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terça-feira, 29 de novembro de 2011

Relembrando a Banda

ANO DE 1966. ANO DO II FESTIVAL DE MÚSICA POPULAR BRASILEIRA DA TV RECORD (tendo como finalistas a "Banda" de Chico Buarque e Disparada de Theo de Barros e Geraldo Vandré.)

" A final aconteceu nma segunda-feira, 10 de outubro de 1966, no Teatro Record, que ficava na rua da Consolação. No auditório a platéia, dividida, gritava, balançando faixas e cartazes enquanto aguardava o resultado. Não menos tenso era o clima nos bastidores depois que Chico, percebendo - ou sabendo que venceria, sugeriu que houvesse empate entre as duas." e assim sendo, foram premiadas as duas. " cada uma das canções levou metade do premio que caberia ao primeiro lugar."  (Trecho do livro Chico Buarque de Wagner Homem)

Aproveito e transcrevo, aqui no bloque, essa belíssima crônica de Carlos Drummond.

".


"O jeito no momento é ver a banda passar, cantando coisa de amor. Pois de amor andamos todos precisados, em dose tal que nos alegre, nos reumanize, nos corrija, nos dê paciência e esperança, força, capacidade de entender, perdoar, ir para a frente. Amor que seja navio, casa, coisa cintilante, que nos vacine contra o feio, o errado, o triste, o mau, o absurdo e o mais que estamos vivendo ou presenciando.

A ordem, meus manos e desconhecidos meus, é abrir a janela, abrir não, escancará-la, é subir ao terraço como fez o velho que era fraco mais subiu assim mesmo, é correr à rua no rastro da meninada, e ver e ouvir a banda que passa. Viva a música, viva o sopro de amor que a música e a banda vêm trazendo, Chico Buarque de Holanda à frente, e que restaura em nós hipotecados palácios em ruínas, jardins pisoteados, cisternas secas, compensando-nos da confiança perdida nos homens e suas promessas, da perda dos sonhos que o desamor puiu e fixou, e que são agora como o paletó roído de traça, a pele escarificada de onde fugiu a beleza, o pó no ar, a falta de ar.

A felicidade geral com que foi recebida essa banda tão simples, tão brasileira e tão antiga na sua tradição lírica, que um rapaz de pouco mais de vinte anos botou na rua, alvoroçando novos e velhos, dá bem a ideia de como andávamos precisando de amor. Pois a banda não vem entoando marchas militares, nem a festejar com uma pirâmide de camélias e discursos as conquistas da violência. Esta banda é de amor, prefere rasgar corações, na receita do sábio maestro Anacleto de Medeiros, fazendo penetrar neles o fogo que arde sem se ver, o contentamento descontente, a dor que desatina sem doer, abrindo a ferida que dói e não se sente, como explicou um velho e imortal especialista português nessas matérias cordiais.

Meu partido está tomado. Não da Arena nem do MDB, sou desse partido congregacional e superior às classificações de emergência, que encontra na banda o remédio, a angra, o roteiro, a solução. Ele não obedece a cálculos da conveniência momentânea, não admite cassações nem acomodações para evitá-las, e principalmente não é um partido, mas o desejo, a vontade de compreender pelo amor, e de amar pela compreensão.


Se a banda sozinha faz a cidade toda se enfeitar e provoca até o aparecimento da lua cheia no céu confuso e soturno, crivado de signos ameaçadores, é porque há uma beleza generosa e solidária na banda, há uma indicação clara para todos os que têm responsabilidade de mandar e os que são mandados, os que estão contando dinheiro e os que não o têm para contar e muito menos para gastar, os espertos e os zangados, os vingativos e os ressentidos, os ambiciosos e todos, mas todos os etcéteras que eu poderia alinhar aqui se dispusesse da página inteira.

Coisas de amor são finezas que se oferecem a qualquer um que saiba cultivá-las, distribuí-las, começando por querer que elas floreçam. E não se limitam ao jardinzinho particular de afetos que cobre a área de nossa vida particular: abrangem terreno infinito, nas relações humanas, no país como entidade social carente de amor, no universo-mundo onde a voz do Papa soa como uma trompa longíngua, chamando o velho fraco, a moça feia, o homem sério, o faroleiro... todos os que viram a banda passar, e por uns minutos se sentiram melhores. E se o que era doce acabou, depois que a banda passou, que venha outra banda, Chico, e que nunca uma banda como essa deixe de musicar a alma da gente".



Foto da Semana


Foto: Paulo Tabatinga


Poemartemanhas

A PRAÇA É DO POVO!”
Não, meu poeta,
A praça é do bandido
Como o céu é do urubu   ( Paulo Tabatinga)



Filosofando

O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem mal, mas sim, por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer.

Albert Einstein


Acontecendo em Teresina










quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O Super Capitalismo - Braulio Tavares

As redes de relacionamento via Internet (Orkut, Twitter, Facebook, MySpace, etc.) são como as praças de antigamente: um lugar onde vamos passear, na esperança de reencontrar amigos e de fazer novas amizades. Digo as praças de antigamente, não porque elas não existam mais, mas porque estão virando um Zoológico humano onde os pobres, do lado de fora, espremem o rosto entre as grades para ver a classe média passeando lá dentro, protegida, dando banho de sol nos seus bebês, jogando dominó, lendo o jornal de manhã cedo. Se tirarem as grades a mendicância invade aquilo com gosto de gás, como o fez com a casa de Viridiana, a personificação buñuelesca da classe média bem intencionada.

Redes de relacionamento substituem esses espaços problemáticos, mas não são um logradouro virtual onde a gente passeia sem compromisso. Parecem mais com um Clube, onde você precisa se cadastrar para ter acesso; e onde cada passo seu, cada atitude, cada escolha, cada clique, fica gravado na memória do sistema de modo mais indelével do que nas Tábuas de Moisés. Não se engane, amigo. Cada link que você percute com o dedinho do cursor fica registrado numa gigantesca biografia cibernética que o sistema está criando sobre você. Porque saber quem é você é o objetivo desse sistema. A criação das redes de convivência é o pretexto mais simples para fazer com que você se cadastre para entrar, e a cada dia vá refinando seu cadastro, o que você faz clicando em músicas e filmes, dando nota ou palpite sobre os palpites e as notas dos outros usuários, jogando joguinhos inúteis (porque interessa ao sistema saber que você dispõe de, digamos, três horas e 42 minutos diários para jogar, digamos, FarmVille).

O objetivo final do Super Capitalismo é chegar um dia ao requinte de poder tratar por “você” cada cidadão, sabendo exatamente com quem está falando, porque já mapeou seus dados biográficos, seu perfil biológico, seu histórico escolar, seu curriculum vitae, sua história médica, seus hábitos de consumidor, suas propensões ideológicas, suas fidelidades políticas e religiosas, seu estilo de vida doméstico, suas preferências e especialidades sexuais, suas idiossincrasias como consumidor. O super-capitalismo terá uma super-ficha, nestes termos, sobre cada um entre bilhões de cidadãos. E seu sonho (somente um sonho; isto é irrealizável) é ser capaz de produzir as coisas para agradar a você. Ser capaz de lhe oferecer roupas nas suas medidas, nos seus modelos, cores, texturas e estilos de sua preferência. Ser capaz de mandar fabricar uma pasta de dentes planejada e concebida para você, pesquisada de acordo com suas preferências de cor, de sabor, de cheiro, de espessura, de formato e de design do tubo. Ser capaz de produzir um automóvel feito com tudo que você gosta, otimizando e harmonizando fatores conflitantes como beleza, desempenho, segurança e preço. (Isto se o Super Capitalismo der certo; se não der, o mundo será um Haiti.)

