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domingo, 10 de abril de 2011

Semear Palavras (Edwar de Alencar C. Branco)

Em 1948, quando se prenunciava o transe estúpido da guerra fria, George Orwell, pseudônimo literato indo-britânico Eric Arthur Blair, escreveria um romance futurista na qual descreveria as agruras de um tempo quando as pessoas, por obra de uma ditadura ferrenha do big brother, estavam empobrecidas de palavras e, por conseqüência, não conseguiam articular metaforicamente o seu mundo, o qual, desprovidos de palavras, era cinza e triste. Para nomear o romance sombrio, Orwell inverteria a última dezena do ano dentro de cujas condições existenciais a obra foi produzida: escrito em 1948, como dito, o romance chamou-se 1948, título com o qual se tornaria um dos grandes clássicos da literatura universal.
Por um desses mistérios inexplicáveis, através dos quais acabamos concluindo com Caetano Veloso que é incrível a força que as coisas parecem ter quando precisam acontecer, foi justamente em 1984, quando me tornei calouro do curso de História  da Universidade Federal do Piauí, que o livro de Orwell chegou ás minhas mãos. Li-o sofregamente me detendo apenas no trecho que me pareceu, àquela época, o mais emblemático: ao dirigir-se aos seus soldados, orientando-os sobre como proceder para dominar o mundo, o big brother lança o seguinte petardo: “ é preciso destruir as palavras, diminuí-las, limitá-las ao máximo, porque quando não houver mais palavras para expressar os pensamentos, nós não vamos mais precisar vigiar pensamentos”. Desde então, em minha prática de historiador, sempre penso nisso quando preciso dizer alguma coisa sobre as minhas artes de fazer, ou mesmo quando preciso avaliar as artes de outrem. Aprendi, com Orwell, que o lugar de acontecimento da história é a linguagem.
Nos escuros escaninhos de minha memória, a lembrança de George Orwell é vizinha da lembrança de Ariano Suassuna . e esta  é perpendicular de Caetano Veloso, que é vizinhna da lembrança de Torquato Neto, que fica a apenas algumas quadras da lembrança de Gabriel Garcia Márquez. No mesmo bairro estão as memórias de Ítalo Calvino, Ignácio de Loyola Brandão, caio Fernando Abreu e Affonso de Sant’Anna. E todas essas lembranças, pelas quais passeio todos os dias, me reafirmam cotidianamente o poder da palavra, a capacidade infinita da linguagem. E é aí que se encontra a justificativa para minha referencia a essas lembranças em um texto sobre o SALIPI: (Salão do Livro do Piauí) : vivemos um tempo de guerrilha semântica, de genocídio lingüístico. Nossas palavras, já parcas, estão sendo invadidas por outras palavras e tendem a se precarizar cada vez mais. Nesse universo, empreendimentos como o SALIPI funcionam como uma fértil semeadura de palavras. Servem, eventos assim, para reouvirmos que livros não mudam o mundo, posto que quem muda o mundo são os homens. Os livros, nós sabemos, só mudam os homens. Talvez já seja hora de multiplicarmos os regadores. Em defesa de nossas palavras, cultivemos o campo fértil do SALIPI.
Edwar de Alencar C. Branco     

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                                     Serguéi  Iessiênin – (1895-1925)

Em 28 de dezembro de 1925 o poeta Sierguéi Iessiênin enforcou-se num quarto do Hotel Inglaterra, em Leningrado. Tinha 30 anos. Seu último verso, deixado ao amigo Vladimir Maiakóvski, terminava assim:

Adeus, amigo, sem mãos nem palavras.
Não faças um sobrolho pensativo:
Se morrer, nesta vida, não é novo,
tampouco há novidade em estar vivo. 

A resposta de Maiakóvski veio em forma de um poema. (colocado, aqui, somente os versos finais):

(..)Para o júbilo o planeta está imaturo.
É preciso arrancar alegria ao futuro.
Nesta vida morrer não é difícil.
O difícil é a vida e seu ofício.     


Filosofando
                           




“ A vida real seria insuportável se não fossem os sonhos” Anatole France

2 comentários:

Célia Vaz disse...

Paulo, excelente esse texto do Edwar. Ótima escolha você fez, não só pelo conteúdo em si, sempre pertinente, mas também devido ao nosso iminente grande evento cultural.
Um grande abraço.

Célia Vaz disse...

Lua:bela foto
A lua sempre é linda, em qualquer de suas fases, às vezes só não sabemos ou não podemos apreciá-la por causa dos obstáculos.