta o outro
Isso é o que eu penso    (Roberto Carlos)





Para Relaxar


Um comentário:

Célia Vaz disse...

Paulinho, muito bom o texto da Leila. Ao contrário dela aprendi bem mais cedo que a felicidade que sonhamos na adolescência não passa realmente disso: sonhos. Devemos mesmo aproveitar cada momento feliz que nos aparece.
Adorei o texto do Edmar.
Abraços!