Fonte : http://mundofantasmo.blogspot.com/search/label/capitalismo:

Acontecendo em Teresina

Descaracterização da Avenida Frei Serafim - foto: Novembro 2011



Foto da Semana





Utilidade Pública



Essa bicicleta pertecente a um amigo meu. Foi roubada no balão da coca-cola. Quem, por acaso, avistá-la por aí, favor entrar em contato com a gente. desde já, agradeço!



Não é pesado: é meu irmão.

Foi o que o menino respondeu ao sair da enchente carregando o seu irmão menor nas costas.

Fonte: Internet



Poemartemanhas

Outro poema de Maiakovski


Não acabarão com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:
Amo
firme,
fiel
e verdadeiramente.



Filosofando

tu é que, sem vinho, me embriagaste    -
                                                          Dostoiévski

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Divisão do Piauí: sequer supor a iníqua hipótese! - João Cláudio Moreno

A propósito, de frente para o meu aparelho de TV, vi a Cidade Verde (a mais séria Televisão do Piauí) presentear a "Terra Querida", no seu próprio dia, com um debate sobre a possível divisão do Piauí. Nunca pensei viver para ver uma coisa dessas. Carlos Lacerda dizia sobre Getúlio em 1952: "O Sr. Getúlio Vargas não deve ser candidato, sendo candidato não deve ser eleito, sendo eleito não deve tomar posse e tomando posse não devemos deixá-lo governar." Sobre a divisão do Piauí refaço-me na paródia pródiga e trágica: Não devemos supor essa hipótese, supondo-a não devemos permitir manipulações de opinião, havendo-a temos que derrotar a monstruosa proposta e no caso de sermos vencidos, pegar em armas e lutar até as últimas consequências para impedir a absurda, enganadora, vil, cruel, cretina, oportunista, impatriótica e criminosa injúria cujo resultado imediato além do golpe fatal na nossa auto estima, será a depauperação, ainda maior, das duas regiões.

Como se não bastasse o meu espanto de ver a própria TV Cidade Verde, no dia do Piauí patrocinar a ocasião de tal debate que dividiu os defensores eloquentes da cisão entre os abertamente cínicos e os que não conseguem se conter, presenciei deputados, homens consagrados com votos do Norte e do sul, propalarem sem nenhuma reserva ou sutileza, o ódio entre as gentes, o prenúncio de um rancor imaginário, capaz de imobilizar os urgentes e inflamar os supostamente desassistidos. Mais ainda: ouvi o próprio governador do Estado do Piauí defender a tese de um outro estado, alheio ao resíduo histórico e ao amor a terra , elemento de cujo o valor deveria ser o representante maior, símbolo humano visível do todo, da posse emocional e da verve psicológica que menos faz amar igualmente tanto o Delta do Parnaíba como a Serra da Capivara, tanto a histórica Piracuruca quanto à singular corrente do Parnaguá. Essa diferença, que culturalmente não existe, além de não ser critério não é impedimento cabível para o esforço de juntos unidos íntegros, inteiros perseguirmos nosso destino que há de chegar, mas enquanto o Piauí sonha em ser e tornar-se, seus políticos querem ter e obter. Está muito claro a gana de quem quer iludir uma população presumivelmente desassistida e angariar espaço para uma condição temível., um projeto temível de consequências inevitáveis e igualmente temíveis.

O grande problema do sul, seu isolamento geográfico, perde sentido com as facilidades tecnológicas da comunicação globalizada, e o despovoamento, a baixa densidade demográfica, será ainda um desafio a ser enfrentado por muito tempo e não solucionando com um simples desmembramento. Quando muito se fala que os maiores investimentos até agora foram feitos no norte falta-se com a verdade. No sul estão concentrados os maiores esforços e recursos. As maiores obras físicas: a barragem da Boa Esperança, o Parque da Capivara, as maiores e melhores estradas as mais extensas redes de eletrificação rural, as plantações de soja, as fronteiras agrícolas e os demarcadas áreas extensas de preservação. Grandes cidades estão plantadas no Sul e a delimitação geográfica com suas fronteiras naturais, não artificiais que nos foram presenteadas pela extensão do rio Parnaíba de mais ou menos 1200 km separando o Piauí imenso de norte a sul do Maranhão tal qual imenso e a majestosa serra da Ibiapaba fronteira natural com o Ceará a leste. Ainda na cidade de Picos, uma das paisagens mais bonitas deste semiárido nordestino, a Serra do Araripe nasce despretensiosa, quase imperceptível, para mais adiante cautelosa se transformar na chapada dominada por florestas e caindo nas beiras do cariri Cearense e Pernambucano, delimitando os três estados em socavões nostálgicos, desses que, só de ver, o incapaz vira poeta.

A nossa história nos origina inteiro. nossa geografia concedeu inteira a nossa feição e os nossos limites, nossa sofrida existência marcada por três séculos de humilhação pública diante dos outros de nós mesmos, nossa historiografia cheia de vácuos mal explicados nos concedeu a situação peculiar dessa territoriedade inteira. No momento em que estamos acordando para a nossa identidade dispersa e vaga. nos empurram de goela abaixo o golpe desta sensação artificial que descamba para uma fronteira artificial, do surgimento de um estado artificial, forjada numa diferença artificial. É o que a sociologia chama de " necessidades falsas”, de que outrora muito nos falou o Professor Mangabeira Unger. O casuísmo das legislações viciadas e o oportunismo daqueles que não sabem amar, não tem compaixão, não tem pena nem piedade, nem responsabilidade nem noção do futuro, nem diferenciam o bem do mal. Enxergam as oportunidades das vantagens imediatas, por elas desvalam até nos perigos dos ódios étnicos, religiosos e político ideológicos, ranços históricos de que o Brasil até agora ainda não havia sido acometido, importados caldos sociológicos de outras culturas. Essas supostas "necessidades falsas" surgem ante esses interesses torpes que pulam a vista e patrulham qualquer outro valor humano ético, religioso, tradicional, poético, humano, sábio, sóbrio, enfim tudo o que não seja o dinheiro, hoje muito bem representado pelo dinheiro fácil das benesses e prerrogativas dos cargos públicos.

É patético e cínico, sei que o adjetivo é forte, mas não consigo encontrar outro. Recordo a fala de Ariano Suassuna tão respeitado e respeitável num excepcional encontro que tivemos em Teresina. Na ocasião ao comentar minha opinião de que o ex- líder comunista Roberto Freire sustentava uma visão equivocada sobre as perspectivas políticas do Brasil, o mestre foi enfático: “Não é equívoco não, é safadeza mesmo!" Tem horas que o discurso radical tem que ser a única possível investida justa e honesta diante da ambição sem limites dessa gente, pois o maior argumento de quem pretende desmembrar o Piauí, subtrair nosso território sagrado e tolher a mais rica esperança da região do sul, a perspectiva, o argumento pueril, canalha e simplista é o aumento do FPE (Fundo de participação dos Estados). Mas é engraçado que numa reforma tributária justa ninguém pensa, e se pensa, não demonstra um esboço de luta.

Lembro aos tecnocratas divisionistas que o PIB pode ser um valor técnico, mas não é um valor ético.

A estrutura burocrática a ser criada num possível novo estado do Gurguéia consumiria quase um bilhão de reais, uma farra institucional disposta aos aproveitadores de plantão que agora além de se beneficiar aqui vão também se beneficiar lá e no Piauí divido ou não, ou num futuro Estado do Gurgueia, o sol nascerá pra todos, mas a farra de um bom cargo público é para os mesmos.

Há uma sentença do inevitável. Vem do fundo da alma do indignado defensor das causas perdidas, aquele pessimista que, apavorado com a eficácia com que as coisas, em geral, pioram e sempre atento ao fato de que o que está ruim ainda pode piorar mais, clama revoltado: dividam, continuem dividindo, criando factoides para multiplicar acomodações políticas e manter e ampliar privilégios, daqui a pouco teremos mais vereadores que eleitores.



Acontecendo em Teresina



Foto da Semana




Poemartemanhas


Poema: Cinéas Santos - Foto: Paulo Tabatinga
O professor Cinéas me enviou o belíssimo poema acima: acho que foi inspirado na imagem da foto. depois recebi também, enviado pelo próprio Cinéas, um de H. Dobal. Os dois são de uma beleza sublime.

Irmãos e irmãzinhas: Dobal não costumava falar da poesia dele.Mas,em mais de uma oportunidade, demonstrou satisfação em ter escrito este pungente "Crepúsculo" numa "tarde triste" em Brasília. Paulo Tabatinga, sem ter lido o poema, fotografou este pôr do sol em Teresina como se buscasse uma ilustração para o poema. Uma semana luminosa para todos.      Cinéas Santos


CREPÚSCULO

Silencioso
Solitário
Sinistro
Um sol poente
Celebra o suicídio da tarde
.
( H. Dobal - Os Signos e as Siglas)




Filosofando

A ciência pode estabelecer limites quanto ao conhecimento, mas não quanto a imaginação. (Obras Filosóficas, Bertrand Russel, p.20)

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Halloween: o controle e a alienação dos consumidores

Trato deste assunto pela importância que ele tem não por sua existência no Brasil, mas porque demonstra os modos de controle que o mercado exerce sobre os consumidores em geral, bem como a dificuldade que existe para a tomada de consciência da possibilidade de libertação das amarras tão bem engendradas pelo capitalismo contemporâneo. Pois bem. Vem aí mais um dia das bruxas. Ao que parece, já é parte do calendário comercial e, o pior de tudo, é que muitas escolas aderiram!
Halloween no Brasil? São as "bruxas e bruxos" do marketing, que sempre aproveitam alguma coisa para faturar e, no caso, uma gorda receita, vendendo bugigangas, doces e mais porcarias para nossas crianças.
É verdade que, algumas escolas, não conseguindo fugir do evento, estão começando a fazer atividades didáticas e lúdicas, sem o emporcalhamento de doces e guloseimas oferecidos em grandes quantidades e sem nenhuma função de educação ou saúde. Mas, é pouco, pois, infelizmente, tudo indica que o tal dia das bruxas, famoso nos Estados Unidos, instalou-se entre nós, alegre (ou macabro) e impunemente.
Tive oportunidade de mostrar que Ignacio Ramonet, no livro Guerras do Século XXI (Petrópolis: Vozes, 2003), diz que o novo sistema de controle dos grandes países poderosos não é mais o de territórios, mas o de mercados. Aliás, são as grandes corporações que controlam as forças internas desses países desenvolvidos pela via do mercado, de modo que elas e esses países visam por esse meio (o do mercado) ao controle dos mercados (e das sociedades) do mundo inteiro.
Essa forma de domínio, no final do século XX e início do XXI, passou a se imiscuir em praticamente todas as atividades humanas, transformando em evento comercial qualquer comemoração.
Pensemos a questão do Halloween no Brasil. O que, afinal de contas, as crianças brasileiras têm a ver com essa festa pagã? Nada. Trata-se de uma importação sem qualquer fundamento ou justificativa local. É agora apenas algo que o mercado deseja. Para se ter uma ideia do que está em jogo, nos Estados Unidos, a festa do terror, das bruxas e dos fantasmas já se tornou o segundo maior momento de faturamento do mercado, perdendo apenas para o Natal.
Lembro da reclamação de meu amigo Walter Ego: há três anos no fim de outubro, ele estava na casa de parentes num condomínio fechado do interior de São Paulo, quando bateram à porta crianças fantasiadas de bruxas, caveiras, duendes e o que o valha. A porta foi aberta e eles disseram: "travessuras ou gostosuras". E lá foram os parentes de meu amigo entregar saquinhos que tinham previamente preparado com doces, balas e chocolates. E depois daquelas crianças vieram muitas outras. "Uma grande bobagem", reclamou W. Ego.
Na época, depois dele me contar o episódio, eu, brincando, objetei que já tínhamos a Páscoa e mais ainda o Natal, este que, por muitos anos – e ainda até hoje – faz, por exemplo, com que comamos, em pleno calor tropical, comidas gordas, doces, frutos secos, nozes, etc, alimentos típicos de lugares frios, de onde a festa foi importada. "É verdade", disse ele. "Mas isso se deu em outros tempos. Eu pensava que atualmente nós pudéssemos lutar contra esse tipo de imposição; que poderíamos resistir".
Sim, talvez pudéssemos. Há mesmo um início de tomada de consciência a respeito do controle exercido pelo mercado, algo que vem se esboçando desde fins do século XX. O consumidor, considerado como tal – algo que ficou bem estabelecido a partir da mensagem enviada ao Congresso Americano em 15/3/1962 pelo então Presidente John Kennedy – pôde começar a se perceber como alvo dos fornecedores em geral e até do próprio Estado produtor. E, assim, aos poucos, passou a reclamar e reivindicar direitos. Passou a poder resistir às tentações e determinações unilaterais. Mas ainda não consegue fazê-lo em larga escala. Aliás, essa questão do Halloween no Brasil oferece uma boa oportunidade para o exame de como as coisas são feitas. É que estamos ainda no nascedouro de uma imposição mercadológica.
No meu tempo de criança ou adolescente (há quarenta anos) seria impensável um dia das bruxas no Brasil. Não sei quando começou. Mas, possivelmente há cerca de dez ou quinze anos, alguma escola de inglês deve ter feito a programação para seguir o ritual norte-americano. Depois, no ano seguinte mais uma escola e mais outra, etc. Com a importação via tevê à cabo e também tevê aberta de cada vez mais enlatados americanos que reproduzem a festa (basta ficar com o exemplo famoso do grande filme de Steven Spielberg, E.T., no qual o evento é retratado), aos poucos, os brasileiros foram se acostumando com a festa, como se a mesma também fizesse parte de nossa realidade. Daí, mais um ano, e a festa foi feita em escolas; depois em baladas de adultos e, enfim, chegou o momento em que parece que ela tem a ver conosco. Atualmente, nas tevês à cabo, nos canais de programas infantis, são apresentados programas específicos somente sobre a festa. Evidentemente, o mercado, sempre de olho nas oportunidades, deu sua contribuição e eis que temos entre nós crescendo vigorosamente uma festa importada, sem qualquer fundamento cultural e mesmo sem sentido ritualístico.
Dá para resistir? No Estado de São Paulo e também na capital, há leis oficializando o dia 31 de outubro como o Dia do Saci, como uma tentativa de se opor ao Dia das Bruxas, já que o Saci é tipicamente Nacional, pertencendo a nosso folclore e tradições. Há também na Câmara Federal projeto de lei para instituir o Dia Nacional do Saci e existe até uma associação intitulada SOSACI – Sociedade dos observadores de Saci (clique aqui). São, penso, tentativas válidas. Mas, é pouco. A resistência real e que poderia funcionar deve vir do próprio consumidor, especialmente os pais, que podem explicar aos menores o que é a festa e porque não participar dos eventos. As escolas devem fazer o mesmo e, claro, os pais poderiam pressioná-las a não produzirem esse tipo de comemoração.
Repito o que disse acima: se ainda existisse algum significado simbólico ou ritualístico na festa, vá lá. Mas nem as crianças-vítimas ou seus pais sabem do que se trata. É apenas um momento de gasto inútil de dinheiro em fantasias, doces e gorduras, contribuindo para cáries e a obesidade infantil.
O que conseguimos observar, é que cada vez mais nossa cultura (e a sociedade brasileira) vai cedendo espaço àquilo que não nos pertence. Aos poucos e continuamente, vamos preenchendo nossos espaços com tradições de outros povos – como já fizemos e muito - e que, nesse caso, sequer é algo relevante, pois se trata de uma evidente imposição do mercado oportunista que, como já disse, só pensa em faturar.
O processo é lento, mas constante. Aqueles que atuam no mercado são espertos o suficiente para entender um pouco a alma do consumidor e acabam descobrindo a necessidade de preencher os espaços existentes no lar, no convívio doméstico, na relação entre pais e filhos. Daí, na presente hipótese, oferecem, com essa estranha comemoração, mais uma boa desculpa de ocupação desse tempo, que fica, como quase sempre, intermediado pelo dinheiro gasto. É o consumismo enlatado e alienante, esteja ou não de acordo com nossas tradições e nossas leis.
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 * Rizzatto Nunes - Desembargador do TJ/SP, escritor e professor de Direito do Consumidor.

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Publicado em:

Quinta-feira, 27 de outubro de 2011 - Migalhas nº 2.744 - Fechamento às 10h41.




Fotos da Semana









Poemartemanhas

       indomáveis    ( william soares)

brincam potros indomáveis
no vasto campo da fala
enquanto palavras dançam
na corda bamba do verso

  
william soares lançou seu livro Estado de Garça. Eis a capa:




Filosofando

“A arte é uma mentira que revela a verdade”  Pablo Picasso

domingo, 4 de setembro de 2011

DEBATE ABERTO

O mercado “pensa”, o mercado “avalia”, o mercado “propõe”, o mercado “desconfia”, o mercado “sugere”, o mercado “reage”. E aí sim, de vez em quando, o tom de voz sobe e o mercado “exige”!! E, aos poucos, o que era antes um sujeito, o indivíduo “mercado” também vai ganhando ares de divindade.

Paulo Kliass
Uma das inúmeras lições que a atual crise econômica tem a nos oferecer é a possibilidade de compreender um pouco melhor os mecanismos de funcionamento da economia capitalista em sua fase de tão ampla e profunda internacionalização financeira. Depois de baixada a poeira e dado o devido distanciamento temporal, imagino a quantidade de teses que serão desenvolvidas para tentar entender e explicar aquilo que estamos vivendo a quente pelos quatro cantos do planeta.

As alternativas de enfoque são muitas. A relação conflituosa entre os interesses do capital produtivo e os do capital financeiro stricto sensu. A autonomia – na verdade, uma quase independência – do circuito monetário em relação ao chamado lado “real” da economia. A contradição entre o discurso liberal ortodoxo patrocinado pelos dirigentes dos países mais ricos até anteontem e a prática atual de medidas protecionistas de seus próprios interesses nacionais. A postura inequívoca e amplamente expandida de defesa das vontades das grandes instituições financeiras em primeiro lugar, sempre às custas de cortes nos gastos orçamentários na área social voltados à maioria da população de seus países. A dita solidez das estruturas do mercado financeiro, agora tão confiável quanto a de um castelo de cartas. A perda completa de credibilidade das instituições financeiras, a exemplo das chamadas agência de rating, que passam a escancarar a sua relação incestuosa com setores econômicos. O fim do mito da chamada “independência” dos Bancos Centrais, cujas políticas monetárias estariam sendo implementadas de forma neutra e isenta, uma vez que baseadas em critérios técnicos e científicos (sic...) do conhecimento econômico acumulado. A falência das correntes que se apegavam às teorias chamadas da “racionalidade dos agentes” para buscar assegurar que não haveria o que temer com o funcionamento das livres forças de mercado, pois o equilíbrio entre oferta e demanda sempre apontaria a solução mais racional possível. E por aí vai. A lista é quase infindável.

Mas um elemento, em especial, chama a atenção em meio a essa enormidade de aspectos. E trata-se de algo importante, pois diz respeito à tentativa de legitimação de toda e qualquer ação dos poderes públicos na busca da saída para a crise econômica. Com isso procura-se fugir da conseqüência mais próxima em caso de fracasso: colocar em risco a sua própria legitimidade política. Ainda que nos momentos de maior tensão seja perceptível uma contradição entre os desejos dos representantes do capital financeiro e as possibilidades oferecidas pelos agentes do governo, no final quase tudo acaba se resolvendo no conluio entre o público e o privado. Nos bastidores do poder, a ação do Estado é ditada, via de regra, pelos interesses do capital.

Mas nas conjunturas de crise profunda, como a atual, passa a operar também a chamada opinião pública. Os temas de economia e de finanças, antes restrito às páginas dos jornais especializados, ganham as manchetes de capa e se convertem em preocupação de amplos setores da sociedade. A população se assusta, exige mais explicações, quer entender melhor! Porém, não se consegue tornar tão claros os mecanismos de funcionamento da dinâmica econômica em tão pouco tempo e em tão poucas linhas. E nesse momento ganham importância os interlocutores chamados a explicar: os economistas dos grandes bancos, os analistas das instituições financeiras, os responsáveis pelas empresas de consultoria, enfim os chamados “especialistas”. Cabe a eles a tarefa de convencimento do grande público de que a crise é causada por este ou aquele fator, ou então de que as medidas anunciadas há pouco por um determinado Ministro da Economia são ou não adequadas para resolver os problemas a que se propõem.

E aqui entra em campo um elemento essencial na dinâmica do discurso. Uma entidade que passa a ser reverenciada em ampla escala, coisa que era antes reduzida a uma platéia restrita. Trata-se do famoso “mercado” – muito prazer!. Um dos grandes enigmas da história da humanidade, tanto estudado e ainda tão pouco desvendado em seus aspectos essenciais, passa a ser tratado como um ser humanizado, um quase indivíduo. Isso porque para justificar a necessidade das decisões duras e difíceis a serem tomadas - sempre às custas de muitos e para favorecer uns bem poucos – recorre-se às opiniões de “alguém” que conheça, que assegure que não há realmente outra solução. Tem-se a impressão de que o mercado vira gente, um dos nossos!

As matérias dos grandes jornais, as páginas das revistas de maior circulação, os sítios da internet, os programas na televisão e no rádio, enfim, por todos os meios de comunicação passamos a conhecer aquilo que nos é vendido como sendo a opinião dessa entidade, dessa quase-pessoa. As frases e os estilos podem variar, mas no fundo, lá no fundo, tudo é sempre mais do mesmo. Recorrer a um mecanismo que beira a abstração para justificar as medidas mais do que concretas. Fazer um chamamento a uma entidade externa, com ares de messianismo e divindade, para convencer de que as proposições - expostas numa linguagem e numa lógica incompreensíveis para a maioria - são realmente necessárias. Sim, sim, é preciso também ter fé! Pois em caso contrário, aquilo que nos espera é ainda pior do que o péssimo do vivido agora. Será o caos!

É o que tem acontecido na atual crise da dívida norte-americana ou na seqüência dos diversos capítulos da crise dos países da União Européia. O mercado “pensa”, o mercado “avalia”, o mercado “propõe”, o mercado “desconfia”, o mercado “sugere”, o mercado “reage”. E aí sim, de vez em quando, o tom de voz sobe e o mercado “exige”! E depois o mercado “ameaça”. O mercado “cai”, o mercado “sobe”, o mercado “se recompõe”. O mercado “se sente inseguro”, o mercado “fica satisfeito”, o mercado “comemora”. O mercado “não aceita” tal medida, o mercado “se rebela” contra tal decisão.

E assim, à força de repetir à exaustão essa fórmula aparentemente tão simples, o que se busca, na verdade, é fazer um movimento de aproximação. Tornar a convivência com um ser que conhece de forma tão profunda a dinâmica da economia um ato quase amical e familiar para cada um de nós. Mas o “mercado” - sujeito de tantos verbos de ação e de percepção - não tem nome! Ele não pode ser achado, pois o mercado não tem endereço. Ele não pode ser entrevistado, pois o mercado nunca comparece fisicamente nos compromissos. Ele tampouco pode ser fotografado, pois o mercado não tem rosto. O que há, de fato, são uns poucos indivíduos que fazem a transmissão de suas idéias, de seus pensamentos, de seus sentimentos. São verdadeiros profetas, que têm o poder de fazer a interlocução entre o “mercado” e o povo. Pois, não obstante a tentativa de torná-la íntima de todos nós, essa entidade não se revela para qualquer um.

Ele escolhe uns poucos iluminados para representá-lo aqui entre nós. Como se, estes sim, tivessem a procuração sagrada para falar em seu nome e representar aqui seus interesses. E aos poucos o que era antes um sujeito, o indivíduo “mercado” também vai ganhando ares de divindade. Tudo se passa como ele se manifestasse exclusivamente por meio de seus oráculos, os únicos capazes de captar e interpretar o desejo do deus mercado. Pois ele pensa, fala, acha, opina, mas não se apresenta para um aperto de mão, ou mesmo para uma prosinha que seja, para confirmar o que andam falando e fazendo em seu nome aqui pelos nossos lados.

Mas, apesar de toda evidente fragilidade da cena construída, não há como contestá-la. O mercado é legitimado por quem tem poder de legitimar. O discurso dos que não acreditam e dos que desconfiam não chega à maioria. Sim, pois aqui tampouco pode haver espaço para a dúvida. Nenhuma chance para o ato irresponsável que seria dar o espaço para o contraditório. A única certeza é de que o mercado sempre tem razão. E ponto final. Assim, todos passam horas na angústia e na agonia para saber como o mercado “reagirá” na abertura das bolsas de valores na manhã seguinte ou para tentar antecipar como o mercado “avaliará” hipotéticas medidas anunciadas para as transações de câmbio na noite da véspera.

O resultado de toda essa construção simbólica pode ser sintetizado na tentativa do convencimento político e ideológico dos caminhos escolhidos para a solução da crise. O mercado “alertou”, o mercado “ponderou”, o mercado “pressionou”, o mercado “exigiu”. E, finalmente, o mercado “conseguiu”. Por todo e qualquer lado que se procure, tentam nos convencer que não havia realmente outra forma possível de evitar o pior dos mundos. Como somos todos mesmo ignorantes em matéria de funcionamento dessa coisa tão complexa como a economia, somos chamados a delegar também as formas de solução para a crise. E, como sempre acontece em nossa tradição, estamos às suas ordens, Dotô Mercado...


Paulo Kliass é Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, carreira do governo federal e doutor em Economia pela Universidade de Paris 10.

Fonte: Carta Maior.








Acontecendo em Teresina

Manisfestação contra o aumento da passagem de ônibus urbano de Teresina







Todas as fotos do protesto dos estudantes de Teresina são de autoria de Maurício Pokemon.


Ayn Rand




“Quando você perceber que para produzir precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos contra você; quando perceber que a corrupção é recompensada e a honestidade se converte em auto-sacrifício, então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada”. 
Ayn Rand, nascida Alissa Zinovievna Rosenbaum. 
(*São Petersburgo, 02.02.1905 - Nova Iorque, 06.03.1982)




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Foto da Semana


Foto: Maurício Pokemon

domingo, 21 de agosto de 2011

Trecho do Livro Questão de Arte - Cristina Costa



“Habitamos um mundo que vem trocando sua paisagem natural por um cenário criado pelo o homem, pelo qual circulam pessoas, produtos, informações e principalmente imagens
E, se temos que conviver diariamente com essa produção infinita, melhor será aprendermos a avaliar essa passagem, sua função, sua forma e, seu conteúdo, o que exige nossa sensibilidade estética. Só assim poderemos deixar de ser observadores para nos tornarmos espectadores críticos, participantes e exigentes.”  Cristina Costa



 

Foto da Semana

Pescador - Rio Prnaíba(Velho Monge) Teresina, Piauí





Cantinho do Haikai
Teresina aniversaria (159 anos) e o mais lírico dos nossos poetas traduz tudo em três versos. Cinéas Santos

DESDE SEMPRE
no cotidiano da cidade
o dia eterno se inaugura
alegre rumorejar de flores
          ( Elias Paz e Silva)



Acontecendo em Teresina

Foto: Arquivo Cícero Manoel

Exposição TODAS AS CORES DE TERESINA
Em cartaz até o dia 06 de setembro
ESPAÇO CULTURAL SÃO FRANCISCO
Bairro Mafuá
www.ecfrancisco.xpg.com.br



Desenho Artístico de Gabriel Archanjo

Gabriel Archanjo rasbiscou Paulo Tabatinga - Obrigado, me caro! ficou melhor que eu! 



Poemartemanhas

QUANDO OS PÁSSAROS 


                              (Luiz de Freitas)

      Quando os pássaros
     pousarem em meu quintal
     e se alimentarem das sementes
     parcas, que eu lancei,
     ah, Senhor! eu quero estar
     para ver, eu quero estar
     para ver.
Eu, aqui do Blog, ofereço essa ao meu querido Tizé. Abraços embriagados de poemas!





Filosofando

O cinema é uma cultura da superestrutura capitalista. (Glauber Rocha, Revisão crítica do cinema brasileiro, p.37)



Fotopoema



segunda-feira, 15 de agosto de 2011

TERRORISTA LOURO DE OLHOS AZUIS - Frei Beto

Preconceitos, como mentiras, nascem da falta de informação (ignorância) e excesso de repetição. Se pais de uma criança branca se referem em termos pejorativos a negros e indígenas, judeus e homossexuais, dificilmente a criança, quando adulta, escapará do preconceito.

A mídia usamericana incutiu no Ocidente o sofisma de que todo muçulmano é um terrorista em potencial. O que induziu o papa Bento XVI a cometer a gafe de declarar, na Alemanha, que o Islã é originariamente violento e, em sua primeira visita aos EUA, comparecer a uma sinagoga sem o cuidado de repetir o gesto numa mesquita.

Em qualquer aeroporto de países desenvolvidos um passageiro em trajes islâmicos ou cujos traços fisionômicos lembrem um saudita, com certeza será parado e meticulosamente revistado. Ali reside o perigo... alerta o preconceito infundido.

Ora, o terrorismo não foi inventado pelos fundamentalistas islâmicos. Dele foram vítimas os árabes atacados pelas Cruzadas e os 70 milhões de indígenas mortos na América Latina, no decorrer do século 16, em decorrência da colonização ibérica.

O maior atentado terrorista da história não foi a queda, em Nova York, das torres gêmeas, há 10 anos, e que causou a morte de 3 mil pessoas. Foi o praticado pelo governo dos EUA: as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945. Morreram 242.437 mil civis, sem contar as mortes posteriores por efeito da contaminação.

Súbito, a pacata Noruega – tão pacata que, anualmente, concede o Prêmio Nobel da Paz – vê-se palco de dois atentados terroristas que deixam dezenas de mortos e muitos feridos. A imagem bucólica do país escandinavo é apenas aparente. Tropas norueguesas também intervêm no Afeganistão e deram apoio aos EUA na guerra do Iraque.

Tão logo a notícia correu mundo, a suspeita recaiu sobre os islâmicos. O duplo atentado, no gabinete do primeiro-ministro e na ilha de Utoeya, teria sido um revide ao assassinato de Bin Laden e às caricaturas de Maomé publicadas pela imprensa escandinava. O preconceito estava entranhado na lógica ocidental.

A verdade, ao vir à tona, constrangeu os preconceituosos. O autor do hediondo crime foi o jovem norueguês Anders Behring Breivik, 32 anos, branco, louro, de olhos azuis, adepto da fisicultura e dono de uma fazenda de produtos orgânicos. O tipo do sujeito que jamais levantaria suspeitas na alfândega dos EUA. Ele "é dos nossos”, diriam os policiais condicionados a suspeitar de quem não tem a pele suficientemente clara nem olhos azuis ou verdes.

Democracia é diversidade de opiniões. Mas o que o Ocidente sabe do conceito de terrorismo na cabeça de um vietnamita, iraquiano ou afegão? O que pensa um líbio sujeito a ser atingido por um míssil atirado pela OTAN sobre a população civil de seu país, como denunciou o núncio apostólico em Trípoli?

Anders é um típico escandinavo. Tem a aparência de príncipe. E alma de viking. É o que a mídia e a educação deveriam se perguntar: o que estamos incutindo na cabeça das pessoas? Ambições ou valores? Preconceitos ou princípios? Egocentrismo ou ética?

O ser humano é a alma que carrega. Amy Winehouse tinha apenas 27 anos, sucesso mundial como compositora e intérprete, e uma fortuna incalculável. Nada disso a fez uma mulher feliz. O que não encontrou em si ela buscou nas drogas e no álcool. Morreu prematuramente, solitária, em casa.

O que esperar de uma sociedade em que, entre cada 10 filmes, 8 exaltam a violência; o pai abraça o filho em público e os dois são agredidos como homossexuais; o motorista de um Porsche se choca a 150km por hora com uma jovem advogada que perece no acidente e ele continua solto; o político fica indignado com o bandido que assaltou a filha dele e, no entanto, mete a mão no dinheiro público e ainda estranha ao ser demitido?

Enquanto a diferença gerar divergência permaneceremos na pré-história do projeto civilizatório verdadeiramente humano.

Frei Betto, Escritor e assessor de movimentos sociais  )




Foto da Semana






Fotopoema






Acontecendo em Teresina


Fonte: Diário do Povo do Piauí - Garimpado pelo poeta Ricardo Batista


Poemartemanhas


Bilhete
                                         Mário Quintana

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda




Filosofando

"Lá vão os ladrões grandes a enforcar os pequenos"  (sermão do bom ladrão - Padre Antônio Vieira




Cantinho do Haikai

viver é super difícil
o mais fundo
está sempre na superfície
Paulo Leminski

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Filosofando Em Piauiês - Edmar Oliveira

Tenho ido vez em quando na terra. Nos terrais de Teresina. Nos quintais. Nos bares. A cerveja continua a mais gelada do Brasil. Só tem “empoada”. Na farinha, dizem outros. O diabo vem engarrafado numa nuvem de gelo e névoa, que o garçom (todos tem a mesma técnica) sacode pra cima e pra baixo, assopra no fundo, não congela, e tem o melhor gosto de cerveja gelada do planeta.


Mas se a cerveja continua gelada, o calor da cidade vai aumentando. Da última vez que fui, desesperei-me. Sem ter companhia e nada a fazer (minhas referências estão esmaecendo, quase já não as tenho) fui a um restaurante tomar uma, como se diz por aqui. Com tira-gosto de panelada, que ninguém é de ferro, sorvia a bicha (o trocadilho é por conta da parada gay que aqui se faz também e acontecia). Ao pagar a conta para continua a beber noutras paragens (que aqui só se faz isso), caminhei na rua sem saber que antes estava num ar condicionado. Sem nada a condicionar o diabo da rua vermelhidou. A sensação térmica dos meteorologistas estava nuns quarenta e tantos. Eu nunca tinha sentido tanto calor. E arreparem que sou da terra, dos quintais. Criado com o sol do equador, suas filhas, tudo em cima de mim. Mas não me agüentava. Fervia e a sensação de estar perto do inferno foi aumentando. Me perguntava o que podia esquentar Teresina tanto assim!


Sorte que encontrei logo ali no bar do Esdras (no Clube dos Diários, na Pedro II) o poeta, fotógrafo e filósofo Paulo Tabatinga. Comentando a situação de Teresina esquentar mais a cada ano, Tabatinga filosofou: “culpa das mulheres e da televisão. Pra ter mais tempo de ver TV, as mulheres não querem mais perder tempo em varrer os quintais. E elas são fofoqueiras! Se a vizinha não varrer seu quintal cai na boca da outra. Então – filosofou o mestre – para não ter folhas nos quintais elas mandam cortar as árvores. Aí o sol se esquenta mais. Só isso. Culpa das mulheres, da fofoca e da televisão!”.

Faz sentido...



Foto da Semana



Fotopoema



Acontecendo em Teresina

Joca Oeiras diz Coca-Cola faz propaganda enganosa ao vender refrigerante de caju Crush como cajuína
Efrém Ribeiro
Da Editoria Geral

Ao fazer campanha contra o uso do nome cajuína em um refrigerante na empresa Coca-Cola, o artista plástico e escritor Joca Oeiras disse que sua ação foi de levantar a bandeira da defesa de um patrimônio cultural do Piauí. “Não apenas um patrimônio cultural, pois se trata de uma atividade que dá sustento há inúmeras famílias piauienses”, falou Joca Oeiras.

Joca Oeiras, que mora em Oeiras, a primeira capital do Piauí, iniciou uma campanha em virtude da Coca-Cola, representada pela empresa Norsa no Estado, no Ceará em em outros Estados nordestinos, lançou um refrigerante de caju chamado Crush-Cajuína.

Para Joca Oeiras, a Coca-Cola pratica propaganda enganosa ao dizer que o Crush tem sabor de cajuína, como consta do rótulo do “Dizer que o Crush tem sabor de cajuína, como consta do rótulo da beberagem, e fazer propaganda do refrigerante chamando-o Crush-Cajuína considero isto inaceitável, mais ou menos como fazer pastel de carne de gato e dizer que se trata de carne de gado. Isso se chama propaganda enganosa”, falou o artista.

Meio Norte O que levou o senhor a fazer a campanha contra a Coca-Cola?

Joca Oeiras – A Coca-Cola, além de ser uma potência industrial, é um ícone fortíssimo do chamado imperialismo norte-americano e, do jeito que a pergunta foi formulada parece que eu, talvez até por bravata, tomei a iniciativa de mexer, com vara curta, com aquele temido leão. Desculpe a franqueza, mas a pergunta é equivocada. Longe de mim fazer campanha contra a Coca Cola. Levantei, sim, a bandeira da defesa de um patrimônio cultural do Piauí. Aliás, não apenas cultural pois se trata de uma atividade que dá sustento a inúmeras famílias piauienses.
Meio Norte - Qual foi a resposta das pessoas?
Joca Oeiras - Sobre a reação das pessoas eu fiquei, inicialmente, muito preocupado pois, as que podiam fazer alguma coisa, a maioria absoluta delas fingia que não ouvia. Creio que estas autoridades se encontravam (e muitas ainda estão) perplexas. Mas, aos poucos, fui recebendo apoios importantes como o dos professores Cineas Santos e Fonseca Neto; do jornalista e proprietário do Portal Acessepiauí, Cantídio Filho; da cantora e compositora Patrícia Méllodi, que criou no twitter a hashtag #acajuinaenossapiaui; a campanha ganhou um poema do grande poeta e compositor Climério Ferreira (A cajuína cristalina do cariri?/A cajuína cristalina é de Teresina, Piauí/Tem coisa que não rima/Tem coisa que não rola/A cajuína da coca não cola). Mais ainda, estava marcada para sexta-feira, uma reunião na sede do Ministério Público do Piauí, para onde foram convidados representantes da Fundac (Fundação Cultural do Piauí) ao e do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Devo, também, agradecer ao Jornal Meio Norte por ter publicado, na coluna Informe, a minha carta-aberta. O senador Wellington Dias pediu a seu assessor Wellington Soares, que eu lhe enviasse subsídios para um discurso que pretende fazer na tribuna do Senado.

Meio Norte - Quais os próximos passos da campanha?

Joca Oeiras – Quanto à continuidade da campanha, isso não depende só de mim, isto é, por mais chato e teimoso que eu seja, e reconheço que sou, não tenho a menor condição, nem vontade, de prosseguir sozinho. Acho, no entanto, que a próxima semana será decisiva para a gente saber com quem contamos. O professor Cineas Santos pensa em organizar Festivais da Cajuína itinerantes nas cidades onde haja uma expressiva quantidade de produtores de cajuína, uma ideia interessante que precisa ser melhor trabalhada no médio prazo.

Meio Norte - Por que a cajuína é piauiense? Não existe cajuína no Ceará?

Joca Oeiras – Outro dia ouvi dizerem que a cajuína só é piauiense porque o Caetano fez aquela música (linda, por sinal). Conheci o Piauí, e a cajuína, bem depois da música ter feito sucesso. Não digo que a composição não tenha ajudado neste processo identitário mas acredito que, para além disso, os piauienses, há muito tempo, a consideram parte de seu patrimônio cultural, isto é, que, para além da rima, Caetano, na sua sensibilidade, percebeu esta vinculação. Mas não o que me move não é nenhum sentimento bairrista ou nacionalista. Acredito que, para uma parcela dos cearenses, a cajuína faz, também, parte do seu patrimônio cultural e não vejo nada de errado nisso.

Meio Norte - O que uma empresa pode fazer para usar a marca Cajuína?

Joca Oeiras –.Pergunta facílima de responder: para poder dizer que para fazer cajuína, a empresa ou empresário precisa, apenas, fazer cajuína, isto é, fabricar artesanalmente uma bebida sem álcool, clarificada e esterilizada, preparada a partir do suco de caju, no interior da embalagem, apresentando uma cor amarelo-âmbar resultante da caramelização dos açúcares naturais do suco. Quem faz isso, tem legitimidade para usar o nome cajuína, senão ...

Meio Norte O que o senhor achou da atitude da Coca-Cola em se apropriar da marca cajuína?

Joca Oeiras – Jamais acusei a Coca Cola Norsa de ter buscado patentear a marca cajuína, isto não ocorreu e eles mesmos esclareceram que não se trata disso. Dizer que o Crush tem sabor de cajuína, como consta do rótulo da beberagem, e fazer propaganda do refrigerante chamando-o Crush-Cajuína considero inaceitável. É mais ou menos como fazer pastel de carne de gato e dizer que se trata de carne de gado. Isso se chama propaganda enganosa.

Fonte: Blog do Efrém



Poemartemanhas

A CRIAÇÃO da XOXOTA poema de mario quintana 

Sete bons homens de fino saber
Criaram a xoxota, como pode se ver:

Chegando na frente, veio um açougueiro
Com faca afiada deu talho certeiro. 

Um bom marceneiro, com dedicação
Fez furo no centro com malho e formão.

Em terceiro o alfaiate, capaz e moderno
Forrou com veludo o lado interno.

Um bom caçador, chegando na hora
Forrou com raposa, a parte de fora.

Em quinto chegou, sagaz pescador
Esfregando um peixe, deu-lhe o odor. 

Em sexto, o bom padre da igreja daqui.
Benzeu-a dizendo: “É só pra xixi!”

Por fim o marujo, zarolho e perneta
Chupou-a, fodeu-a e chamou-a…
Buceta!

                                          Enviada por Alexandre Carvalho



Filosofando

"Só no coração sempre do poeta é que não vão depressa os que vão"    Frederico Scmidt (1906-1965)



Trecho de Livro


“É engraçado como certas palavras parecem, ultimamente, ter mudado de sentido ou, pelo menos, parecem não significar a mesma coisa para todos. Os meios de comunicação se multiplicaram, um número enorme de informações circula, no entanto, no entanto, parece que, cada vez mais, falamos línguas diferentes. Isso acontece, em parte, porque, hoje, as informações e rapidamente divulgadas. Temos pouco tempo para ouvir as mensagens, compreender e assinalar seus significados. Em parte, porque existe uma grande diversidade de fontes de informação disputando a atenção do público para suas mensagens o máximo de tempo possível.”
                      (Cristina Costa, Questão de Arte, Ed.Moderna.pg.7)



Cantinho do Haikai
                        
                       Jorge Fonseca Júnior

Nesta catedral,
quando arde o sol, toda tarde,
sangra este vitral

domingo, 31 de julho de 2011

Falar Merda - de Harry G. Frankfurt

Resenha do livro Falar Merda de Harry G. Frankfurt

Resumo: Sobre falar merda apresenta uma aproximação na busca de significado da prática cotidiana em nossa cultura de falar merda. Visto por Frankfurt não existir uma teoria específica para o ato. Em sua obra propõe a essência do falar merda , finalizando com a resposta possível para as pessoas falarem tanta merda. Uma tentativa de não falar merda. Uma das marcas mais visíveis de nossa cultura é que se fale tanta merda. Sobre Falar Merda é o que Harry G. Frankfurt busca em seu livro. Na intenção de um possível significado sobre a merda falada rotineiramente, sem cair também no pecado e falar ao mesmo tempo merda. Falar merda é uma prática cotidiana, a pergunta que manifesta o autor, é que objetivo impulsiona o ser para que este artifício prolifere na sociedade. No desenvolvimento coerente do livro o autor explora algumas aproximações no conceito de falar merda. A falação, a mentira, o blefe. Mais próximo do blefe, por envolver tapeação, e não tão próximo da mentira. O falar merda apesar da falta de preocupação com a verdade, não é necessariamente um afirmação falsa. A falação aproxima-se do conceito de falar merda, pela característica da falta de exatidão com a verdade, e seu vazio sem substância. O exemplo deste último pode-se observar um grupo que promove falação sobre desempenho de seu time de futebol preferido. Manifestam idéias e atitudes, não necessariamente revelando suas crenças ou sentimentos profundos. É notável a originalidade de Frankfurt ao expor a merda, e não impostura, expelida em momentos da comunicação. Não permite inclinar-se a vulgaridade que possa remeter a expressão. Trata-se de um fenômeno lingüístico. Leva análise da falta de preocupação das pessoas na estrutura do discurso , não pela sua composição gramatical, mas exclusão de detalhes em fatos pertinentes. Ter em mente que se fala merda requer atenção e disciplina, um esforço interior, sugere o autor. No avançar das palavras, o leitor coloca sua expressão em auto-análise, na busca de indícios de um falador de merda. Cada indivíduo faz sua parte no que diz respeito ao assunto. Portanto o autor adquire profundidade e abrangência a todos que fazem uso da linguagem, escrita ou oral, na arena das relações humanas. Claro, aqueles que primeiramente identificam o problema. Na arena da propaganda, meio de informação e principalmente na política, pode ver muito do falar merda. Engloba muitas vezes não só a mentira, como diz a grande massa, pois alguns não têm a mínima idéia de buscar ou conhecer a verdade. Logo não mentem, falam merda, para conquistar coisas. O caminho por este artifício proporciona mais liberdade a quem fala. Não necessita todo rigor, toda estrutura quando se argumenta na busca da realidade. Além do excremento quando expelido ganhar misteriosamente um afeto se comparado a mentira. Essa última quando disparada representa um ofensa pessoal, uma afronta, o que desagrada as pessoas, que revelam preferir a tapeação. O ato de falar merda, alerta Frankfurt, é pior que a mentira. Visto anteriormente que as pessoas são mais relevantes para esta prática. No entanto o autor argumenta perfeitamente esclarecendo. Enfim, a resposta da questão de Harry G. Frankfurt, finalizando corretamente sua hipótese, porque se fala tanta merda. Na atual estrutura da sociedade, individualista, competitiva e democrática as pessoas são diariamente bombardeadas com situações inusitadas. O todo deve posicionar-se sobre questões que o envolvem. Normalmente reside na arena de discurso a total falta de conhecimento do fato em questão. O tema cruza muitas vezes pelo nosso cotidiano. Mas pela total descrença de possibilidades objetivas nunca fora dado atenção. Antigamente chamávamos esta prática de encher lingüiça, reformulado por Frankfurt, percebe-se que a lingüiça contém em si miúdos, carne e gordura, logo nutrientes. Desmerecendo o uso desta, substituída por excremento, merda, que não traz absolutamente nenhum nutriente, nenhuma riqueza. Chega então à profundidade do autor, ao provocar este conjunto de pensamentos e revisões. Talvez seu objetivo fosse à observação e correção do vício de falar tanta merda.




Foto da Semana
Foto: Cinéas Santos




Acontecendo em Teresina




Fotopoema



Poemartemanhas



É PRECISO

                               IVO BARROSO


É preciso ser duro
Como a pedra
Como a pedra que parte
Como a parte da pedra
Que penetra a parede
E a parte
Como a rede que não vaza
Como o vaso que não quebra
Como a pedra que fende
O paredão da casa
E é preciso ser fraco
É preciso ter ciso
E simulacro  é preciso
Todos os dias vencer
Os deuses/pigmeus/Golias
É preciso ter cara
E ter coragem
É cada vez mais raro
Quem assim reage
É preciso ser duro
Como o muro
Como o muro
E é preciso ser doce
Como se anteparo
De vidro
O muro fosse
É cada vez mais raro
Ser duro e doce
Cada vez mais torpe
Ser apenas duro
Cada vez mais nulo
Ser apenas doce
Cada vez mais raro
Cada vez mais duro
Ser o muro e a nuvem
Como se um só fosse.


Filosofando


O homem natural é corrompido pela civilização – “Tudo está bem ao sair das mãos do autor; tudo degenera nas mãos dos homens” Rousseau